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Nunca foi lá muito fácil aprender química e física. Boa parte dos secundaristas e ex-estudantes sentem calafrios quando ouvem falar de temas que os faziam quase fugir da sala de aula, como eletricidade, eletrodinâmica ou estequiometria. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o temor intuído ganhou ares concretos nos últimos anos, a julgar por números recentes.
Foi nas duas disciplinas, junto a matemática, que os alunos tiveram os piores desempenhos entre 2009 e 2014. Nesse período, a taxa de acerto em química e física foi de 26% em média. A média vem caindo ano a ano: 482,2 (em 2014), 478,8 (2015) e 477,1 (2016). Mas por que tanta dificuldade?
Artur Neto, professor de física do ProEnem, entende as ciências exatas como campo naturalmente complicado para os alunos, em função da amplitude de conhecimento requerida e por falhas da educação. ;Não há bons laboratórios nas escolas para que as aulas sejam mais atrativas, de modo que o aluno veja ali a ciência acontecendo. Além disso, as duas matérias requerem conceitos básicos de matemática;.
;É inegável que houve mudanças na prova;, concorda Juliana Gaspar, que leciona química no Centro Educacional Sigma. Para ela, a universalidade de acesso ao ensino superior promovida pelo exame explica, em parte, a guinada conteudista da banca elaboradora. ;Como o Enem hoje possibilita vagas a muitos cursos bastante disputados, passou-se a exigir bem mais conhecimentos específicos.;
Professora de química,Caroline Azevedo diz que mudanças e quedas no desempenho não são coincidência. ;Em edições mais antigas, o exame apresentava questões muito contextualizadas e o aluno conseguia respondê-las a partir de sua própria vivência.; Acabou aquela história de, a partir da leitura do próprio enunciado, intuir o item correto a ser assinalado.
Cálculos e meio ambiente
Para combater esses fantasmas, só mesmo muito treino e prática para que o aluno aprimore cálculos e interpretação. De acordo com as professoras, a química do Enem gira em torno de assuntos como eletroquímica, química orgânica, ligações e soluções químicas, meio ambiente e estequiometria.
Os dois últimos destacam-se. Em função da proximidade com acontecimentos do dia a dia, os problemas ambientais são tradicionais no Enem, que prioriza a habilidade do aluno em aplicar o conteúdo na sociedade. Eles podem figurar em questões de aquecimento global e efeito estufa, envolvendo as consequências de emissões de gases na atmosfera e as soluções para amenizar os danos. ;Não são resoluções baseadas em cálculos. Uma questão de química ambiental está no campo do cotidiano, assuntos que o aluno conhece de antemão dos noticiários;, diz Juliana Gaspar. Reciclagem de lixo e efeito estufa são outros que se encaixam nesse campo. ;Cabe ao aluno botar em prática o conhecimento dele em química para decodificar os motivos desses fenômenos.;
Estequiometria, por sua vez, aborda produtos formados a partir de reagentes, envolvendo, na resolução, cálculos e conversão de unidades. ;Está relacionado ao número de mols e ao conhecimento de grandezas químicas;, explica Caroline Azevedo. Tradicionalmente, é neste conteúdo que os jovens mais escorregam. ;Com certeza é a estequiometria, que envolve muito cálculo. O problema, neste caso, não é só interpretação de dados e conhecimento de química, mas a desenvoltura necessária nas contas;, afirma Juliana Gaspar. "Tudo envolve saber as fórmulas e entender as questões, que são muito contextualizadas", diz Kelvin Pessoa, 18, estudante do curso Exatas.
É bom lembrar que, em 2017, ciências da natureza e suas tecnologias está marcada para o mesmo dia, 12 de novembro, de matemática e suas tecnologias. Duas avaliações que exigem lidar com números, o que toma tempo de prova. ;Gosto das mudanças recentes, mas esta vai prejudicar o melhor desempenho em física e química do aluno, que tende a valorizar e temer muito a prova de matemática e deixar nosso conteúdo um pouco em segundo plano;, opina Caroline Azevedo.
