Enem

Prova mais conteudista

Jairo Macedo-Especial para o Correio
postado em 02/09/2018 19:08
Na avaliação de Wisner Freitas Araújo, professor e coordenador de matemática do curso Exatas, o caráter propositivo e interpretativo prevalece, de fato, no Enem, mas a edição de 2017 do exame também apontou outras direções. Há tempos não surgia tanta exigência conteudista entre as 45 questões reservadas à disciplina. ;Exigiu-se do aluno mais conhecimentos específicos. Estamos acostumados com muitos itens sobre porcentagem e geometria, entre outros, mas eles chegaram com mais complexidade. Alunos se sentiram mais acuados a partir das informações dadas;, avalia.
O professor exemplifica com uma questão que envolvia o caso real de um caminhão preso em viaduto e pedia a altura mínima necessária para que o acidente não ocorresse. O candidato deveria levar em consideração dados como o raio de grandes tubos, carregados pelo caminhão, e as alturas do veículo e do elevado. ;Essa foi uma questão muito específica de combinação completa, algo muito pouco estudado e visado. Demonstra que o aluno precisa de conteúdo. Não dá para ser na base do ;vou ler e resolver ali na hora, somente com interpretação;, como se acredita por aí. Não é bem assim;, analisa Wisner Freitas Araújo. Ele aposta nesse aspecto como norte para o Enem 2018.
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Aficionado pelos números desde muito jovem, Luiz Araújo, 17, acredita que esse aspecto sempre existiu, apenas tomou mais consistência e evidência no ano passado. ;Nunca vi uma prova de matemática, em qualquer contexto, que eu não considerasse conteudista. É intrínseco à matéria;, diz. Paulo Luiz Ramos, professor do Centro Educacional Sigma, concorda: ;Das disciplinas de exatas em 2017, matemática foi a mais conteudista. Acredito que a tendência da prova é o aprofundamento em matérias que são base da matemática, como geometria, porcentagem, proporcionalidade e estatística;.


Tempo inimigo


Em 2018, o Enem estendeu o horário para a realização da prova em 11 de novembro, com 30 minutos a mais para a aplicação de, além de matemática, ciências da natureza e suas tecnologias. Um pequeno, mas valioso aumento para um dia inteiro de disciplinas na área de exatas. A mudança é coerente com o direcionamento do exame, acredita Rafael Procópio, professor do curso Matemática Rio. ;O tempo aumentou, o que é bom, mas com ele pode vir com nível de dificuldade um pouco maior. Se é mais conteudista, o nível de dificuldade fica mais alto e exige tempo. A dica é se preparar bem na matemática básica. Ela garante a maioria da prova. Dominando-a, ele pode acertar as questões mais fáceis e partir para as mais difíceis;, sugere.
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Ele observa ainda que a Teoria da Resposta ao Item (TRI), método pelo qual as provas objetivas chegam ao resultado final, privilegia a coerência nas respostas. Não adianta fazer bonito nas mais complicadas, portanto, se o candidato vai mal no básico. A TRI enxergará que há desigualdade entre os itens difíceis e fáceis, de modo a reconhecer os acertos como ;chutes;. Não vale a pena. ;TRI precisa saber da coerência na resposta do estudante. Em termos de nível de dificuldade, está aumentando, sem dúvida. Porém, questões fáceis estão em maioria, depois algumas médias e difíceis (essas, envolvendo trigonometria, probabilidade e análise combinatória);, explica Procópio.
;Às vezes, um estudante que acertou menos pode sair-se melhor na média final. Tentamos conscientizá-los para que acertem sempre, sem falta, as fáceis e médias;, opina Bruno Leonardo Lüke, professor de matemática do curso Exatas. Para ele, há dois tipos de questões da disciplina: as contextualizadas ou não. ;O segundo tipo prescinde do texto inicial. O aluno pode, eventualmente, passar os olhos mais rapidamente por ele, caso o tempo esteja curto. Já no caso das primeiras, demanda atenção e não tem jeito: é preciso se concentrar e demorar mais.;
A extensão dos textos dos enunciados preocupa Luiz Araújo. ;A prova do Enem é muito grande, requer administração do tempo e muita concentração. No final da prova, quando estão prestes a recolher as respostas, é muito ruim. Afinal, são textos muito grandes e isso demanda tempo. No Enem, há mais densidade nos textos em relação a outros;, opina. ;Matemática sempre foi a matéria em que tive mais dificuldade. Português e redação são as minhas preferidas. Ali, eu consigo sintetizar as minhas ideias. Nos números, nem tanto;, conta Camila Gomes Martins, 17, que enfrentará o Enem 2018 em busca de vaga em medicina. ;Em 2017, mantiveram a parte mais difícil para prova voltada para logaritmos. Mas vem sempre naquela ideia básica. A ;briga; geral dos docentes é para que mantenha-se o nível, que hoje é muito bom, e deem mais tempo;, conclui Rafael Procópio.

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