Enem

O exame na telinha do celular

Cresce o número de vídeos e plataformas on-line dedicados à preparação do aluno para o exame. Hoje são mais de 300 canais, que chegam a ultrapassar a marca de um milhão de seguidores

Jairo Macedo-Especial para o Correio
postado em 02/09/2018 19:21
À essa altura, dizer que a internet pode ser uma ferramenta para estudos soa quase como redundância. Quem tem entre 21 e 25 anos de idade, faixa etária que mais concentra inscritos (33,8% do total), está para lá de habituado a usar a tecnologia para tudo na vida. Do entretenimento mais pueril aos instrumentos básicos para a melhor educação e futuro, nada escapa à rede. Basta saber usá-la e conectar-se a canais confiáveis.
Pensando nisso, muitos docentes vêm usando a internet, especialmente o YouTube, para disseminar conteúdos, a fim de encontrar no ciberespaço quem quer que esteja se preparando para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Não é difícil essa conexão. Numa pesquisa rápida pela plataforma de vídeos, você encontra mais de 300 canais especializados no exame. Eles chegam a bater a marca de um milhão de inscritos e apresentam material de preparação diariamente, a maior parte dele gratuito e acessível a qualquer hora e em qualquer lugar.
Ivys Urquiza: blog cresceu e transformou-se em plataforma multimídia
O conteúdo chama a atenção pelo dinamismo da linguagem, baixo custo e portabilidade. Em qualquer hora e lugar, o candidato ao exame pode sacar seu celular, tablet ou laptop e estudar. Muitos usam o recurso como auxílio e complemento ao que veem em sala de aula. Outros preferem, pela acessibilidade e flexibilidade, concentrar-se exclusivamente neles.

Linguagem acessível

Quando pagas, as videoaulas custam entre R$ 15 e R$ 25 por mês. ;Em um cursinho presencial, além dos valores elevados, eu gastava muito tempo de locomoção e o valor era muito alto. Dessa forma, quando passei a estudar virtualmente, além de eu montar meu próprio cronograma, posso dedicar mais tempo às matérias que tenho mais dificuldade;, diz David Lopes de Araújo, 22 anos, que utiliza o recurso há três anos, em busca de vaga em medicina. A maioria dos adeptos tem entre 16 e 25 anos.
Gabriella Jardim, professora do QG do Enem: mundo conectado
;É um momento nosso com o computador e os livros;, afirma Naiane do Vale, 23. A jovem brasiliense fez a prova do Enem cinco vezes, sempre em busca de uma vaga em medicina. No ano passado, resolveu complementar os estudos em cursinhos presenciais com vídeos na rede e não parou mais. ;Eu procurava aulas de acordo com os assuntos que via no curso presencial. Fiz cursinho presencial por três anos e já estava exausta só com a ideia de retornar para aquele ambiente.;
Atualmente, Naiane concentra seus estudos apenas por meio do curso online ProEnem. Criado em meados de 2014, o ProEnem conta com quase 700 mil inscritos e, como vários canais de sucesso na rede, ultrapassou a barreira do Youtube e hoje configura-se como plataforma de ensino. Há o conteúdo gratuito e os formatos pagos, mais especializados. ;Abrimos outras frentes, tais como monitoria, correção de redação, material didático e listas de exercício. Com isso, criamos uma ferramenta mais completa sobre o que o aluno precisa;, diz Diego Viug, diretor pedagógico do ProEnem e professor de matemática.
Rafael Procópio, do Matemática Rio: democratização do conhecimento
O canal Física Total trilhou trajetória semelhante. ;Inicialmente, escrevia em um blog, que era muito frequentado por adolescentes e jovens adultos. Esse público estava pedindo pelos vídeos, porque é da linguagem deles;, relembra Ivys Urquiza, professor de física e idealizador do projeto. Feitos os primeiros vídeos, a resposta do público foi tamanha que ele começou a agregar mais pessoas e investir na infraestrutura para levar o melhor conteúdo. ;A matéria era boa, mas a gravação, não;, confessa.
;Dentro da plataforma paga, temos mais de 20 mil alunos. Atualmente, somos das maiores salas de aula da internet;, diz ele, descontraidamente. Tanto que ele abandonou as aulas presenciais em 2017 e viaja o Brasil para ocasionais palestras e aulões, como o que deu em Brasília em junho, no colégio Marista.
O próprio YouTube entrou na onda e, desde 2013, mantém o Youtube Edu, canal colaborativo de vídeos educacionais com quase 19 milhões de visualizações só no Brasil. Ivys Urquiza foi escolhido como um dos embaixadores da plataforma no país.


