postado em 09/10/2011 08:00
A trajetória de Steve Paul Jobs, morto aos 56 anos de câncer no pâncreas na última quarta-feira, é daquelas que nos remetem às ironias e aos mistérios da existência humana. Como se sabe, poucos são os que escrevem o nome na história da humanidade. Mais raros são os que ficam eternizados como gênios. Pois foi de um desses gênios ; da tecnologia; que os pais biológicos abriram mão. De classe média e vivendo numa América puritana dos anos 1950, a mãe, Joanne Simpson, estudante da Universidade de Wisconsin, sucumbiu à pressão da família ao se ver solteira e grávida, aos 23 anos, de um professor de ciência política, o sírio Abdulfattah Jandali, de família milionária na Síria.
Ela resolveu entregar o bebê nascido em 24 de fevereiro de 1955 para adoção em São Francisco, na Califórnia, ;para não envergonhar a família;, conforme contou recentemente o pai sírio. O que Jandali não revela é por que ele, filho de família rica, não assumiu a criação da criança. A favor da mãe biológica há o fato de ela não ter optado pelo aborto e se empenhado em escolher os futuros pais adotivos, para ter a certeza de que o menino seria bem criado. Na avaliação dela, os pais precisavam ter curso superior. Os primeiros escolhidos foram um advogado e sua mulher. Mas eles queriam uma menina. E o bebê que Joanne e Abdulfattah não quiseram criar foi rejeitado de novo porque era do sexo masculino.
Mas o destino parecia estar escrito. Paul e Clara Jobs estavam na fila de adoção em São Francisco, mas não tinham curso superior. Ele era mecânico, com ensino médio incompleto, e ela, técnica em contabilidade. E Steve lhes foi oferecido. A mãe biológica não gostou de início, mas concordou em entregar a criança, após o casal prometer pagar uma faculdade para o menino. Paul e Clara adotaram também, três anos depois, em 1958, uma menina, Patti Jobs. Passaram-se 11 e a família mudou-se para Palo Alto, cidade do futuro polo da tecnologia chamado de Vale do Silício, na Califórnia.
Steve interessou-se por eletrônica ainda criança, graças à nova família. Ele passava horas com o pai adotivo, de quem recebeu o segundo nome e o sobrenome, montando e desmontando equipamentos eletrônicos na garagem de casa e também na de vizinhos. No ensino médio, matriculou-se numa disciplina de eletrônica. Seu professor contaria mais tarde que o aluno ligou para o cofundador da Hewlett-Packard (HP), David Hewlett, pedindo peças de reposição para realizar um dever de casa. Com esse telefonema, acabou conseguindo também um emprego de estagiário no verão.
E a faculdade? Bem, Steve Jobs ingressou em 1972 na Reed College, em Portland. Mas frequentou apenas um semestre. Ainda passou mais um ano e meio na academia, mas assistindo a aulas opcionais. No seu famoso discurso de paraninfo dos formandos da Universidade de Stanford, em 2005, ele revelou que deixou a faculdade porque não considerava certo sacrificar seus pais, pois eles estavam gastando todas as economias que dispunham com ele.
Steve retornou ao Vale do Silício em 1974. Foi lá que conheceu seu amigo e futuro sócio, Steve Wozniak, então engenheiro da HP. Juntos, criaram, em 1975, o primeiro computador da futura companhia Apple, na garagem da casa dos pais adotivos. Os dois venderam uma Kombi e uma calculadora HP para bancar o projeto. O resto do sucesso empresarial é conhecido.
Reservado
O gênio da Apple levou a vida pessoal de forma reservada, longe dos holofotes. Aos 35 anos, tomou um fora da namorada Tina Redse, que recusou seu pedido de casamento. Um ano depois, em 1991, casou-se com Laurene Powell, sob o argumento de ;amor à primeira vista;, segundo ele, com quem teve três filhos: Reed Paul, Erin Sienna e Eve. Ele também é pai de Lisa Brennan, nascida em 1978, de um relacionamento com a artista plástica Chrisann Brennan, quando ele tinha 23 anos. Jobs só assumiu a filha nove anos depois. Ela chegou a morar com ele ainda adolescente. Lisa, atualmente com 33 anos, é formada pela Universidade Harvard em jornalismo.
Na sua biografia autorizada, a ser lançada mundialmente em 24 de outubro, Jobs admite que agiu mal com a ex-namorada e a filha Lisa: ;Fiz muitas coisas que não acho louváveis, como ter engravidado minha namorada aos 23 anos de idade e a maneira como encaminhei a questão;. O curioso da história de Steve é que seus pais biológicos chegaram a se casar dois anos após o nascimento dele e tiveram uma filha, Mona Simpson. Eles se separaram quatro anos depois, quando Abdulfattah Jandali viajou para Síria e lá ficou durante alguns anos. A mãe, Joanne Simpson, hoje com 79 anos, é uma renomada patologista. O pai tem 80 anos e é vice-presidente de um cassino em Reno, Nevada.
Arrependimento
Steve chegou a procurar pelos pais biológicos, embora sempre tenha deixado claro que os adotivos ; já falecidos ; são seus verdadeiros pais. Depois de muitas buscas, descobriu a mãe, a quem perdoou, e a irmã, Mona Simpson, escritora premiada e autora de cinco romances, com quem falava frequentemente e disse ser sua melhor amiga. Os personagens principais do livro de Mona, Um cara normal, dizem, são exatamente Steve Jobs e a filha Lisa.
Abdulfattah Jandali, que só soube que Jobs era seu filho há poucos anos, afirmou, em entrevista, após o anúncio do afastamento do gênio da tecnologia do comando da Apple em agosto último, que desejava conhecê-lo ;antes que fosse tarde; e que se arrependia de tê-lo abandonado. Ele disse que o avó biológico, por parte de mãe Joanne Simpson, era extremamente conservador e não a deixou se casar com ele à época. Mas o fato é que Jobs nunca quis falar com Jandali, apenas com a mãe. A irmã Mona também teria ressentimentos do pai, por tê-la abandonado ainda criança, quando retornou à Síria sem a família.
Jandali comentou que o filho teria conseguido o mesmo sucesso, mesmo sendo criado por ele e tendo nome sírio nos Estados Unidos, citando a filha, Mona Simpson, muito bem-sucedida, numa referência aos ;genes; brilhantes que transmitiu aos filhos. Mas é o caso de se perguntar: o batizado Steve Jobs pelos amorosos Paul e Clara teria sido Steve Jobs caso fosse criado pelos pais biológicos?
Astro total
Com a repercussão da morte de Steve Jobs, a mídia já o associa a grandes ícones da música e da ciência, como Albert Einstein, que é conhecido por desenvolver a Teoria da Relatividade; John Lennon, grande astro dos Beatles; e Elvis Presley, rei do Rock N;Roll. O cofundador da Apple teve seu prestígio reconhecido na era das evoluções tecnológicas com a criação de produtos, como iPpod, iPhone e iPad, foram se atualizando ao longo dos anos e deixando os fãs vidrados a cada lançamento. Jobs viu o futuro e levou o mundo a ele.