Agência France-Presse
postado em 12/06/2012 13:26
Anapu - Manoel José Leite possui uma pequena fazenda orgânica em Anapu, no estado do Pará, e se prepara para introduzir culturas com baixo teor de carbono, uma mudança radical em uma região onde a agricultura por décadas devastou a floresta. Um dos grandes desafios da conferência da ONU Rio%2b20 será conciliar agricultura e meio ambiente: alimentar o mundo sem esgotar os recursos naturais, um dilema vivido pelo Brasil, potência agrícola e florestal."Nós aprendemos muito com o meio ambiente, nós entendemos o que significa reduzir as emissões de CO2 e sabemos que precisamos proteger a Amazônia", afirma Manoel, poeta e agricultor de 62 anos, que chegou na região em 1974, quando o governo militar incentivou sua colonização, abrindo a estrada Transamazônica que atravessa Anapu. "Só havia floresta, o governo queria colonizar: quanto mais cortávamos árvores, melhor. Se, na época, eu soubesse o que sei agora, teria sido diferente, teria protegido a floresta", disse. Hoje, ele defende a vegetação nativa e o cultivo de árvores frutíferas amazônicas: cacau, açaí e cupuaçu.
Manoel está envolvido em um projeto financiado pela Noruega e o Brasil, que ajudará 2.600 famílias na recuperação de áreas degradadas com culturas que aumentam a cobertura vegetal, ajudando assim a reduzir as emissões de carbono responsáveis pelo aquecimento global. "Queremos mostrar que a agricultura com baixa emissão de carbono é possível, equilibrando a preservação da floresta, a produção de alimentos e a qualidade de vida na Amazônia, onde vivem 25 milhões de pessoas", explica Lucimar Souza, do Instituto de Pesquisas sobre a Amazônia.
[SAIBAMAIS]Projetos semelhantes estão se proliferando na região. "Entre a Cúpula da Terra no Rio em 1992 e a Rio%2b20 hoje, passamos de uma produção desenfreada, com base na destruição da floresta, para a consciência de que este modelo não era sustentável", ressalta João Batista, coordenador da Fundação Viver, Produzir e Preservar. Mas ele admite que ainda há muito por fazer antes de acabar com as ondas de desmatamento nesta imensa região de difícil acesso.
Agora, a polícia do Instituto do Meio Ambiente (Ibama) realiza operações para deter 50 focos de desmatamento detectados por satélite na região de Anapu, município onde, em 2005, os proprietários de terras ordenaram o assassinato da missionária americana Dorothy Stang, que tentava preservar a floresta. "Com essas ações, temos diminuído significativamente o desmatamento nos últimos anos", afirmou Eduardo Lameira, responsável pela operação que envolve um helicóptero e veículos no terreno.
Estes esforços coincidem com o compromisso do governo em lidar firmemente com o desmatamento que, depois de destruir 27.000 km; de floresta em 2004, caiu para 6.400 km; em 2011. Até o momento, 80% da Amazônia está intacta. O Brasil aumentou sua produção de trigo, grãos e oleaginosas de 20 milhões de toneladas em 1974 para 160 milhões hoje, e se tornou um dos maiores exportadores de açúcar, carne e soja, que, após ocupar as terras disponíveis no sul, se volta para a Floresta Amazônica.
"Hoje sabemos que não podemos produzir como há 40 anos. Nós temos a tecnologia para recuperar áreas desmatadas no passado e praticar uma agricultura mais eficiente, que preserve o meio ambiente", afirma Sávio Mendonça, conselheiro da Embrapa, Instituto Estadual de Pesquisa Agropecuária. "Há bilhões de pessoas que sofrem com a fome no mundo e, em 15 anos, haverá bilhões a mais. Precisamos de respostas rápidas e globais", declarou Bruce Campbell, do Grupo Consultivo de Pesquisa Agrícola. "O Brasil pode ser líder nesta direção", concluiu.