postado em 23/10/2018 18:19
A penúltima live do Especial Enem do Correio antes do grande dia do exame trouxe as artes para o centro do debate. Nesta terça-feira (23), os professores Luiz Alcântara (de artes visuais) e Cézar Romerito (artes cênicas), do Centro Educacional Sigma, bateram um papo com as apresentadoras Thays Martins e Talita de Souza sobre a abordagem artística em questões de linguagem, códigos e suas tecnologias e outras áreas de conhecimento. Não são poucas as possibilidades. Abertas, as matrizes do Enem exigem dos candidatos estarem atentos ao formato do exame e levarem em consideração todos os grandes movimentos que fizeram a pintura, teatro, música, cinema, performance, instalações e demais formatos chegarem até aqui.
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;Acima de tudo, é necessário ter um conhecimento claro da matriz de referência de linguagens, procurando observar bem os meios de análise. Desse modo, reconhecer e identificar as grandes linhas da arte é fundamental;, observa Luiz Alcântara. Para ele, há três eixos fundamentais percorridos pelo exame: os sistemas primitivos, o clássico e o moderno e pós-moderno. Este último deetém a maior parte das questões. ;É preciso estar atento à arte contemporânea, levando em consideração todos os grandes movimentos que, de certo modo, influenciaram os artistas em sociedade.; Cézar Romerito acrescenta: ;É compreender a arte como um documento histórico. Ao longo dos séculos, ela vem nos ajudando a contar a nossa história. Documenta o que acontece, registra os fatos e se pocisiona.;
Com a presença de, ao menos, cinco questões a cada edição do exame, não é possível ignorar a participação de artes nas provas. Acertar ou não essas questões pode ser decisiva para quem quer usar o desempenho do Enem para entrar em um curso concorrido. Cézar Romerito se diz aliviado de que essa ilusão esteja saindo, aos poucos, da mente dos candidatos. ;É sempre legal falar sobre artes no Enem. Durante um tempo, havia um mito de que elas não caíam. Não é verdade. Desde 2009, o número de questões vem aumentando, especialmente porque é possível surgir em diversos contextos.;
Conteúdo amplo
O exame guarda sensíveis diferenças em relação a vestibulares tradicionais e ao Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB), especialmente porque não há obras previamente selecionadas. Na cobrança de textos teatrais, por exemplo, não há um corpo específico de obras que os candidatos devem ter na ponta da língua.
;É bem diferente do PAS, que traz uma peça de teatro específica. No Enem, não. São competências e habilidades que o professor deve trabalhar com o aluno. Não vão cobrar o conteúdo em si, mas a habilidade de notá-lo e a capacidade de pensar;, diz César.
;Por isso, é sempre muito difícil citar temas muito específicos. Até hoje, em teatro, nenhuma obra se repetiu de um ano para outro. O Enem espera que você saiba compreender um texto dramático, que o candidato saiba diferenciar o texto tradicional de literatura com o teatral;, afirma Cézar. A prova é, na avaliação dele, muito crítica, e ter o mesmo senso crítico se faz necessário. ;É bacana estar antenado em quais tipos de temas estão sendo debatidos na TV e nos serviços de streaming. O que está em voga no debate. Em artes cênicas, é mais habitual cairem questões mais técnicas: o que é o texto dramático, o que é teatro de rua. Conhecimentos específicos da prática teatral.;
Artes plásticas
Para o professor Luiz Alcântara, é fundamental, em artes plásticas, saber analisar, reconhecer e confrontar as manifestações artísticas. ;Pouca gente nota que, no Enem, são nove as competências exigidas.; É preciso, acima de tudo, ter a capacidade de estabelecer conexões entre arte e sociedade.
;A arte, especialmente a moderna, nunca deixou de ser refletida em sociedade. Inclusive politicamente. Temos visto governos cada vez menos interessados pela cultura. Vimos o caso do incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro e tudo pode ser motivo de discussão. Temos a fusão da arte africana, por exemplo. É a arte do século 20.;
Nesse recorte, a Semana de 1922, bem como seus antecedentes e desdobramentos, ocupa posição central. O que fez influenciou aqueles pintores e escritores chegarem àquela manifestação de arte passa diretamente pelo passdo e aponta para o futuro. ;Há o aspectos que remete às escolas anteriores. O parâmetro de comparação para o rompimento no modernismo é sempre o classicismo. No final das contas, tudo está lá presente.;
Como fonte de informações, ele sugere pesquisas ; desde que criteriosas ; na internet. ;Sugiro o Itaú Cultural, que sempre traz bom conteúdo. Se você procurar por arte moderna na internet, sempre verificando a qualidade da fonte, chegará a bons lugares. Basta manter a atenção.; Outra sugestão do professor são os documentários produzidos pela BBC, grande rede de comunicação britânica, de fácil acesso e entendimento.
Formação da identidade nacional
Em arte dramática, garante o professor Cézar, o teatro brasileiro a partir do século 19 ganha destaque. ;É ali o berço do teatro brasileiro propriamente dito. Havia alguma produção desde o século 16, mas o teatro brasileiro, de fato, nasce com autores como Martins Pena;, afirma. ;Em relação a esse período, o que pode ser cobrado é a formação da identidade nacional. Foi nesse tempo que, pela primeira vez, o público brasileiro viu, representado no palco, textos nacionais, interpretados por brasileiros, com histórias do Brasil aquele período.;
O século 20, por sua vez, trouxe contestação e resistência ao panorama artístico conturbado. ;O candidato precisa conhecer os grupos Teatro de Arena, Opinião e Oficina, que tiveram grande participação política, por meio do teatro, durante a Ditatura Militar, sendo amplamente perseguidos. Tornou-se muito difícil dialogar com a plateia e dar o seu recado.; Na contemporaneidade, até o cinema, as séries e as novelas podem entrar no Enem, de acordo com ele. ;Cedo ou tarde, aparecerão temas sobre seriados de TV e como serviços de streaming mudaram nossa rotina;, diz.
Na música, os professores também arriscam algumas sugestões aos alunos. ;Há uma relação forte com a cultura de massa, o debate entre o erudito e o popular. O funk original, que cantava a vida na comunidade (;era só mais um Silva que a estrela não brilha;) tornou-se, de repente, algo diferente. Sem comparações do que é melhor ou pior: é preciso, acima de tudo, entender essas mudanças.; O professor Luiz aposta ainda em movimentos como tropicalismo e seus desdobramentos, que chegam ao manguebit recifense da década de 1990 e o rap. ;O fenômeno social dentro da música;, sintetiza.