Enem

Tempo: vilão do exame?

Só se você perder minutos preciosos com itens que não será capaz de acertar. o segredo para administrar as horas disponíveis para o exame está em estratégias como começar o teste pela parte em que tem mais facilidade

Felipe de Oliveira Moura*
postado em 16/10/2017 07:00

[VIDEO1]

Dez horas. Esse é o tempo disponível, somando os dois dias de avaliação, para o candidato inscrito no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) expressar, por meio da interpretação, do cálculo ou da escrita, as habilidades e competências adquiridas ao longo de toda a trajetória escolar. Um olho na prova, outro no relógio da parede. Cada filipeta tirada pelo chefe ou fiscal de sala é um pequeno pedaço da corrida vencido ou, se os minutos não foram bem aproveitados, momentos valiosos desperdiçados rumo à meta de alcançar bom desempenho no exame. Nessa missão, não adianta dominar os conteúdos se não for capaz de dosar a pressão e administrar as horas disponíveis para resolver as questões e escrever a redação. Como, então, administrar o tempo implacável? O que fazer e o que evitar? O Especial Enem ouviu especialistas e apresenta dicas que podem valer minutos e pontos preciosos para garantir a tão sonhada vaga no ensino superior.

Priorize o que sabe

O primeiro mito a ser desconstruído é o de que existe uma fórmula aplicável a todos os candidatos sobre como responder à prova. A produtividade é individual e cada aluno lida de maneira diferente com ela. É o que afirma Alexandre Rodrigues, life coach e consultor em produtividade e gerenciamento de tempo. Ao rememorar experiências pessoais, o bacharel em direito conta que, em qualquer prova, fazia primeiramente a redação, pela facilidade que tem para escrever. A exemplo dele, qualquer candidato deve iniciar o teste pela parte em que se sentir mais confortável. ;Quanto mais autoconfiante o candidato estiver com a preparação antes da prova e durante a execução dela numa determinada área, mais domínio ele terá sobre as emoções e, assim, conseguirá gerir melhor o tempo e as questões;, aponta. ;A sensação de produtividade aumenta quando o candidato percebe que conseguiu responder muitas questões com relativa rapidez;, diz.


;Por isso, a dica é começar pela matéria que mais domina e, dentro disso, escolher o que é mais rápido e fácil de ser resolvido;, recomenda. Para evitar desperdiçar tempo, tome cuidado para não levar um item para o lado pessoal, tornando-o um embate, que deve ser resolvido a qualquer custo. Não adianta insistir no que não tem solução: se você não estudou determinado assunto ou tem certeza de que não conseguirá lembrar do que está sendo pedido, melhor partir para a próxima pergunta. Pedro Sathler, 19 anos, aluno do Curso Exatas, reconhece essa dificuldade. ;Existem questões de vários níveis. Às vezes, você se prende muito em temas difíceis e deixa de fazer outros que são fáceis. Isso prejudica bastante no fim;, observa. Pela experiência de Pedro, as partes da prova que exigem cálculo tendem a ser as mais trabalhosas.


Dificuldade em química e física. Eduardo Reis, 19 ,João Paulo Sousa, 19, Pedro Satler, 19, Ana Caroline dos Anjos, 19 e Eduarda Guerra, 18.

Eduardo Reis, 19, colega de Pedro, também credita a perda de tempo à insistência com itens muito difíceis. ;Meu maior erro é a vontade de terminar tudo. As pessoas, às vezes, se fixam demais e tentam até o fim responder à indagação, sendo que pode ser uma questão perfeitamente fácil de pular;, diz. Professora e coordenadora de química do Centro Educacional Sigma, Juliana Gaspar recomenda que, caso perceba que está num embate complicado, o estudante deve passar à próxima situação-problema para não comprometer a realização da prova. Esse passo deve ser adotado se a pessoa levar muito mais de três minutos no item. Mesmo nas provas de matemática e ciências da natureza, que são vistas como desafiadoras, é possível ganhar alguns minutos com uma boa estratégia. ;Às vezes, o raciocínio de cálculo requer um pouco mais de tempo. Se o aluno não consegue resolver, é importante que ele procure outra pergunta que envolva menos cálculo, que seja mais de interpretação. Algo na área de biologia, por exemplo.;


Ana Caroline dos Anjos, 19, também aluna do pré-vestibular Exatas, conta que o grande obstáculo na luta contra o relógio é voltar aos itens não solucionados. ;Eu costumo procurar as questões em que tenho facilidade, aquelas que tenho certeza de que acertarei. Assim, tenho que ler todas as questões para poder diferenciá-las. Se um item for difícil, eu pulo, mas, no fim, tenho que voltar e, assim, releio para relembrar o assunto.; Eduarda Guerra, 18, acredita que o maior impedimento para uma resolução veloz ;é diferenciar as questões médias, fáceis e difíceis e saber quais exigem ler mesmo todos os textos;.

