Quem entra na casa da família Moss em Brasília nota logo quais são as paixões cultivadas pelas pessoas que ali habitam. Fotografias de viagens a países longínquos nas paredes, detalhes náuticos decorando as prateleiras da sala, miniaturas de aviões por todos os lados ; inclusive no teto. Gérard e Margi mostram-se à vontade na residência rodeada por árvores e cisternas que captam a água da chuva, mas não é preciso muito tempo para perceber que há outro ambiente onde eles também gostariam de estar: a bordo de uma aeronave.
Entre outubro de 2003 e dezembro de 2004, os dois coletaram 1.160 amostras de água doce de 524 rios, lagos e reservatórios espalhados pelo vasto território brasileiro. Utilizaram recurso inédito nessa empreitada: um avião anfíbio, que apelidaram de Talha-mar ; homenagem à ave pescadora da família Laridae. Esse arriscado projeto recebeu o nome de Brasil das Águas. Lá do alto, o aviador e ambientalista Gérard Moss ainda enxergou desagradável realidade: ;O desmatamento criminoso das florestas brasileiras é algo que me entristece. Além do mais, observamos muito descaso com a água;.
Enquanto Gerárd manobrava a aeronave ; um Lake Renegade com motor de 250 cavalos e equipado com sonda multiparamétrica ;, Margi Moss preparava o roteiro diário e se responsabilizava pelas amostras coletadas. Hoje essas provas ajudam pesquisadores de várias instituições nacionais e estabelecem parâmetros da qualidade das águas do país. A senhora Moss acredita que o trabalho realizado pelo casal ajuda no processo de conscientização coletiva: ;A água que chega à torneira das pessoas tem uma história. Se isso for considerado, cada um pode adotar medidas mais sustentáveis, de acordo com as necessidades da própria região;.
Diante dos possíveis riscos de racionamento em grandes centros urbanos brasileiros, Gérard e Margi esperam que a questão da água no Brasil seja, enfim, levada mais a sério. ;Precisamos de novas iniciativas, de estimular a população a ter mais cuidado com os recursos hídricos. E isso vale para os setores agrícolas também. O ponto positivo é que percebemos fazendeiros se esforçando para se adequar às leis. Um passo importante, sem dúvida.;
Novos ares
Desde 2007, Gérard e Margi Moss têm se dedicado a outro elemento crucial para os reservatórios brasileiros: a chuva. O projeto Rios Voadores explica que o processo homônimo, no qual massas de ar que carregam vapor d;água da Amazônia para Centro-Oeste, Sudeste e Sul, contribui com os índices pluviométricos nessas regiões. ;Apesar da distância, essas áreas se comunicam meteorologicamente. Portanto, a derrubada de árvores na floresta amazônica, que compromete a trajetória dos chamados rios voadores, traz consequências hídricas a cidades como Brasília, por exemplo. Daí a importância da preservação;, comenta ele.
Os dois ambientalistas sabem que os projetos que idealizaram podem servir de exemplos à juventude na hora de estimular hábitos ecológicos. Por isso, procuram oferecer oficinas para professores, que levam as devidas informações até a sala de aula. Estima-se que mais de 80 mil alunos já foram beneficiados diretamente por essas iniciativas. Segundo Margi, os estudantes compreendem que é preciso cuidar melhor da água para as próximas gerações: são os agentes motivadores ; ela diz ;, o nosso futuro.
Pioneirismo
O Talha-mar é a primeira aeronave no mundo homologada para realizar coleta de amostras de água.
Número
15.200 quilômetros cúbicos - quantidade aproximada de chuva no Brasil por ano.
Serviço
- Outras informações sobre os projetos Petrobras Brasil das Águas e Rios Voadores podem ser encontradas nos seguintes endereços:
- www.brasildasaguas.com.br
- www.riosvoadores.com.br