A cada edição, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) se destaca pelas particularidades que traz em relação aos vestibulares tradicionais. Talvez a maior delas seja a necessidade de melhor leitura e argumentação, de modo a entender as 180 questões e a redação sob a perspectiva de intervenção solidária na realidade. Universal, o exame privilegia os alunos de todos os cantos do país que sejam capazes de interpretar os textos — e o mundo, por que não? — de modo fluido e conectado com a realidade.
Ler e escrever, no Enem, estão intimamente ligados e exigem do candidato não apenas conteúdo, mas habilidade no domínio das linguagens em toda a abrangência e riqueza delas. Não é tarefa fácil. Pensando nisso, os especialistas em língua portuguesa William Roberto Cereja e Ciley Cleto escreveram Superdicas para ler e interpretar no Enem (Editora Benvirá, 2017). “Por meio da leitura, descortinamos o mundo”, diz Cereja. Com dicas breves e elucidativas, a obra traz capítulo entitulado "Da leitura da palavra à leitura do mundo", uma citação de Roberto Freire. Cereja explica: “Ler bem é inferir as informações implícitas, estabelecer relações entre discursos, perceber sutilezas como ironia, ambiguidade e intencionalidades subjacentes, relacionar as ideias do texto e de seu contexto imediato com outros, seja do nosso tempo e espaço, seja de demais realidades”.
“A resolução de uma questão de matemática depende normalmente de uma boa leitura do enunciado; da mesma forma, para que o aluno se saia bem na prova de Redação dos vestibulares e do Enem, precisa ler os textos que servem de tema, relacioná-los, e fundamentar o ponto de vista dele com bons argumentos”, diz o professor.
Gêneros
A diversidade de gêneros textuais no Enem vai das obras literárias, publicitárias, científicas e poéticas até formatos com elementos não verbais como pinturas, esculturas, gráficos, tabelas, charges, cartuns e tirinhas. “É preciso entendimento amplo do que é um texto e os modos com que são aplicados em cada disciplina”, afirma Carolina Assis Dias Vianna, coautora na coleção Português Contemporâneo e especialista em Enem e vestibulares.
Para o exame, a professora elege dois pontos fundamentais na interpretação. “O primeiro é chamar atenção para essa variedade de leitura, que necessita de habilidades específicas. Um gráfico exige compreensão de números e proporcionalidades, enquanto uma peça de arte pede elementos estéticos e da época em que foi produzida”, exemplifica. “Nós não lemos da mesma maneira gêneros diferentes.” O outro ponto é a leitura da questão em si: os enunciados, itens e comandos, “por meio dos quais você se orienta quanto ao que é exigido para aquele questionamento”, diz.
Coordenadora de redação do Centro Educional Sigma, Carol Darolt situa nas obras literárias o gênero mais temido pelos alunos: “Geralmente, são de forte teor conotativo, especialmente os poéticos, e trazem mais dificuldade. Compreender a aplicação da palavra ali, naquele contexto, exige bagagem e repertório”, afirma. “Para quem não tem maior familiaridade com literatura e está com medo pela proximidade do exame, recomendo apoiar-se nos itens, fazendo o caminho inverso. Com atenção, o candidato pode eliminar alguns deles ou até deduzir o que a obra citada infere.”
Compreensão discursiva
O Enem diferencia-se das demais provas de ingresso no ensino superior pelas exigências propositivas. “Trata-se uma avaliação cuja proposta fundamental envolve intervenção e entendimento enquanto cidadão. Nela, leitura e escrita se encontram”, afirma Luiz Ricardo Leitão, professor-associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autor da série de livros Redação de textos dissertativos, que apresenta o Enem como tema de um dos volumes.
Para ele, a proposta do exame ultrapassa o tema da redação e chega às questões, à medida que o estudante deve se informar do que ocorre no Brasil e no mundo, lendo as indagações com conhecimento de causa e carga crítica. “No exame, o aluno não pode, acima de tudo, ser um cidadão desinformado. Precisa saber o que está em voga na esfera pública, seja em educação, direitos humanos ou acessibilidade”, exemplifica o professor. “Um estudante desinformado não tem potência de argumentação nem de interpretação.”
Para ele, boa leitura e conhecimento gramatical precisam ser treinados no dia a dia, sem pular etapas. “Para todos os públicos de que trato na coleção, vejo a dificuldade dos candidatos. Dois terços deles, desde quem se prepara para o Enem até quem mira concursos de níveis elevados, não sabem ler bem nem escrever uma boa dissertação como se espera”, avalia. “Quanto à parte formal, leia e escreva muito a fim de fixar os modos de uso da ortografia, concordância e construção frasal. Treinando, você identifica rapidamente as formas de discurso e levanta, no ato de ler, os tópicos essenciais.”
Para Carolina Assis Dias Vianna, a dica é reproduzir a situação do exame não só nos tradicionais simulados, mas também em casa. Por que não imprimir outras edições e resolvê-las dentro do tempo de que vai dispor no dia decisivo? “Considerando tudo o que já foi feito ao longo da vida escolar, digo aos candidatos que precisam ter controle exato desse exame. De nada adianta grande repertório se falta experiência com a situação que será vivenciada na aplicação do exame”, diz. Quanto à redação, a professora recomenda escrevê-la primeiro e, depois de respondidas as questões de todas as áreas, retornar a ela para uma revisão mais distanciada.
Prova temática
Em 2017, as avaliações de linguagens, códigos e suas tecnologias e redação serão realizadas em 5 de novembro, mesmo dia de ciências humanas e suas tecnologias. A coordenação de redação do curso Poliedro, liderada pelas professoras Fabiula Neubern e Gabriela de Araújo Carvalho, acredita na reorganização de datas como forte indício do que chama de “prova temática”. Para Fabiula, é possível que o tema de redação seja intuído já pelo teor das questões em linguagens e ciências humanas (filosofia, sociologia, história e geografia).
“É uma prática constante do Enem e é bem possível que continue”, afirma Gabriela de Araújo. “Em outras edições, a prova de múltipla escolha do dia continha questões que já davam a entender o tema. Dialogava, de alguma maneira, com aquilo que apareceria na proposta de dissertação.”
Yago Bernardes, 17 anos
“é importante Ter ‘sacadas’ boas das metáforas e entender os tipos de leitura exigidos na prova, que são vários. Muitas vezes eles trazem a
resposta se você entender
bem o que está dito.”
Maria Clara Zagarese, 17 anos
“o candidato deve ler jornal e
estar informado das atualidades. Não tem como interpretar bem se você não pratica no dia a dia.”
Leia
Superdicas para ler e interpretar textos no ENEM
Editora: Benvirá
Páginas: 176
Preço: R$ 19,90
Redação de Textos Dissertativos - Concursos, vestibulares e Enem
Luiz Ricardo Leitão, Manoel de Carvalho e Manuel Ferreira da Costa
Editora: Ferreira
Páginas: 432
Preço: R$ 79
Português Contemporâneo: diálogo, reflexão e uso. Volumes 1, 2 e 3
William Cereja, Carolina Dias Vianna e Christiane Damien
Editora: Saraiva
Preço: R$ 120 (três volumes)
*Estagiário sob supervisão de Ana Sá