Enem

Mudanças na aplicação das provas são bem-recebidas

Enem passará a ser realizado em dois fins de semana consecutivos, 5 e 12 de novembro, atendendo reivindicação dos candidatos sabatistas. Surdos ganham videoprova

Daniel Cardozo, Especial para o Correio
postado em 11/09/2017 07:00

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A edição de 2017 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será marcada por mudanças de formato. A prova passa a ser aplicada em dois domingos consecutivos, 5 e 12 de novembro, o que traz vantagens para alguns e inseguranças para outros. Enquanto fica para trás o cansaço acumulado por um fim de semana inteiro de avaliações, a ansiedade de sete dias entre as duas etapas também pode acarretar problemas.

O novo formato põe fim à necessidade de horários diferenciados para judeus e adventistas. Também estão previstas novas ações de acessibilidade, como aplicação do exame de vídeo em Língua Brasileira de Sinais (Libras) e atendimento especial para 16 condições diferentes. Em 2017, o exame deixa de certificar os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), função que fica a cargo do Exame Nacional de Certificação de Jovens e Adultos (Encceja).

Até 2016, alunos sabatistas entravam em sala de aula às 12h de sábado e tinham que ficar confinados até as 19h, sem qualquer comunicação e impedidos de acessar materiais de consulta. Candidatos adeptos do judaísmo e adventistas se encaixam nessa condição e, por causa das crenças religiosas, terminavam o Enem depois das 22h. Fazer a prova em dois fins de semana foi uma novidade comemorada pelos alunos.

O judeu Arthur Hossman não usa carro aos sábados até o entardecer:

A estudante do Centro Educacional Sigma Vitória da Cruz Uchoa, 17 anos, fará o Enem como treineira. Por ser da Igreja Adventista do Sétimo Dia, ela não poderia prestar o exame no horário praticado no ano passado. ;Devia ser muito cansativo antes. Fiquei aliviada de não precisar passar por isso;, revela.

Para o judeu Arthur Hossman, 18, a modificação no cronograma evitará contratempos para os alunos sabatistas. Devido à religião, o jovem evita várias tarefas aos sábados. ;Não podemos andar de carro até o entardecer de sábado, portanto teríamos que andar quilômetros até o local de prova;, explica. ;Também não nos é permitido carregar peso nesses dias. Nesse caso, até a caneta, teoricamente, precisaria ser levada por outra pessoa. Além de tudo isso, escutei relatos de conhecidos que diziam ser terrível o confinamento. Será melhor a avaliação apenas em domingos;, afirma ele. O rabino Leib Rojtenberg, da Comunidade Judaica de Brasília, vê a medida com bons olhos. ;Como existem atividades que são vedadas na nossa religião, a possibilidade de prestar o Enem em dois domingos é uma forma de incluir nossos candidatos;, afirma.

Uso da tecnologia para candidatos com deficiência auditiva

Ana Carolina tem dúvidas sobre o formato da nova plataforma

Além de receberem os cadernos de questões da prova tradicional, os candidatos com deficiência auditiva poderão contar com a leitura dos textos e dos enunciados em um vídeo previamente gravado. Até o ano passado, era possível solicitar apenas a ajuda de um intérprete ledor, o que também continua disponível, dependendo da preferência do estudante.

Ana Carolina Gonçalves Siqueira, 22, é aluna do 3; ano no Centro de Ensino Médio Elefante Branco (Cemeb), na Asa Sul. Apesar de apresentar deficiência auditiva de grau leve e oralizada, ela se comunica principalmente em Libras, por isso, se inscreveu para a videoprova. Ana tem dúvidas sobre o formato. ;Eu ainda não sei como vai ser;. Kalvin Alves de Souza, 23, também do último ano do Cemeb, acrescenta que o tempo para leitura e comparação do caderno de provas com o material em vídeo precisará ser mais longo para os alunos surdos. Ao assistir ao vídeo de amostra disponibilizado pelo Inep, ele aprovou a forma como as questões foram apresentadas. ;Facilita bastante, porque perdíamos muito tempo com a compreensão das questões.;

O Inep esclareceu que a videoprova do Enem será aplicada para, no máximo, seis alunos por sala e dois intérpretes. Além disso, o recurso será utilizado este ano em caráter experimental e o mecanismo ainda está em desenvolvimento. Também será oferecido atendimento especializado para candidatos com autismo, baixa visão, cegueira, deficiência auditiva, física ou intelectual, déficit de atenção, discalculia, dislexia, surdez e visão monocular.

