Agência France-Presse
postado em 15/06/2012 20:43
Rio de Janeiro - As negociações para um novo pacto global com vistas a proteger o meio ambiente e erradicar a pobreza devem se estender além do prazo, nesta sexta-feira, enquanto autoridades reconheciam enfrentar uma batalha na Rio%2b20 para selar um acordo antes da cúpula de chefes de Estado, na próxima semana.O documento final da cúpula "Rio%2b20", de 20 a 22 de junho, visa a abrir caminho para assegurar a preservação do meio ambiente e promover a economia verde.
Mas depois de cinco meses de debates, as negociações sobre o rascunho entraram no último dia previsto, esta sexta-feira, com acordo apenas sobre 28% do texto de 81 páginas.
[SAIBAMAIS]A responsabilidade por comandar as negociações deve ser transferida neste sábado ao Brasil, país que sedia a conferência, afirmou Nikhil Seth, da Divisão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. "É a esperança de todos que até o dia 19, no máximo, tudo esteja amarrado", acrescentou. "Há um sentimento de otimismo, mas em cada sala há também um sentimento de que o inmimigo agora é o tempo", afirmou Seth. "Não temos a intenção de entregar questões em aberto para os chefes de Estado. Pretendemos amarrar as negociações até o (dia) 19", reforçou o chefe da delegação brasileira, Luiz Alberto Figueiredo.
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável ocorre 20 anos depois da Cúpula da Terra, quando membros da ONU assumiram compromissos históricos para enfrentar as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a desertificação.
A aguardada chegada de 116 chefes de Estado e de governo encerrará uma semana marcada por eventos que reuniram 50 mil ativistas, homens de negócios e autoridades.
Avanços no documento têm sido contidos por desavenças, frequentemente contrapondo países ricos e em desenvolvimento. "Ainda ocorrem discussões vigorosas", afirmou o enviado especial americano para mudanças climáticas, Todd Stern, em teleconferência com jornalistas. "Ainda há muito pelo que lutar", acrescentou.
Entre os problemas está o estabelecimento de "Metas de Desenvolvimento Sustentável" para suceder os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, previstos para expirar em 2015, como encorajar a economia verde e angariar recursos para promover o desenvolvimento sustentável. Os países mais pobres defendem um fundo de US$ 30 bilhões ao ano.
Mas outro ponto de atrito é se e como reafirmar os "Princípios do Rio", estabelecidos na Cúpula da Terra, em 1992, segundo os quais os países têm "responsabilidades partilhadas, mas diferenciadas".
A frase foi criada para assegurar que os países pobres não tenham que carregar o mesmo fardo no enfrentamento dos problemas ambientais da Terra.
Mas Stern foi inflexível ao afirmar que ela pertencia a uma época em que a China e outros países, que hoje são gigantes economias emergentes, eram muito mais pobres e menos capazes de contribuir.
"A ideia, a frase, se interpretada como um muro entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, é completamente inaceitável para nós", afirmou.
A conferência transcorre sob o pano de fundo de um agravamento das crises ambiental e econômica nos países ricos, que afetaram diretamente a vontade política de fazer concessões.
"Essencialmente, perdemos 20 anos desde a Cúpula da Terra, em 1992, no Rio. O tema tem importância de primeira ordem, ainda que o mundo - e, especialmente, o sistema político - não reflita esta importância", afirmou Jeffrey Sachs, diretor do Instituto da Terra, na Universidade de Columbia, em Nova York, em entrevista ao blog da AFP (blogs.afp.com/geopolitics).
No Aterro do Flamengo, um encontro multicolorido da sociedade civil contou com a participação do cacique Raoni, 82 anos, que exibiu uma arma tradicional.
A "Cúpula dos Povos", inaugurada nesta sexta-feira, contará com várias manifestações, inclusive uma passeata que deverá reunir 50.000 pessoas em 20 de junho, quando a cúpula oficial da Rio%2b20 se inicia.