Enem

Para aliviar o peso do futuro

A pouco mais de um mês das provas, especialistas e candidatos buscam métodos para manter a calma e o foco para o exame. Planejamento e atividades que proporcionem tranquilidade física e mental são fundamentais

Felipe de Oliveira Moura*, Jairo Macedo-Especial para o Correio
postado em 01/10/2018 07:00
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) bate à porta e não dá mais para esconder: a primeira prova é em 4 de novembro, daqui a pouco mais de um mês. A esta altura, muitos dos milhões de candidatos demonstram medo ou ansiedade pelo que virá. Especialistas recomendam manter metodologias pessoais que levem ao autoconhecimento e mantenham o foco.
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Não perder o fio da meada dos estudos leva a não perder o controle emocional. ;Muitos jovens estudam sem uma forma, uma boa metodologia que prospere tanto em competência para fazer provas como o Enem quanto em saúde mental;, afirma a pedagoga Dolores Bordignon, com formação em psicopedagogia clínica e ex-diretora de ensino da Escola Menthes, especializada em inteligência emocional e qualidade de vida para crianças, jovens e adultos.
Para ela, a forma diária de estudar dos jovens não colabora com a saúde mental de cada um. Dicas simples podem colaborar para não chegar esgotado ao fim do processo. ;Uma dica é começar estudando matérias nas quais se tem mais facilidade. A maioria dos jovens deixa as matérias mais difíceis, como matemática, para o final. É claro que, potencializado pelo cansaço e estresse, e sob a crença geral de que matemática é muito difícil, seu estudo não será assertivo e não renderá.;
Jovem de cabelos longos, cacheados e blusa branca sorri. Ao fundo, um quadro negro de sala de aula
;Nesses últimos meses, a ansiedade pega muito mais do que no começo do ano, e é o momento em que você tem que manter mais calma. É desafiador;, diz Marina Monticeli, 18 anos. Segundo ela, o desespero aumenta quando vê a quantidade de matérias acumuladas. ;Mesmo estudando todos os dias, fazendo tudo o que precisa fazer, parece que não é suficiente. Tem que ficar trabalhando isso, senão você é consumido.;

Autoconhecimento


Hoje, Dolores Bordignon mantém um curso específico para quem faz o exame, calcado na afirmação de que ;60% do Enem é estado emocional;. Ela explica: ;A maioria dos jovens que vêm procurar esse tipo de trabalho é de candidatos que tentaram outras vezes e não conseguiram. Eles depositam nessa prova a esperança de muitos sonhos a se realizar, o que tem um grande significado de futuro. Uma necessidade e pressão de passar, pois será uma grande oportunidade para o início da vida profissional.;
Jovem de camiseta polo escura, sentado em uma carteira de colégio, posa de braços cruzados e sorri. Há outras carteiras em volta dele, sem ninguém
Victor Hugo França, 20, é exemplo desse estado de mente. ;Bateu na cabeça ;essa prova aqui é o meu futuro;. Quando fui passar a limpo, estava tremendo tanto que tive que segurar uma mão com a outra para conseguir escrever. Fiquei muito nervoso;, relembra. O jovem, que deseja cursar medicina, estuda desde 2016 para alcançar o objetivo e passou por três preparatórios para vestibular.
A experiência em sala de aula e em provas além do Enem o ajudaram a ter mais controle emocional. ;Ao fazer cursinho, amadureci. Nas últimas provas do Enem, estava menos nervoso;, afirma. Victor Hugo considera o apoio da família fundamental para não aumentar a tensão. ;É voz corrente. Muitos estudiosos vêm avisando que estamos ocupando nossos cérebros com muitos conteúdos, não estávamos acostumados ao volume de informações a que hoje somos submetidos.;

Competências emocionais


Celso Lopes de Souza é fundador do Programa Semente e especialista em habilidades socioemocionais. Ele explica que há cinco grandes frentes socioemocionais, cada vez mais estudadas pelo mundo. Entre elas, autoconhecimento, autocontrole e perseverança. ;Autoconhecimento é reconhecer as próprias emoções, apresentando suas fortalezas e fraquezas. Autocontrole é regular as emoções, quando elas estiverem mais atrapalhando do que ajudando. Dentro disto está a capacidade de resiliência de não só superar as adversidades, mas aprender com elas;, explica.
Jovem branco, de camiseta branca, sentado em uma carteira de colégio, posa de braços cruzados e sorri. Há outras carteiras em volta dele, sem ninguém
;Motivação, perseverança e resiliência são as habilidades mais importantes para quem faz provas como o Enem;, aponta Naércio Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas (CPP) do Insper e pesquisador da área. A experiência, certamente, trouxe autocontrole e conhecimento para Pedro Jader, 23. Formado em administração de empresas pelo Centro Universitário de Brasília (UniCeub) e dono de uma academia há cinco anos no Grande Colorado, ele está decidido a reconfigurar seu horizonte: quer uma vaga em medicina e busca tempo em cursinho para tal. ;Hoje não tenho mais ansiedade. Todo tipo de nervosismo com relação a provas eu também larguei;, afirma.
O jovem acredita que a rotina dos últimos anos de faculdade, repleta de testes e trabalhos, ajudaram a lidar com as emoções à flor da pele. ;Não tenho muita pressão familiar em relação a passar rápido em medicina, porque já sou formado e me sustento. Faço a prova sem pensar no amanhã.;
;Na verdade, essas variáveis andam todas em conjunto;, elucida Bruno Damásio, pesquisador do Departamento de Psicometria da UFRJ e responsável por um estudo encomendado pelo Programa Semente sobre o impacto das habilidades socioemocionais em estudantes brasileiros. ;Uma pessoa sem autoconhecimento terá uma série de dificuldades, não conseguirá se engajar em algo que queria para a vida num futuro próximo. A realidade do ensino médio é diferente. Trata-se de uma etapa da vida de muitas escolhas decisivas.;


Válvulas de escape

Jovem de cabelos pretos, longos, sorri escorada em armário de colégio


A ansiedade é algo com que a estudante Gabriela Araújo, 20, teve que lidar em outros exames. ;Eu ficava muito nervosa, chegava a passar mal na prova e tinha taquicardia;, conta. Desse jeito, alcançar uma vaga em medicina não é fácil. ;Eu ficava menos concentrada e errava coisa que não tinha o porquê de eu errar, como contas boba de soma;, afirma. Ciente das próprias limitações, Gabriela resolveu adotar novas ferramentas para novos resultados. ;Eu nunca fui de trabalhar para conter a ansiedade. Neste ano, eu tenho feito meditação. Aprendi a respirar e, por conta disso, consigo ficar mais calma. Acredito que consigo contornar com mais facilidade os problemas agora;, aposta.
Marina Monticeli, que fez o Enem 2017 para treinar, se diz atenta à pressão, que virá maior neste ano, quando será ;para valer;. A preparação, para ela, passa pela mente e corpo. Por isso, acorda todos os dias às 4h para ir à academia, além das sessões de psicologia, meditação e alimentação saudável. ;Medito todos os dias, tento me alimentar bem e faço atividade física, que é muito importante para desestressar e liberar endorfina.;

*Estagiário sob supervisão de Ana Sá

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