Eduarda Esposito*, Felipe de Oliveira Moura*
postado em 25/10/2018 13:36
O auditório do Correio foi palco, na manhã desta quinta-feira (25), da terceira e última oficina de Squarisi visando o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Após a atividade da semana passada, inteiramente dedicada à interpretação de texto e gramática, a professora e editora de Opinião retornou ao tema de redação. Ao longo de três horas, o auditório lotado de estudantes receberam o passo a passo para a melhor escrita, em diversos exercícios práticos, com direito a sessões de respiração e relaxamento e prêmios para os participantes.
Dad Squarisi partiu novamente do conceito de círculo do Zorro para explicar as etapas de aprendizado da escrita. O personagem, ansioso e sem foco, não conseguia combater como pretendia. O mestre que o adotou, então, o orientou a ;começar pelo começo;, por assim dizer. Passo a passo, círculo a círculo. ;Passado um tempo, ele foi ampliando o círculo. Aprendeu a ter técnica e, com a técnica, aprendeu a vencer os inimigos. Aqui, nós iremos fazer como fez o Zorro.;
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Em 2017, apenas 53 estudantes tiraram nota 1.000, de um total de mais de 4,7 milhões de provas corrigidas. Ao contrário do que pode-se supor a partir disso, não há segredos, garante ela. ;Se olharmos algumas redações que alcançaram a nota máxima, disponibilizadas pelo Inep, não são nada excepcionais. Não são geniais, mas estão estruturadas em parágrafos, têm começo, meio e fim, com argumentos simples, porém concatenados.;
Na outra ponta dessa história, 309 mil tiraram nota zero. A maior parte dessas notas são fruto de fuga do tema, segundo a professora. Um erro que pode ser evitado. ;Falta atenção ao tema proposto. Não abordam o aspecto que está sendo pedido, dando a impressão, ao examinador, de que a pessoa decorou um tema.;
Marina Carvalho Silva, 29 anos, conta que está fazendo o Enem pela segunda vez. Na primeira, confessa, não estava muito preparada. ;Através da leitura, tendemos a ter uma facilidade para a escrita. Então, esse é um dos motivos da importância dessa oficina para mim", comenta Marina. Iniciativas como essa ajudam os alunos a aprimorarem sua preparação, garante a estudante. "Somos orientados desde as salas de aula a lermos muitas revistas, jornais e livros. Somos pessoas que lidam com escrita diariamente. Além de aprendermos a aplicar os padrões da norma culta, que é bastante cobrado na prova do Enem, principalmente na redação", explica Marina.
Conhecer as regras do jogo
Fundamental, o primeiro círculo posto por Dad Squarisi falava das regras para a dissertação do Enem. ;O Enem é um jogo e ele tem critérios. É preciso conhecer as regras para vencê-lo. O primeiro critério é o domínio da língua culta. Respeitar concordância, regência, flexão, colocando vírgulas no lugar correto, começar uma frase com letra maiúscula e terminar com ponto final. Não significa escrever de modo complicado, usando palavras difíceis. Basta usar a língua que aprendemos na escola.;
A compreensão do tema, segundo critério, vem da delimitação proposta pelo exame. ;Se a proposta de redação for sobre o voto nulo, não basta falar da história do voto, mesmo que de maneira brilhante, e não falar especificamente sobre a anulação do voto;, exemplifica Dad.
Para a seleção e organização dos argumentos, quarto critério, a professora trabalhou planos concisos de escrita. ;Já o quarto item, a coesão, fala da concatenação de ideias. Vou preencher as informações, dizer coisas com coisas, que modo que as ideias não ;saltem; de uma a outra, sem lógica.;
A proposta de intervenção, particularidade do Enem, faz uma indagação ao autor da dissertação: quem, e de que modo, pode-se resolver um problema? ;Intervenção é entender o que pode ser feito a respeito do tema. Saio de mim e apelo para as instituições, digo o que deve ser feito e nomeio os atores sociais.;
Exercícios práticos
Para exercitar a capacidade de argumentação e construção de textos, Dad Squarisi trabalhou o conceito e aplicação de parágrafos junto aos alunos. Um dos exercícios apresentava uma pequena história de um jovem que vive sozinho e triste, atracado pela sociedade. A partir disso, a professora pediu aos alunos que o fim da narrativa, triste e repentino, fosse contado de outro modo. Ou melhor: que os oficineiros apresentassem, como no Enem, uma proposta de intervenção. ;Para outros concursos, não é preciso, mas, para o Enem, é fundamental entender esse critério;, afirmou Dad.