Não fique de fora
Ano após ano, câmeras flagram candidatos que chegam atrasados e, por questão de segundos ou minutos, perdem a chance de fazer o Enem e ficam do lado de fora dos portões. Ser eliminado do exame é o pior dos cenários. Contudo, mesmo aqueles que conseguem entrar no local de provas no último minuto criam para si consequências. ;O atraso é prejudicial à saúde mental e, portanto, à produtividade;, avalia o coach e estudante de pedagogia Alexandre Rodrigues. ;O estudante deve estar mentalmente bem para responder às questões, o que não será realidade se ele passar pelo estresse de quase perder a prova.; Mestre e doutora em química orgânica pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a professora Juliana Gaspar alerta: ;Se você chega faltando minutos ou segundos para o exame começar, sua pressão psicológica será muito mais afetada do que se chegasse antes;.


Ela afirma que os candidatos devem se preocupar com o horário de sair de casa para evitar problemas. Durante o certame, se ausentar um pouco da sala é uma boa saída para reorganizar as ideias e voltar mais descansado, pois isso alivia a tensão. Aquele pedido de saída para ir ao banheiro ou beber água pode ser estratégico para aliviar o estresse e encarar o teste com novo fôlego. Outras dicas, ainda que bem conhecidas, continuam a fazer a diferença. Dentre elas, figuram uma boa alimentação, bom período de descanso prévio e conhecer bem o local antes do dia decisivo, prevenindo-se de contratempos como trânsito pesado ou confusão com o endereço.

Siga esses passos

1 Administrar bem o tempo de prova é tarefa fundamental para quem vai fazer o Enem. As provas de matemática e ciências da natureza são aplicadas no mesmo dia de exame, totalizando 90 questões de múltipla escolha, que devem ser respondidas em quatro horas e 30 minutos.


2 Aconselha-se que o estudante reserve de 20 a 30 minutos para preencher, com cuidado, a folha de respostas. Fazer isso às pressas, na correria, pode induzi-lo ao erro e à perda de pontos preciosos. Desse modo, sobram cerca de 4 horas, ou seja, em torno de 240 minutos para fazer as provas, o que dá uma média de 2,6 minutos por questão. Isso constitui um balizador para a estratégia de controle do tempo por ele.


3 É preciso dividir o tempo entre as duas áreas de conhecimento para que o desempenho em uma não seja prejudicado em detrimento da outra.


4 A prova de matemática é composta de 45 situações-problema que devem ser resolvidas pelo candidato.


5 Recomenda-se leitura atenta dos contextos, sublinhando os trechos que são chave para resolução. Uma boa estratégia é o estudante fazer primeiro as que julgar mais fáceis ou as em que tiver mais familiaridade com o conteúdo.


6 O aluno pode anotar ao lado, no caderno de provas, alguns códigos para as questões que forem deixadas para trás. Por exemplo, se ficou na dúvida se o gabarito é A ou B e deseja decidir isso no final, simplesmente anote ;A ou B?;; se achou que os cálculos estão tomando muito tempo, pode anotar: ;calc;; se ficou com dificuldade de interpretar o gráfico, pode escrever: ;graf;. Enfim, cada um pode criar uma linguagem pessoal para facilitar o trabalho quando retornar ao problema. Isso certamente ajudará a ganhar tempo.


7Resolver provas anteriores, cronometrando o tempo médio de resolução de cada questão, constitui excelente oportunidade de aprendizado no que se refere à administração do tempo destinado à resolução da prova.

Fonte: Mauro Luiz Rabelo, professor de matemática da Universidade de Brasília (UnB) e diretor de Desenvolvimento da
Rede de Instituições Federais de
Ensino Superior (Difes) do Ministério
da Educação (MEC)


* Estagiário sob supervisão de Ana Paula Lisboa

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação