O vento batendo no rosto e o prazer em pedalar foi motivo suficiente para uma família adotar de vez a bicicleta como meio de transporte. Em meio às buzinas, aos engarrafamentos e aos mais de 1,5 milhão de automóveis andando nas ruas do Distrito Federal todos os dias, estas quatro pessoas assumiram um papel sustentável nas rotinas e, da maneira que podem, contribuem para preservar o meio ambiente. Mesmo o assunto não sendo novidade durante o jantar a pelo menos cinco anos, os olhares curiosos alheios ainda ficam surpresos com a história.
Tudo começou quando o servidor público Uirá Lourenço, 35, cursava biologia na Universidade de São Paulo (USP) na década de 1990. O então universitário ganhou dos pais o primeiro carro, ;como acontece com muitos jovens de classe média;, segundo ele. E, a partir de então, parte da vida na capital paulista aconteceu dentro de um automóvel. Cansado de perder tempo nas avenidas congestionadas de São Paulo, Lourenço teve a ideia de usar a bicicleta que estava encostada em um dos cômodos da residência. A locomoção sob duas rodas ; que começou no trajeto entre casa e universidade ;, hoje, estende-se a qualquer canto que ele vá.
O novo estilo de vida influenciou inclusive as relações pessoais. A esposa de Lourenço, Ronieli Barbosa, 33, teve que aceitar a ideia de se locomover apenas de bicicleta, mas não reclama da opção feita. ;Fui me adaptando aos poucos a fazer as coisas sem carro e com ele [Uirá] descobri como podia ser prazeroso fazer isso ao ar livre;, lembra. Apesar da pouca idade, os filhos do casal, Cauã Lourenço, 6, e Iuri Lourenço, 4, também não escaparam da decisão do pai e experimentaram o novo ritmo de vida.
Na contramão da praticidade e do conforto diários em andar de bicicleta, Lourenço e Ronieli criticam a forma como o meio de transporte é tratado no Brasil e, principalmente, em Brasília. Na capital do país existem 262km de ciclovias e ciclofaixas construídas ; número proporcionalmente mais expressivo se comparado com os 259km em São Paulo, e os 250km no Rio de Janeiro ;, mas segundo Lourenço, ;elas são mal sinalizadas, muitas estão esburacadas e não têm um percurso coerente. Às vezes, você está pedalando e a ciclovia acaba no meio do nada, no mato;.
Exemplo
Além dos problemas de infraestrutura, a falta de respeito dos motoristas de ônibus e de carro para com os ciclistas coloca em xeque a segurança dos usuários. Sempre munidos de capacete e sinalização nas bicicletas, a família já passou por situações de perigo enquanto pedalava. ;Uma vez, estávamos passeando com as crianças de noite e, por conta da má iluminação da rua, o carro quase atropelou nós quatro;, conta Lourenço. Para Ronieli é preciso que as pessoas entendam que a magrela é mais um meio de transporte e que, a partir disto, respeitem ela como se respeita um automóvel.
Fazendo um comparativo com a realidade do transporte alternativo na Europa, para o casal, o Brasil ainda tem muito o que melhorar no setor. Além de não poluírem o meio ambiente, as bicicletas reduzem os custos com locomoção. ;Isso me da mais tempo para ficar com os meus filhos. A gente não gasta com combustível, manutenção de carro e nem academia, porque o exercício é constante;, comentam Lourenço e Ronieli.
Lourenço passou uma temporada em países como Alemanha e Suíça e lembram dos costumes europeus de usar a bike para todas as atividades do dia a dia. ;Aqui em casa, fazemos desde as compras de supermercado até deixar os meninos na escola, tudo em cima das bicicletas. E na Europa também é assim. É incrível como você vê desde crianças até velhinhos com 80 anos andando por todas as ruas das cidades de lá;.
Ciclovias pelo mundo
Bogotá, Colômbia: 344km
Buenos Aires, Argentina: 70km
Berlim, Alemanha: 650km
Nova York, Estados Unidos: 400km
Paris, França: 371km
Copenhague, Dinamarca: 350km
Munique, Alemanha: 1,2 mil km
Tóquio, Japão: 126km