Alcance universal


Os professores da internet veem com entusiasmo a possibilidade de alcance da rede e a apontam como principal diferencial. Rafael Procópio, que leciona matemática no curso Matemática Rio, vê na amplitude de acesso o grande diferencial. ;Há diversas ferramentas e elas chegam a todos os lugares. Pelo interior do Brasil, há gente tendo acesso a bons conteúdos e nivelando a qualidade.;
Professor de história e CEO do QG do Enem, plataforma criada há cinco anos e atualmente com 52 mil afiliados por todo o país, Márcio Branco concorda. ;Queria impactar mais pessoas, com as quais não tinha acesso com educação presencial. Esse é o caminho, tenho certeza. Somos uma nação de dimensões continentais e formações desiguais em cada região. Vejo esse vetor como revigorante para a educação;, afirma.
Camila Cavalieri, do ProEnem: flexibilização do tempo
;O mundo hoje vive conectado. Tudo acontece 24 horas por dia na palma de nossas mãos;, diz Gabriella Jardim, professora de linguagens e redação do QG do Enem. ;Dentro dessa realidade, o ambiente educacional percebeu a necessidade de ganhar espaço. A internet proporciona não só a facilidade em levar o aprendizado para diferentes perfis de estudantes, como também a praticidade de se estudar em qualquer lugar e a autonomia de aprender com professores, não somente em um lugar físico como a escola.;


Cada um no seu tempo

Ainda que transmitido ao vivo, o conteúdo audiovisual fica disponível para consulta posterior. Pelas redes, o aluno se vê mais dono de sua própria rotina. Camila Cavaliere, professora de biologia no ProEnem, vê isso como diferencial positivo: ;A internet oferece flexibilização de espaço e tempo. Dessa forma, o estudante economiza tempo de deslocamento e pode usar essas horas para dormir ou para lazer, o que contribui positivamente para o seu rendimento nas aulas;. Pausando, retornando ou indo adiante na explanação do docente, ganha-se em autonomia. ;O aluno pode rever as vídeoaulas para fixar o conteúdo e assistir sempre no momento em que ele se considera mais atento. Alguns candidatos são matutinos, outros preferem estudar à noite.;
Márcio Branco, do QG do Enem: propósito é impactar mais pessoas
Larissa Parada está definitivamente no grupo dos madrugadores. ;O horário é a maior vantagem. Preferia dormir até um pouco mais tarde e estudar até a madrugada, o que não ia ser possível no formato presencial;, conta a estudante de 22 anos.
;A grande força de projetos on-line é dar ao inscrito poder sobre a rotina, horários e conteúdos. É ele quem decide;, concorda Ivys Urquiza. O professor do Física Total ressalta que, embora o público predominante seja o jovem estudante abaixo de 25 anos, há também professores inscritos. ;Esse público mais velho está à procura de oxigenar as ideias e encontrar novas formas de apresentar os temas das disciplinas aos seus alunos em sala.;

Organização e foco


Os serviços mais completos de docência nesses canais incluem não só o oferecimento de aulas, mas também serviços como monitoria e planos semanais de estudo. Como numa aula presencial, há uma agenda do que fazer, a fim de que o candidato não perca o foco. ;Eles me fornecem um plano semanal, no qual posso ver sobre o assunto antes da aula, e assim já levar minhas dúvidas para o professor;, esclarece Naiane do Vale.
O resultado é, senão perfeito, certamente de grande auxílio. Numa rede hoje contaminada por serviços duvidosos, informações desencontradas e as chamadas fake news, ainda cabe ao aluno o discernimento do que consome. ;O estudante brasileiro precisa procurar canais confiáveis, que funcionam como válvula para chegar ao ensino superior com qualidade;, diz Márcio Branco. ;O estudo on-line não veio para substituir a sala de aula, mas para complementar a preparação;, sintetiza Gabriella Jardim.

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