postado em 11/09/2014 17:16
Baixas e retorcidas com troncos de casca grossa e raízes profundas. Essa imagem é comum a muitas pessoas quando se fala do cerrado. Entre o laranja do fogo que se espalha pela grama seca, brotam o amarelo, o roxo e outras tantas cores no alto dos ipês. A explicação? Nem só de seca vive o segundo maior bioma da América do Sul. Como já disse Nicholas Behr, %u201Co cerrado é milagre%u201D.
Das 12 importantes bacias hidrográficas do Brasil, oito têm nascentes no cerrado. E é para evitar o assoreamento desses mananciais que a Rede de Sementes do Cerrado coordena o projeto Produtor de Água. A proposta é recuperar áreas desmatadas que deram lugar a plantações e à criação de animais. Até o segundo trimestre de 2015, 350 mil mudas de árvores serão plantadas nas margens do ribeirão do Pipiripau, localizado no nordeste do Distrito Federal. De acordo com a coordenação do programa, até o momento já foram plantadas 67 mil novas mudas nas encostas do manancial.
Parceria
Para um bioma de quase dois milhões de quilômetros quadrados que já perdeu cerca de 60% da cobertura verde original, pesquisadores consideram projetos como esse indispensáveis para a manutenção da área. E é na contramão da derrubada de árvores que surge um dado interessante: até o momento todos os proprietários rurais convidados aceitaram fazer parte do projeto e reflorestar o que foi degradado próximo a rios e nascentes. A vice-presidente da Rede Sementes do Cerrado, Regina Célia Fernandes, explica que o sucesso se deve também à lei. %u201CUm agricultor que não aceita a proposta, de certa forma, está infringindo a lei. Então, no final das contas, eles participam de qualquer maneira%u201D.
A lei a que Regina se refere faz parte do novo Código Florestal e obriga os proprietários rurais que desmataram dentro do seu território a recuperar uma parcela do total do terreno %u2014 a porcentagem de reflorestamento varia de acordo com o tamanho do lote. Após fechar a parceria com o dono da terra, as mudas são plantadas e fiscalizadas pelo projeto por dois anos. Se os parceiros do projeto cuidarem das árvores durante esse período, eles recebem um pagamento por serviços ambientais prestados proporcional à área plantada.
Professor de Engenharia Florestal e vice-presidente do Centro de Referência em Conservação da Natureza e Recuperação de Áreas Degradadas (Crad) da Universidade de Brasília, José Roberto Rodrigues explica que o programa tem como objetivo não só recuperar as áreas degradas. O projeto também quer educar pequenos e grandes produtores sobre a importância de reflorestar as matas ciliares. Para alcançar essa meta, a ONG oferece 300 horas de aulas gratuitas de gestão sobre o cerrado aos parceiros. %u201CO plantio é fundamental, mas importante mesmo é conscientizar sobre o valor ambiental do bioma%u201D. O professor lembra que o gasto para recuperar uma mata degradada pode chegar a R$ 15 mil por hectare.