Em um trajeto de 13 quilômetros de tráfego intenso, a bicicleta ganhou do carro por uma diferença de três minutos. Quem fez o mesmo caminho de ônibus chegou ao destino pouco mais de 10 minutos antes do que quem percorreu o trecho a pé, correndo (veja Quadro). Esse é o resultado da sexta edição do Desafio Intermodal, que marca o início da Semana da Mobilidade do Distrito Federal (leia Para saber mais). Um grupo de aproximadamente 20 pessoas deixou a QI 7 do Guará 1 rumo ao Complexo Cultural da República. Cada integrante utilizou um meio de transporte diferente para atingir a meta. A intenção do ato é mostrar à população novas formas de pensar a mobilidade nas grandes cidades. O carro se torna um meio de transporte lento, e a saúde e a sustentabilidade também pesam contra.
Para o presidente da organização não governamental (ONG) Rodas da Paz, Jonas Bertucci, o balanço final do desafio pesa a favor da bike, embora o motociclista tenha sido o primeiro a chegar. Outro ponto que chamou a atenção, segundo ele, foi a demora no trajeto do ônibus, que já tinha se mostrado um meio de transporte mais veloz em outras edições. ;A bicicleta chegou depois da moto, mas ela ganha, ainda assim, em termo de sustentabilidade. É econômica e beneficia a saúde individual e coletiva, além de ocupar menos espaço. Quem veio correndo demorou quase o mesmo que quem fez o trajeto de ônibus. Percebemos, aí, uma inversão de valores. É preciso investir no transporte público e nas ciclovias, para solucionar o trânsito;, disse.
Secretária institucional da ONG, Renata Florentino contou que, para o próximo ano, a expectativa é que cadeirantes também participem da experiência. ;Esse ano, não conseguimos encontrar pessoas com deficiência que participassem do ato. Para nós, essa já é uma evidência da dificuldade que elas têm de se locomover na cidade;, observou. O estudante de teologia João Benites, 34 anos, estava entre os últimos do Intermodal a chegarem ao destino final. Ele percorreu o trajeto de ônibus, com o tempo de 53 minutos. ;Levei quase uma hora para fazer um trajeto de 13km. Estamos falando da capital do país. Isso mostra que o transporte público não é feito pensando no usuário;, criticou.
Interação
O militar Tonny de Farias, 24, estava entre os que fizeram o trajeto a pé. Segundo ele, em vários pontos do caminho, era fácil ultrapassar os carros. ;Viemos em um ritmo bom, e percebemos o trânsito parado em diversos locais. Enquanto corríamos, muita gente acenou e interagiu positivamente;, lembrou. A aprovação dos motoristas não foi a mesma com quem foi de bike. Professor de história e morador do Guará, Luciano Lima relatou que, Próximo ao Departamento de Polícia Especializada (DPE) Na Estrada Parque Indústrias Gráficas (EPIG), uma condutora se irritou com a presença dos ciclistas. ;Precisamos de mais educação, de democratizar a mobilidade urbana. Uma pessoa gritou que estávamos atrapalhando o trânsito;, contou.
Iniciativa essencial
Quem usou a ciclovia para completar o trajeto também reclamou. O bancário Lucas Linard, 31, apontou a falta de ciclovias entre as cidades como um dos principais problemas. ;A vinda (para o Plano Piloto) foi tranquila. Na altura do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, peguei uma calçada muito estragada. A sensação é que eu estava fazendo trilha. Tem uma parada no local. Então, imagina como é para quem percorre o trecho diariamente. A ciclovia do Eixo Monumental, por sua vez, foi projetada para passeios no fim de semana. É claro que ela é um avanço para quem vai de bicicleta para o trabalho, mas ela passa por pontos sinuosos, e é confusa quando chegamos à Rodoviária;, afirmou.
O assessor Mauro Burlamaqui, 48, percorre, diariamente, o trajeto do desafio, para ir para o Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Ele vê a bike como ;um meio de transporte eficiente;, e acredita que a Semana da Mobilidade é uma iniciativa essencial para alertar a população sobre as dificuldades da mobilidade urbana. ;Com o desafio, a população passa a saber, na prática, o que está acontecendo com a mobilidade e o que é possível fazer. Não sou contra o carro, mas precisamos de espaço para quem se desloca correndo, de skate, de bicicleta ou de patinete;, destacou.
Os grupos saíram da QI 7, no Guará 1, às 7h37. Às 8h, o primeiro integrante do grupo, que percorreu o trajeto de moto, chegou ao Complexo Cultural da República. Confira o tempo médio que cada modalidade levou para completar o desafio:
Tempo Modal
00h23min51s Moto (EPTG)
00h25min33s Bicicleta fixa
00h27min28 Carro (EPTG)
00h28min08s Bicicleta (EPTG)
00h29min51s Táxi
00h36min07s Carro (EPGU)
00h36min29s Metrô e Bicicleta
00h42min43s Bicicleta (ciclovia)
00h45min40s Metrô e andando
00h47min20s Bicicleta (EPGU)
00h50min35s Ônibus e bicicleta dobrável
00h53min01s Ônibus
01h14min57s A pé (corrida)