Rio de Janeiro - Cobrar aceleração no processo de demarcação das terras indígenas no país e fazer um contraponto ao modelo econômico e ao conceito de economia verde ; discutidos na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio%2b20) ; são os principais objetivos dos povos indígenas que se reuniram nesta sexta-feira (15/6) na tenda do Acampamento Terra Livre, na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro.
Em meio a muitas manifestações culturais ; como a das mulheres das etnias Macuxi e Wapichama, de Roraima, que apresentaram um tipo de música típica conhecida como parixara ;, eles reclamaram da violação ao seu direito à terra.
[SAIBAMAIS] De acordo com a diretora nacional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Sônia Guajajara, os indígenas podem mostrar ao mundo o que é ser sustentável por meio de suas práticas de uso da terra sem destruí-la.
;Estamos aqui para fazer um contraponto à Rio%2b20, para mostrar o nosso jeito indígena de ser sustentável. Muitas vezes o que se define como Economia Verde não é o que entendemos que representa a real harmonia com a natureza;, disse, durante uma coletiva de imprensa na manhã de nesta sexta-feira (15/6).
A representante da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, de Minas Gerais e do Espírito Santo (Apoinme), Ceiça Pitaguary, destacou que a lentidão na demarcação dos territórios indígenas leva muitas lideranças a serem criminalizadas por causa da retomada de terras tradicionais.
;Somente em Pernambuco, em apenas um povo, há 35 lideranças no banco dos réus por terem retomado suas terras. Primeiro nós queremos o direito à terra, e só depois as outras políticas públicas;, enfatizou.
A mesma preocupação foi manifestada pelo representante da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), Otoniel Ricardo. Segundo ele, mais de 200 lideranças indígenas morreram desde o ano passado por causa de conflitos ligados à terra no Sul. ;Nossos líderes estão morrendo e eu posso ser o próximo.;
O representante do Conselho Continental da Nação Guarani, que reúne indígenas da Bolívia, do Paraguai, da Argentina e do Brasil, Celso Padilha, convocou os povos de todas as etnias, independentemente do país onde vivem, para que unam forças e lutem pela preservação de seus territórios, de sua cultura e de seus costumes.
;Não podemos falar em desenvolvimento sustentável se não tivermos terra e autonomia. Temos que unir nossas mãos e dizer que não queremos esse modelo de economia verde. Não podemos negociar nossos costumes, nossas tradições, nossas terras;, ressaltou.
O líder indígena conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia, Cacique Raoni, da etnia Caiapó, também conclamou a união dos povos indígenas, principalmente dos jovens, na defesa de seus interesses coletivos.
;Temos que lutar e falar dos nossos problemas. Não podemos aceitar o que o homem branco tem feito ao nosso povo. Precisamos lutar pelos nossos direitos, pelas nossas terras. Enquanto eu estiver vivo, vou lutar;, enfatizou, sendo aplaudido por diversos participantes da cúpula.
O líder também criticou a construção de grande empreendimentos que trazem prejuízos aos territórios indígenas, como a Usina de Belo Monte.
Acompanhe a cobertura multimídia da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na Rio%2b20.