Coordenadora da área de educação inclusiva e professora da Universidade de Brasília (UnB), Amaralinda Miranda de Souza entende como antiga a demanda por esse acompanhamento. A especialista afirma que o processo de inclusão ainda é longo e também passa por provas com adaptações. ;Pela primeira vez serão oferecidas condições para que as pessoas com deficiência ingressem na universidade. Também é preciso que esse processo se intensifique nas empresas que vão recebê-las assim que estiverem prontas para o mercado de trabalho.;

A conversa com os estudantes do Cemeb foi traduzida pela professora Soraya Britto.

Menos desgaste

Esta será a primeira vez que a secundarista Isabela Sousa Ramos, 18, do Centro Educacional Sigma, participará do exame com a pressão de ser aprovada. Aluna do terceiro ano, ela gostou do novo formato. ;Fiz os exames para praticar nos dois últimos anos e, desta vez, caiu a ficha de que é para valer. Era muito mais cansativo passar dois dias consecutivos fazendo provas;, garante.

Com nota acima de 700 em 2016, Pedro Melo, 17, acredita em um exame mais justo, mas pondera sobre a possibilidade dos dois fins de semana de Enem afetarem o desempenho de parte dos alunos. ;Quem faz uma avaliação como essa não precisa ter a parte física testada, como era o caso nas edições passadas. Os mais ansiosos podem sentir pressão com esse prazo maior, mas não me vejo nessa situação;, afirma ele.

O nervosismo pode ser um fator desestabilizador dos candidatos. A avaliação do coordenador da Secretaria de Cursos do Sigma, Marcelo Afonso, é de que existirão vantagens na semana de descanso. Entretanto, ele lembra que os alunos precisam ter equilíbrio. ;Do ponto de vista físico, é muito melhor que seja em dois fins de semana. Mas é bem possível que o aluno fique ansioso para a segunda parte, é preciso ter atenção para não se deixar contagiar. A semana de intervalo é um momento de reflexão e não pode servir para prejudicar os candidatos;, ensina. Apesar de estimular o empenho e a preparação, a escola tenta acalmar os ânimos enquanto o Enem se aproxima.

Alunos do Centro de Ensino Médio (CEM 1) do Núcleo Bandeirante respondem: O que você achou do novo formato?

Enem passará a ser realizado em dois fins de semana consecutivos, 5 e 12 de novembro, atendendo reivindicação dos candidatos sabatistas. Surdos ganham videoprova

Ana Flávia Nascimento da Silva, 17
;Bem melhor. Fiz no ano passado e era muito cansativo. Com dois dias separados, vai ser possível caprichar mais na redação.;

Enem passará a ser realizado em dois fins de semana consecutivos, 5 e 12 de novembro, atendendo reivindicação dos candidatos sabatistas. Surdos ganham videoprova

Maksunay Vieira Soares, 17
;É ótimo. O formato anterior era exaustivo. os alunos vão ter um desempenho bem melhor.;



Enem passará a ser realizado em dois fins de semana consecutivos, 5 e 12 de novembro, atendendo reivindicação dos candidatos sabatistas. Surdos ganham videoprova

Maria Eduarda Andrade Batista, 18
;Bom e ruim. O aluno vai ter uma semana para revisar a matéria, mas pode acabar ficando nervoso com o prazo maior entre as duas etapas.;



Enem passará a ser realizado em dois fins de semana consecutivos, 5 e 12 de novembro, atendendo reivindicação dos candidatos sabatistas. Surdos ganham videoprova

Camila Rodrigues Carvalho, 18
;Vai ser melhor para termos tempo para estudar e descansar. Quem fazia a prova no domingo chegava exausto do dia anterior.;

Enem passará a ser realizado em dois fins de semana consecutivos, 5 e 12 de novembro, atendendo reivindicação dos candidatos sabatistas. Surdos ganham videoprova


Guilherme Feydit, 18
;É melhor porque não vai ser tão cansativo como em anos anteriores. O candidato poderá ler as questões com calma e se sair melhor no segundo dia.;

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