Raniele Rocha Galvão, 21, fará o Enem pela primeira vez e acredita que ter feito a oficina foi de grande importância na preparação, mas gostaria que tivesse outras. "Acho que deveriam ter mais oficinas como essa, não só de redação, mas sobre outras matérias que podemos aprender mais, como matemática, química, física, literatura", sugere. Para a atividade ocorrida nesta quinta, ela é só elogios. "Uma oficina de muita aprendizagem, é um dia, mas vale a pena, adorei", conta Raniele.
Traçar limites e objetivos também é fundamental, garante Dad. ;Delimitar é estabelecer o limite, escolhendo um aspecto sobre o que falar. Se o tema da proposta é violência trânsito, falo apenas sobre ele. Deixo para lá todos os outros aspectos;, exemplifica. ;A partir daí, penso o que quero apontar. Aonde eu quero chegar? Posso argumentar sobre as causas da violência e sugerir medidas que resolvam a violência;, explica.
Público diverso
;Nunca parei de estudar, sou um aluno constante;, orgulha-se Edilson Morais, 62 anos. Ele é um exemplo do público diverso que comparece às oficinas do Correio. São muitos os perfis de pessoas que fazem o Enem e comparecem às atividades presenciais gratuitas. Mais do que isso, há aqueles que, como Edilson, vêm às atividades de Dad em busca de conhecimento puro e simples. Essa foi a segunda oficina na qual o aposentado compareceu. ;Acho que a Dad tem uma maneira distinta de ensinar. É diferente de estudar apenas pelos manuais de redação. Eu sabia que iriam me acrescentar conhecimento;, afirma.
Formado em pedagogia, contabilidade e, recentemente, em docência em matemática pela Universidade Cruzeiro do Sul, Edilson Morais não pensa em parar. Apesar de não fazer o Enem, se prepara para outros processos seletivos. ;Nessa idade ainda faço concurso. Fiz alguns que não tinham redação, mas os próximos (Banco Central e Tribunal de Contas da União) vão ter;, afirma.
[SAIBAMAIS]
Hugo Camargo, 19, foi à oficina em busca de aprimorar a escrita. O estudante fez o Enem em 2017 e teve um bom desempenho na redação, mas neste ano quer alcançar a nota máxima. ;Tirei 890, uma nota razoável. Acredito que quem tira nota 1.000 chega a esse desempenho justamente porque buscou aperfeiçoamento, dando atenção aos detalhes;, diz. Candidato a uma vaga em medicina, ele se inscreveu de última hora na oficina e não se arrependeu. ;A oficina acrescentou muito, trouxe a estrutura e a possibilidade de interagir com a professora. Sinto que vai pesar na minha nota;, acrescenta.
Aluno do terceiro ano no Centro Educacional Sigma, Bruno Couto, 17, está revisando pelas provas anteriores. Em busca da vaga em engenharia da computação, o jovem pretende fazer o Programa de Avaliação Seriada da Universidade de Brasília (PAS), o Enem e os vestibulares da Fuvest e Unicamp. ;Na oficina, consegui ver coisas diferentes. Achei interessante frisar alguns pontos, ver outras visões de escrita de uma mulher que entende bastante do assunto. Redação não é meu ponto forte, não é a matéria de que mais gosto, mas não apresento extrema dificuldade não;, pondera.
*Estagiários sob supervisão de Ana Sá