Enem

Enem após os 60 anos: idosos ignoram dificuldades e correm atrás de sonhos

A experiência que só o tempo traz pode ser um artifício na hora da prova, já que algumas estão longe das salas de aula há muito

Hamilton Ferrari, Mayara Subtil - Especial para o Correio
postado em 13/11/2017 06:00
Após fazer história, a comerciante Erenice Menezes quer cursar antropologia
Em meio a uma juventude agitada, algumas cabeças grisalhas despertaram o interesse de estudantes e curiosos. Raquel de Melo, 60 anos; Rosa de Lima, 61; e Erenice Menezes, 44, não são como a maior parcela dos candidatos. A experiência que só o tempo traz pode ser um artifício na hora da prova, já que algumas estão longe das salas de aula há muito. Sem medo e com muita disposição, elas ignoram as dificuldades e correm atrás de sonhos.

A dona de casa Raquel de Melo deseja fazer assistência social. Ela alimenta o sonho há dois anos. Estuda, ao menos quatro horas por dia, com o filho mais novo, o terceiro sargento do Exército Nailton Melo, 34. ;Algumas questões, eu chutei, pois nem havia entendido o cálculo. Mas, mesmo que não passe, não vou desistir;, ressaltou, bem-humorada.

Durante toda a vida adulta, Rosa de Lima trabalhou como técnica de enfermagem no serviço público. Não por uma questão de querer, mas para se manter no mercado. ;Sempre quis fazer farmácia, me especializar, mas não tinha como pagar a faculdade se largasse o cargo que tinha. Também não dava para conciliar estudo e trabalho com uma carga horária de 10 horas por dia;, contou ela.
Depois que se aposentou veio o revés. Agarrou-se em livros e cadernos para entrar na universidade. ;Temos que fazer o que gostamos. Enquanto eu estiver com uma cabeça boa para estudar, vou atrás. Hoje, tenho limitações físicas, como problemas de vista e hérnia de disco. Mas nada grande o suficiente para me deixar em casa;, ponderou.


Especialização

Mais jovem, a comerciante Erenice Menezes, 44 anos, tenta resgatar um sonho antigo. Por seis anos, ela foi professora pedagógica de estudantes da primeira à quarta série do ensino fundamental, em João Pessoa (PB). Em 1999, veio para Brasília. ;Fiz de tudo um pouco. Passei anos trabalhando em vários setores, como cuidadora de idosos, babá, caixa de supermercado. Mas queria voltar a dar aula. Sempre tive paixão por história;, contou.

Ela conseguiu terminar o curso de história na faculdade este ano, mas quer se especializar. ;Vou fazer antropologia. Dessa forma, consigo também me tornar uma pesquisadora. Como fui bem no primeiro dia de avaliação, acredito que vou realizar meu sonho;, destacou Erenice, ontem, pouco antes da abertura dos portões.

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