Ser Sustentável

Desafio mundial é preservar e saber distribuir a água do planeta

Estima-se que em 50 anos a população mundial duplicará, mas para especialistas, os recursos hídricos não precisam virar motivo de pesadelo

postado em 22/03/2014 10:21

Poço no interior da República do Quirguizistão: segundo as Nações Unidas, a cada 21 segundos uma criança morre por ingerir água contaminada

Em 12 de abril de 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin tornou-se o primeiro homem a viajar pelo espaço sideral. A bordo da nave Vostok 1, observou o planeta lá do alto e disse esta memorável frase: ;A Terra é azul, ela é incrível;. O que Gagarin viu foi uma esfera iluminada, repleta de rios e oceanos que cobrem mais de 70% da superfície.



Diante de tanta água, parecia inacreditável imaginar que essa abundante substância química composta de hidrogênio e oxigênio pudesse um dia representar enormes problemas de escassez para a humanidade. No entanto, segundo relatórios divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), atravessa-se hoje, principalmente nos países mais pobres, uma crise sem precedentes de distribuição dos recursos hídricos.

Estima-se que nos próximos 50 anos o número de pessoas que habitam a Terra duplicará. À medida que a população cresce, aumenta a demanda por água potável. Indústria, comércio, agricultura e residências poderão sofrer racionamentos prolongados que afetariam não somente camadas complexas da sociedade, como a economia, mas também simples tarefas cotidianas de qualquer indivíduo.

Para complicar ainda mais, estudos da ONU Água mostram que o aquecimento global pode fazer com que a captação de recursos hídricos seja comprometida. Cidades litorâneas seriam as primeiras a sentir o efeito, pois o derretimento das calotas polares aumenta o nível do mar e a salinidade afetaria os reservatórios de água própria para o consumo humano.

Thakkar defende ainda o princípio de que preservar apenas os recursos hídricos não resolve o problema. ;A água é uma entidade ecológica inserida em sistemas bem mais complexos. Se não cuidarmos do clima, das florestas, da terra, da biodiversidade de maneira geral, não teremos água limpa para consumir. E todos os habitantes do planeta têm responsabilidades nesse processo;, alertou.


Com o intuito de promover o compromisso de países nas questões que envolvem a água, a ONU tem apresentado projetos voltados para a conscientização de governantes e civis. No início do século 21, decidiu nomear o período entre 2005 e 2015 como a Década Internacional para Ação.


Entrementes, 2013 foi escolhido de maneira simbólica o Ano Internacional de Cooperação pela Água. ;Levar água limpa para todos os habitantes do mundo é uma prioridade internacional. Se melhorarmos o acesso à água, melhoraremos também a saúde e a educação das pessoas;, disse recentemente Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU.


Um dos fundadores do Conselho Mundial da Água, Lo;c Fauchon tem se entusiasmado com a presença significativa do público nos fóruns sobre sustentabilidade. ;Vejo milhares de participantes de diversos lugares do globo, entre eles chefes de Estado, ministros e figuras eminentes das ciências, o que me enche de esperança. Mostra que estamos, sim, preocupados com as condições do nosso planeta.;


Fauchon espera que as iniciativas adotadas em países desenvolvidos possam, em breve, ajudar nações que correm maiores riscos: ;Na França, 1% do imposto é direcionado a projetos de preservação da água. Com a tecnologia disponível nas regiões mais ricas e políticas adequadas, poderíamos reverter a frágil situação na qual nos encontramos;.


Expectativas

Então, pelo que se vê, o futuro será desolador? Apesar das inúmeras previsões catastróficas, percebe-se que a comunidade internacional tem buscado soluções a fim de impedir que as coisas fujam do controle. Para Himanshu Thakkar, coordenador de projetos hídricos na Ásia e colaborador da ONU, os países devem sempre pensar em parcerias sustentáveis se pretendem obter resultados significativos a curto prazo: ;Cooperação mútua, em todas as etapas do processo, é uma alternativa interessantíssima;.

780 milhões
de pessoas não têm acesso a água potável. Isso é mais de duas vezes a população dos Estados Unidos

99%
das mortes causadas por água contaminada ocorrem em países subdesenvolvidos

(Fonte: water.org)

Palavra de especialista

Ban Ki-moon - Secretário-geral da ONU

A população mundial não para de crescer e a agricultura precisa se expandir, a fim de produzir alimentos. Consequentemente, o consumo de água tem aumentado perigosamente. Temos que ter um cuidado muito específico com esse elemento crucial à vida humana. O esforço de todos nós é necessário para evitar que milhões de pessoas sofram com a falta de água nos próximos anos.

Irina Bokova - Diretora-geral da Unesco

O problema da água é uma responsabilidade mundial. Se quisermos viver com dignidade neste planeta, precisamos preservar nossas bacias hidrográficas. Mostra-se imprescindível uma participação efetiva de toda a sociedade.

Michel Jarraud - Secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial

Hoje, graças ao comprometimento de civis e governantes, a água é um item prioritário na agenda internacional. Espero que se continue a buscar soluções para os problemas de saneamento e distribuição. Cada etapa é importante.

História

Década Internacional para Ação (2005-2015) ; "Água, fonte de vida"

Coordenado pela ONU, o programa Década Internacional para Ação foi criado em dezembro de 2003, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas. Oficialmente, a década começou em 22 de março de 2005 ; Dia Mundial da Água. O foco principal dessa iniciativa é promover a cooperação internacional. Além disso, o objetivo é contribuir com os países a fim de atingir as metas propostas na Declaração do Milênio, na Declaração de Johannesburgo e na Agenda 21. O programa já ajudou cerca de 1,3 bilhão de pessoas nos países em desenvolvimento a obter acesso a água potável.

2013 ; Ano Internacional de Cooperação pela Água

Em dezembro de 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2013 como o Ano Internacional de Cooperação pela Água. A ideia contemplou ciências naturais e sociais, cultura, educação e comunicação, além do envolvimento de longo prazo com programas que contribuem para o manejo sustentável de fontes de água potável no mundo.

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