Tragédia do césio-137
Professor do Instituto de Química da Universidade de Brasília (IQ/UnB), Heibbe Cristhian Benedito de Oliveira, mestre em física atômica molecular e doutor em físico-química, levanta a hipótese de questões que envolvam, direta e indiretamente, o acidente com césio-137, ocorrido em Goiânia. O triste episódio, maior da história no âmbito radiológico e segundo maior em termos radioativos, completa 30 anos em 2017. O exame adora pontuar datas. ;Pode ser relacionado à questão da meia-vida do césio, que se dá justamente no intervalo de 30 anos;, exemplifica.
O acidente se encaixa em outras áreas de conhecimento, pelos desdobramentos sociais do ocorrido. No Enem, pensar interdisciplinarmente é essencial. ;O aluno precisa estudar tudo de uma forma unificada, ainda mais pelas exigências típicas do Enem. Não dá para estudar física pensando somente em física, os temas são bastante correlatos e sempre podem se integrar;, diz Heibbe Cristhian. Em geopolítica, Estados Unidos e Coreia do Norte travam disputa que também envolve armamentos nucleares, questões radioativas.
Eletrodinâmica
Temas de eletricidade e energia podem promover semelhante aproximação de áreas. Os fenômenos associados às cargas elétricas têm bastante ocorrência no cotidiano. ;São conceitos que podem ser aplicados em diversos contextos e são bastante atuais. Geografia e biologia também trabalham com energia. É um tema universal.;
A abordagem das questões de física se dá de modo conceitual em 60% dos casos e analítico em 40%, de acordo com o professor. Os conteúdos seguem programa semelhante ao longo dos anos. ;Historicamente, mecânica é o assunto que mais cai na prova. Em segundo, temos ondulatória e eletricidade. Por último, termologia e ótica;, afirma.
A maior dificuldade de quem faz o exame está em eletrodinâmica. ;O aluno costuma ter uma visão local do circuito, isso faz com que cometa erros ao interpretar o todo. Quando a questão pede para calcular a resistência equivalente entre os pontos B e C, digamos, os estudantes sentem muita dificuldade em determinar quais os tipos de ligações (série ou paralelo) entre as resistências;, explica. Por fim, alunos sentem abstração em alguns temas. ;Ao envolver o mundo microscópico, sente-se dificuldade maior para entender e localizar a aplicação do tema na vida;, concorda Heibbe. Para não se perder, Artur Neto sugere buscar praticidade, de modo a ;enxergar; a aplicação da física na vida.
SEMANA COM DOSE DUPLA DE LIVES
Nesta semana, o Especial Enem promoverá duas lives no Facebook. Hoje (16), o convidado para a entrevista ao vivo, às 15h, é Paulo Ferrari, professor de física do Centro Educacional Sigma. Amanhã (17), também às 15h, é a vez de Saulo Mandel (biologia) e Juliana Gaspar (química), que lecionam na mesma instituição. Os três convidados comparecerão aos estúdios do Correio para comentar com detalhes a prova de ciências da natureza e suas tecnologias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Qual conteúdo preocupa mais?
QUÍMICA
Theresa Kanashiro, 20
;As Reações orgânicas vêm caindo muito e com nível mais pesado. Demanda tempo e muito conhecimento.;
Pablo Piau, 18
Pablo Piau,18
;Eletroquímica. Resolver questões de eletrólise e pilhas envolve saber as fórmulas e entender as questões, que são muito contextualizadas.;
FÍSICA
Renata Muniz, 18
;Eletroestática é minha maior dificuldade, porque é bem abstrata. Perco muito tempo até materializar na cabeça o que é preciso fazer.;
Rafael Calixto, 18
;Gravitação especialmente, porque não entendi muito bem ainda. preocupa-me também a estratégia para resolver as questões a tempo.;
Participe
Para assistir às lives e interagir com os convidados, acesse a página do Eu, Estudante no Facebook (facebook.com/euestudante). Depois das transmissões ao vivo, o vídeo com todo o bate-papo fica nos arquivos da página e pode ser assistido como e onde quiser. Todo o conteúdo do Especial Enem é aberto, gratuito e pode ser encontrado no endereço correiobraziliense.com.br/euestudante/enem-2017.