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Experiências podem propagar conceito sustentável para assentamentos rurais

postado em 22/05/2012 08:45
Rio de Janeiro - Embora não haja uma orientação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) sobre construções sustentáveis nos assentamentos rurais, exemplos pontuais mostram que esse conceito poderá, em breve, se propagar para todos os estados brasileiros.

Uma dessas experiências é o Programa Terra Sol, do Incra na Bahia, que visa a promover o turismo rural nos assentamentos agrários. Para isso, o Incra está reformando a sede de duas fazendas que se transformaram nos assentamentos de reforma agrária Baixão, em Itaetê, e Boa Sorte Una, em Iramaia, ambos na Chapada Diamantina. Uma terceira sede está em construção no município de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, que reúne cinco assentamentos. A ideia, disse o coordenador do Terra Sol na Bahia, Alberto Viana, é montar uma rede de meios de hospedagem para visitantes e turistas.
[SAIBAMAIS]
;Conseguimos incorporar ao projeto todos os requisitos de sustentabilidade que um meio de hospedagem pode ter;. Entre eles, destacou a energia solar e eólica (dos ventos), o biodigestor, a tinta à base de água, o aproveitamento de água da chuva, a coleta seletiva de lixo. No assentamento Eldorado, em Santo Amaro, um dos bangalôs está sendo adaptado para portadores de necessidades especiais, ;que também é um quesito de sustentabilidade;.

Outra preocupação é a incorporação da sustentabilidade social, a partir do mecanismo de autogestão dos empreendimentos pelas comunidades. ;Assim como usar o próprio material da região para decorar e instalar as pousadas. Agora, a gente vai entrar com o projeto de paisagismo contextualizado, para utilizar plantas nativas;. Duas das obras em reforma terão a parte física concluída em 15 dias. Alberto Viana acredita que no próximo verão todas as pousadas ecológicas já estarão funcionando, ;com plano de gestão solidária e negócio solidário implantado. Essa é a nossa meta;.

Os empreendimentos serão administrados pelos assentados. ;Quanto mais critérios de sustentabilidade tiver, mais demanda eles vão ter;. Os recursos obtidos com o turismo rural reverterão em benefício das comunidades e da manutenção das estruturas. Segundo Viana, a intenção do Incra/BA é levar esse tipo de construção sustentável também para as casas dos assentados rurais. O problema, acrescentou, ;é termos engenheiros e arquitetos com especialização na área de bioconstrução, que aproveite [garrafas] Pet, que aproveite materiais da região;. Ele lembrou que não há profissionais especializados nessa área nem no quadro do Incra nem terceirizados.

O superintendente do Incra no estado do Rio, Gustavo de Noronha, disse que embora não haja experiência no estado, a meta é introduzir o conceito de construções sustentáveis nos assentamentos fluminenses de reforma agrária. O processo, contudo, ainda não foi iniciado.

O que está em fase de implementação no Rio de Janeiro são projetos de desenvolvimento sustentável (PDS) nos assentamentos ambientalmente diferenciados. ;São dois projetos em fase de implantação. Uma das áreas já está com pedido de licenciamento ambiental. O nosso objetivo é, nos próximos anos, dar prioridade, no Rio de Janeiro, à criação de assentamentos ambientalmente diferenciados;, relatou Noronha. Segundo ele, nos projetos haverá construções sustentáveis. ;Nos PDS, essa preocupação existe;.

Outra experiência do Incra em termos de sustentabilidade foi feita em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) no Assentamento Trindade, localizado no município de Trindade do Sul (RS). Ela se refere à utilização de aquecimento solar para a limpeza da sala de ordenha. O sistema, copiado de iniciativa realizada pela Emater em Entre Rios do Sul, também no Rio Grande do Sul, trouxe ganhos para as cerca de 47 famílias que habitam o Assentamento Trindade. A energia solar beneficia hoje 22 famílias que trabalham em uma cooperativa que pertence ao assentamento.

O agricultor Adelfo Zamarchi, presidente da Cooperativa de Produção Agropecuária de Trindade do Sul, disse que a medida trouxe como principal benefício a economia de lenha ;e, principalmente, os cuidados com o meio ambiente;. Na medida em que o sistema permitiu aquecer a sala de ordenha sem derrubar a mata, os assentados começaram a cuidar da preservação do meio ambiente. ;A não destruir mais nada;.

Zamarchi estima que a tendência é que esse tipo de técnica sustentável se estenda para outros assentamentos do Incra. ;Como tem baixo custo - hoje R$ 500 fazem todo o processo do aquecimento -, o Incra poderia estender esse processo para todos. Seria benéfico para todo mundo, não só para salas de ordenha, mas para as próprias propriedades, para o uso de aquecimento de água para banho, cozinha, para tudo. Assim que tivermos condições, a ideia é levar também para as famílias o aquecimento solar;.

A técnica da Emater/RS Carmen Zanella contou que os assentados de Trindade resolveram levar para a comunidade o processo de aquecimento solar ao participar de uma excursão à cidade de Entre Rios. ;Quando viram a economia que o aquecimento para a limpeza das salas de ordenha traria, foi uma coisa fantástica;, disse Carmen. Foram usados na construção do sistema materiais recicláveis, como caixas de leite e garrafas PET. A Emater/RS e o Incra/RS estão trabalhando para que mais famílias de assentados implantem o sistema de aquecimento solar nas propriedades, ;porque o caso de Trindade ainda é em nível de cooperativa;, explicou.

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