Ser Sustentável

Um futuro sombrio para ursos do Ártico

Projeções de cientistas canadenses indicam que o ritmo do aquecimento global já afeta os mamíferos polares. Caso nada seja feito, eles perderão o habitat e poderão morrer de fome, mas ainda há tempo de reverter a situação

Vilhena Soares
postado em 01/12/2014 15:42

Para caçar e criar os filhotes, os ursos-polares precisam de gelo. Com o derretimento cada vez mais acelerado das camadas congeladas, as atividades ficam prejudicadas

O alimento e o habitat são alguns dos requisitos essenciais para a sobrevivência de uma espécie. Os ursos-polares correm o risco de ter prejudicadas essas duas necessidades básicas por culpa do aquecimento global. De acordo com um estudo realizado por cientistas canadenses, as mudanças climáticas que têm diminuído a cobertura de gelo no ártico do país norte-americano já refletem negativamente na vida dos animais. Segundo os pesquisadores, a população dessa espécie mamífera sofrerá grandes perdas até 2100 caso medidas de prevenção não sejam tomadas.

O trabalho publicado na revista americana Plos One se concentrou em avaliar quais os danos sofridos pelos ursos desde 2006. Com essas informações, os cientistas estimaram a situação que os animais terão que lidar futuramente, sob um clima já diferente. Os pesquisadores utilizaram dados de cobertura de gelo e observaram o comportamento dos ursos-polares na região ártica, usando também outras análises realizadas por pesquisas anteriores feitas no local.

Na investigação, eles constataram que o gelo do mar em todo o Ártico tem diminuído e alterado as características físicas dos ecossistemas marinhos, o que prejudica os ursos-polares, animais vulneráveis à diminuição do gelo. ; O aquecimento global é a principal ameaça para os animais. Eles exigem gelo para a caça e para criar seus filhotes. O gelo do Mar Ártico tem diminuído mais rápido do que os cientistas previram, e perda de gelo é uma perda de habitat para os ursos. Quando esses animais estão em terra ; na época em que não há gelo suficiente para apoiá-los sobre o mar ; eles entram em um estado de jejum e chegam a perder cerca de 1kg por dia;, destaca Stephen Hamilton, um dos autores do estudo e professor da Universidade de Alberta.

Gases de efeito estufa estão alterando a paisagem do Mar Ártico, causando danos para o ecossistema

Fome
O pesquisador explica que a redução de gelo já tem prejudicado os animais, que sofrem dificuldades para encontrar alimento. ;Eles não vão começar a caça de novo até que o gelo retorne e eles possam deixar a costa. Se o tempo necessário para que retornem ao gelo aumentar com o aquecimento, nós acreditamos que eles ficarão mais estressados, o que pode levar à fome e a taxas de reprodução baixas. Na Baía de Hudson, já estamos observando alguns desses efeitos;, diz Hamilton.

Os cientistas acreditam que os ursos podem sofrer períodos longos sem coberturas de gelo, de dois a cinco meses, e isso deve ocorrer até 2100. Para a equipe de investigadores, há esperanças de se mudar esse cenário, caso se coloquem em prática medidas de combate ao aquecimento global. ;Nossa pesquisa sugere que, se não fizermos nada para reduzir nossas emissões globais de gases de efeito estufa, o gelo vai ser tão limitado que pode haver muito pouco hábitat do urso-polar no mundo. No entanto, eu sinto que é importante reconhecer que há esperança, se reduzirmos as emissões globais de gases que provocam o efeito estufa em pouco tempo;, destaca Hamilton.

Previsão
Para Clive Tesar, pesquisador do Global Arctic Programme, da World Wildlife Fund (WWF) do Canadá, o estudo da revista Plos One mostra um cenário que já era previsto. ;A pesquisa mostra claramente os resultados assustadores das mudanças climáticas. Por muitos anos, assumiu-se que a perda do gelo do Mar Ártico seria catastrófico para os ursos-polares, e esse relatório confirma a suposição. E isso é apenas o começo, há muitos outros animais, como minúsculos plânctons e até baleias de 100t, que contam com o mesmo sistema ecológico do gelo do mar. Se esse for o impacto previsto sobre os ursos-polares, podemos supor que outras partes do ecossistema que dependem do gelo também provavelmente serão afetadas;, destaca o especialista, que não participou do estudo.

Tesar acredita, ainda, que somente com medidas que combatam o aumento das temperaturas será possível mudar as previsões climáticas. ;Essas condições envolvem uma rápida redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Outros relatórios da WWF mostraram que a obtenção de uma redução quase total em tais emissões é viável até 2050. Sob esse cenário, o gelo do mar Ártico poderia regredir, e mais hábitat estaria disponível para ursos e outras formas de vida que dependem do gelo;, acredita o especialista. ; Esse cenário não é apenas algo sobre o hábitat de ursos ; o mar de gelo do Ártico é uma parte muito importante no sistema climático global;, acrescenta.

Isso é apenas o começo, há muitos outros animais, como minúsculos plânctons e até baleias de 100t, que contam com o sistema ecológico do gelo do mar;
Clive Tesar, pesquisador do Global Arctic Programme, da World Wildlife Fund (WWF) do Canadá

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