Rio mais 20

Inclusão é a chave para um Rio sustentável, dizem especialistas

Agência France-Presse
postado em 18/06/2012 17:07
Rio de Janeiro - Para que o Rio de Janeiro seja uma cidade sustentável e justa precisa ser inclusiva, e megaeventos como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 podem ser uma oportunidade para integrá-la, concluíram nesta segunda-feira (18/6) especialistas em um evento da Fundação Ford, paralelo à Rio;20.

"Nós, da administração municipal, consideramos que megaeventos como a Copa do Mundo, a própria Rio;20, os Jogos Olímpicos, representam uma grande oportunidade para a cidade (...) Eu chamaria atenção para os enormes investimentos em urbanização nas nossas favelas (...), no sistema de transportes (metrô, sistema de trens, BRTs), visando melhorar muito a mobilidade e a integração em nossa cidade", afirmou à AFP Jorge Bittar, secretário municipal de Habitação.[SAIBAMAIS]

"Em muitos casos, sediar megaeventos, marcados pela movimentação especulativa de capital financeiro (...), significa que estas operações são feitas porque abrem espaço a investimentos imobiliários internacionais, criando importantes problemas para os moradores", rebateu a urbanista Raquel Rolnik, relatora especial das Nações Unidas para o Direito à Moradia Adequada, autora de um relatório sobre o impacto de megaeventos na habitação, apresentado em 2010 ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Rolnik citou como exemplo os preparativos para a Copa do Mundo na África do Sul e para os Jogos da Commonwealth na Índia, ambos em 2010. "Agora, novamente, na preparação do Brasil para a Copa do Mundo, há partes importantes das cidades compostas por assentamentos informais, alvos preferenciais de remoção para abrir espaço para projetos de infraestrutura, às vezes construção de estádios", acrescentou. "Infelizmente, vejo um padrão muito discriminatório" nas obras preparatórias para estes eventos, concluiu Rolnik.

Para Luis Urbiñas, presidente da Fundação Ford, os assentamentos informais, como as favelas precisam ser vistos mais como oportunidade do que como problema, e o que falta é reconhecer e formalizar esses espaços, integrando-os às cidades. "Visitar a favela é a experiência do emprendedorismo. Aquelas pessoas deixaram tudo o que tinham e vieram para este ambiente urbano sem nada. E do nada, elas criam lugares para viver, trabalhos, soluções de transporte. Isto é puro emprendedorismo individual, é pura energia criativa individual", relatou Urbiñas à AFP.

"Quando você vê favelas que são formalizadas, reconhecidas, aceitas, você vê muito mais oportunidades econômicas e de crescimento. As pessoas podem investir localmente", acrescentou, antes de destacar: "A diferença entre um bilionário e um favelado é tempo. A vontade está lá, a habilidade está lá, a energia está lá, o emprendedorismo está lá, o que falta é o reconhecimento".

De acordo com as Nações Unidas, 828 milhões de pessoas no mundo vivem em favelas. No Brasil, 6% da população (11 milhões) vivem em favelas e ocupações irregulares, segundo o censo de 2010 do IBGE. Só na região metropolitana do Rio de Janeiro, 1,7 milhão (14,4% da população) reside em aglomerados deste tipo.



Ainda de acordo com a ONU, as cidades e os governos locais têm um papel central no desenvolvimento sustentável, pois mais da metade dos 7 bilhões de habitantes do planeta vivem em áreas urbanas e o crescimento demográfico e a urbanização estão entre os principais impulsionadores das mudanças ambientais.

Os moradores das cidades usam 75% dos recursos naturais do planeta, segundo a organização. E este quadro deve se agravar, uma vez que a previsão é de que até 2050 o mundo registre a maior expansão urbana de sua história, com 3 bilhões de pessoas a mais vivendo em cidades.

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