Jairo Macedo-Especial para o Correio
postado em 02/10/2018 18:23
A live do Especial Enem desta terça-feira (2) abordou a prova de linguagens, códigos e suas tecnologias. Para o bate-papo com a apresentadora Ana Paula Lisboa, estiveram presentes os professores Josino Nery, conhecido entre os alunos como Jota, e Rosimar Barbosa, que lecionam gramática e literatura, respectivamente. Em pauta, a necessidade constante dos candidatos desenvolverem as competências leitoras para passar pelas 45 questões da disciplina com um desempenho que o ajude a alcançar uma vaga no ensino superior.
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;O maior desafio está em ler de maneira eficiente o texto, sabendo identificar os gêneros aos quais ele pertence, qual função da linguagem predomina nele e observando quais elementos linguísticos contribuem para o entendimento do leitor;, enumera Jota. Para ele, a máxima de ;menos gramática e mais interpretação de texto;, presente em matéria Correio desta semana, se confirma. Porém, com ressalvas. ;Isso é certo. A única objeção que eu faria é de que o conhecimento da língua padrão vai ser, sim, cobrado na redação. Já a prova de linguagens não tem essa preferência por questões gramaticais. Baseia-se naquilo que chamamos de competências leitoras. No Enem, a leitura vem em primeiro lugar.;
História e expressão em literatura
Em literatura, que ocupa cerca de 22% da prova, a abordagem é semelhante. O objeção, aqui, fica para quem julga como desnecessário o conhecimento quanto aos períodos históricos da arte. ;Ainda que a prova privilegie a interpretação, é muito importante que os alunos conheçam os movimentos literários, inclusive porque, com isso, ganharão tempo. O conhecimento em literatura não encerra-se em si mesmo.
Ao contrário, os livros dizem muito sobre sua época. ;Às vezes, o aluno não tem noções sobre valores vigentes na época da literatura clássica e, por isso, terá dificuldades. Portanto, conhecer as bases conceituais ainda é importante. O homem se expressa a partir do mundo que o rodeia, procurando ressignificar o mundo no qual vive.;
Portanto, é necessário, sim, o conhecimento histórico. Nas últimas três provas, percebi que os textos literários, embora privilegiem a interpretação, eles movimentam conteúdos como gêneros literarios, tipologia textual, funções da linguagem e variedade linguística.
Rosimar Barbosa acredita que a última edição do Enem promoveu crescimento em dificuldade. Para o professor, há obras fundamentais da literatura brasileira que podem ajudar o aluno a se situar na prova. Ele sugere, dentro outros, o romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, ;que nos dá a ideia de como foi ao literatura e a sociedade do século 19;.
Mais importantes ainda são os autores normalmente associados ao modernismo, como Mário de Andrade, Guimarães Rosa e José Américo. Obras como Macunaíma, Grande sertão: Veredas e A Bagaceira ajudam a entender o seu tempo e a formação do povo brasileiro, além da mistura e síntese da linguagem de outros períodos. ;Geralmente, o Enem privilegia muito o modernismo, porque é um movimento literário que dialoga muito com outras esferas. Por meio do modernismo, o exame cobre o quinhentismo, romantismo e até arcadismo. É muito comum que, numa questão sobre o modernismo, vejamos outras escolas revisitadas.;
Coesão textual
Mas como, afinal, desenvolver a tal ;interpretação de texto; que permeia todo o exame? ;Saber ler tem um significado muito amplo;, afirma Josino Nery. ;As provas do Enem, assim como de todos os vestibulares importantes, vão além da decodificação das palavras. Nesse sentido, o exame já aponta para os candidatos quais são os aspectos da leitura que tenho que dominar. Coesão textual, por exemplo, foi dos que mais caiu na prova, uma porcentagem muito grande.;
Para ele, também não pode faltar ao aluno o discernimento das funções da linguagem. ;Não pode chegar na prova sem saber diferenciar função poética, emotiva, apelativa, referencial, metalinguística e fática. Não é uma abstração, tem uma materialidade. Além disso, um bom número de questões avaliam a capacidade de perceber as estratégias de argumentação do autor do texto.;
Se a intimidade com a leitura for pequena, é claro, tudo fica mais complicado. ;Suprir lacunas muito anteriores é um trabalho árduo. Se pensarmos de maneira prática, eu me concentraria nos objetos do conhecimento previstos no exame. Debruçar sobre coesão textual e funções da linguagem, notando que a língua modifica-se ao longo do tempo e espaço. Note também a diversidade de tipos textuais a que somos submetidos diariamente;, recomenda Jota.