Rio mais 20

Ocidente deve reduzir seu apetite por consumo, diz chefe do PNUD

Agência France-Presse
postado em 18/06/2012 16:55
Nova York - Os países ricos devem reduzir seu alto consumo como parte de qualquer acordo para sanar as tensões sociais e ambientais do mundo, disse Helen Clark, chefe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) antes da cúpula da Rio;20, evento-chave para o desenvolvimento sustentável, realizada nesta semana no Brasil.

"Não precisamos de mais automóveis, mais televisores, mais de coisa alguma", declarou Clark durante uma entrevista concedida antes da cúpula daRio;20, que começa na quarta-feira (20/6).

Os 116 chefes de Estado e de Governo e sua população, rica ou pobre, enfrentarão o "caos", a menos que este encontro de três dias possa preparar as bases para um crescimento econômico que diminua a pobreza e preserve os recursos naturais, alertou a ex-primeira-ministra da Nova Zelândia. "Creio que há um alto nível de consciência de que o planeta está em perigo, para ser franca", disse Clark, que será uma das figuras mais importantes na conferência.

Os negociadores no Rio de Janeiro buscam nesta segunda-feira (18/6) um acordo sobre a declaração final. As diferenças entre ricos e pobres e entre Oriente e Ocidente sobre temas que vão de como definir a "economia verde" a como estabelecer novos objetivos de desenvolvimento globais têm marcado as negociações já há meses.

Clark insiste, entretanto, que todos os líderes estão de acordo sobre qual é o problema central: como assegurar um crescimento econômico que ajude os mais pobres, sem prejudicar ainda mais o meio ambiente, que está sendo "dilacerado sob os nossos pés".

"Portanto, a questão é como conseguir o desenvolvimento humano para as pessoas mais pobres do mundo e para a população dos países em desenvolvimento. Porque, francamente, (...) no Ocidente não precisamos de mais automóveis, mais televisores, mais de coisa alguma". "Nossas necessidades estão satisfeitas no geral, ainda que a recessão tenha gerado muitas tensões".

"Há, em minha opinião, uma responsabilidade muito grande dos países do norte de buscar uma maneira de manter seu estilo de vida com um impacto ambiental muito menor", acrescentou Clark.

Avançar em direção a uma "economia verde"


A criação de um novo índice para o progresso econômico para competir com o Produto Interno Bruto, e o impulso de uma "economia verde" (ou seja, a tomada de decisões econômicas que levem em consideração o impacto ambiental) são temas cruciais para Clark.



Há uma crescente campanha por parte de muitos governos, incluindo o do primeiro-ministro britânico, David Cameron, para usar uma medida mais ampla para o progresso econômico e humano para tomar decisões fundamentais.

O PNUD abordará no Rio a necessidade de novas medidas. O primeiro-ministro do Butão, Jigmi Thinley, irá falar do índice de "felicidade nacional bruta" do país. Segundo Clark, o PNUD incluirá fatores de sustentabilidade ambiental na nova versão de seu índice anual de desenvolvimento humano, prevista para o próximo ano.

Muitos países pobres observam com desconfiança a demanda do Ocidente de regras ambientais mais estritas nas negociações internacionais. De acordo com Clark, esses países veem a "economia verde" como um "protecionismo verde" que pode ser um empecilho para o seu desenvolvimento econômico. Contudo, Clark e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, argumentam que avançar em direção a uma economia verde pode ser uma fonte de crescimento, emprego, investimento e exportações.

Os 116 chefes de Estado e de Governo entendem o que está em jogo?

"Um bom número. No entanto, muitas vezes, nesses problemas, a política de curto prazo fica no caminho", disse Clark. "Duvido que tenhamos alguém que diga ;Isso é completamente irrelevante para mim; porque todo mundo sabe que é relevante". "A economia mundial não é o que já foi. As sociedades estão sob muita tensão", afirmou Clark.

"A combinação tóxica entre a queda dos rendimentos, distúrbios sociais e degradação do meio ambiente: essa é a realidade. Temos um problema comum. Precisamos ter uma visão compartilhada de como abordá-lo".

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