Agência France-Presse
postado em 14/06/2012 14:09
Pará - Uma fábrica de chocolate à beira da estrada Transamazônica no estado do Pará (norte), perto da cidade de Medicilândia, funciona como um antídoto saboroso para o problema de desmatamento na Amazônia."Por décadas, a Transamazônica foi sinônimo de crimes contra o meio ambiente. Nós passávamos uma imagem de destruição da Amazônia que queremos mudar com esta iniciativa", conta Ademir Venturim, presidente da cooperativa de 40 pequenos produtores da "Fábrica de Chocolate".
[SAIBAMAIS]Sentado em frente à fábrica, junto ao muro de cor amarelo brilhante da marca "Cacauway", Ademir explica: "Para nós, a fábrica é uma experiência que pode ser replicada em toda a Amazônia: ao dar valor aos produtos da Amazônia, criar emprego e renda, poderemos promover o desenvolvimento econômico, social e ambiental desejado pela Rio%2b20".
A Conferência das Nações Unidas Rio%2b20 quer definir uma economia mais verde e mais social para o planeta, que inclua a proteção e restauração dos recursos naturais como a Amazônia, ainda virgem em 80%. Localizada no sudoeste do Pará, um dos estados que foi mais desmatado para dar lugar à agricultura e exploração madeireira, a fábrica começou a comercializar seus produtos em pequenas lojas da região.
"Alcançamos um mercado bem acima das nossas expectativas", comemora Ademir. Os sacos de cacau que são processados mantêm o nome do seu produtor: Enivaldo Andrade Pereira. "A fábrica é uma das melhores coisas que aconteceram na região", afirma Enivaldo, salientando que paga 50% mais do que os grandes produtores de chocolate do país.
Sua fazenda, o "Sítio Almeida", é um exemplo do que foi a história da região e de sua comunidade, que recebeu o nome de Emilio Garrastazu Médici, presidente entre 1969-1974, os anos mais duros de ditadura, e que planejou a construção da Transamazônica para colonizar a floresta.
O pai de Enivaldo chegou na década de 1970, incentivado pelo regime militar (1964-85) e, como muitos, ele desmatou a floresta para fazer pastos e plantações de cana de açúcar. Depois, passou a plantar o cacau. Esta área arborizada é cercada por pastagens e foi replantada com 12.000 pés de cacau intercalados por 400 pés de mogno e outras espécies amazônicas.
Cacau para a Áustria
Outra cultura que está ganhando terreno nesta região é o cacau orgânico. Ele é vendido pelo dobro do preço e tem acesso ao lucrativo mercado dos melhores chocolates internacionais. Darcirio Vronski é o pioneiro de uma cooperativa de 23 famílias que produzem o cacau orgânico, vendido ao fabricante austríaco Zotter.
"Depois de trocar a cana pelo cacau, fui muito criticado, mas aqueles que continuaram com a cana têm degradado a terra, enquanto a nossa terra tem se mantido incrivelmente fértil", comenta, com orgulho. O Estado do Pará é um dos maiores produtores de cacau, um produto da Amazônia que foi desenvolvido na região em detrimento da floresta, mas que hoje é visto como uma grande oportunidade para o reflorestamento.
"Antes, nós plantávamos destruindo a floresta, agora nós recuperamos áreas degradadas com produtos da Amazônia que fornecem renda para o produtor", explica Sebastião Augusto, professor na Universidade Federal do Pará. "O cacau precisa de sombra e o que se propõe agora é alternar sua cultura com a de outras árvores amazônicas como o mogno, a castanheira ou o ipê, plantas nativas", afirma João Batista, diretor de uma ONG que apoia a agricultura familiar.
O Brasil anunciou recentemente a menor taxa de desmatamento em sua história em 2011, 6.418 km2 após um pico de 27.000 km2 em 2004.