Enem

Estudantes se mostram preocupados com aplicação digital do Enem

Alunos temem que falta de estrutura nas escolas prejudique a realização dos testes em computadores. Ministro diz que implementação gradual garantirá o sucesso da novidade

Ingrid Soares, Beatriz Roscoe*
postado em 04/07/2019 06:00
MEC não pretende comprar equipamento, mas utilizar instituições com infraestrutura para o exameO Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será aplicado por meio digital a partir de 2020. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (3/7) pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, e pelo presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes. No ano que vem, segundo o ministério, a prova será oferecida de forma opcional a 50 mil alunos de 15 capitais brasileiras. O valor da inscrição será o mesmo para todos os candidatos.

O objetivo é que, até 2026, as provas sejam feitas integralmente por meio digital. No entanto, alunos e especialistas consideram que, se, por um lado, a iniciativa parece transformadora, por outro, aparenta não levar em consideração as desigualdades regionais e de inclusão digital, além de possíveis problemas de logística e de falta de banco de itens de questões.

O estudante Gabriel Santos, 23 anos, está no segundo ano do cursinho e almeja passar em medicina. Ele fará o exame este ano. Santos não acredita que as medidas anunciadas sejam positivas: ;A maioria das provas é aplicada em colégios públicos, e é só ir a algum colégio para ter noção do estado das máquinas. Acredito que muitos computadores darão problemas e muitos candidatos poderão ser prejudicados;.

Luisa Lambach, 20, também participará da prova em 2019 para tentar uma vaga em medicina. Ela considera que, para o ano que vem, a prova digital não é uma boa opção. ;Os computadores existentes não são tão bons, e pode ser que haja problema. Além disso, o fato de ser digital atrapalha a prova em si. A redação, por exemplo, eu acho importante escrever à mão, fazer rascunho, poder rasurar, pensar, faz parte do processo;, alega.

Sobre o assunto, Weintraub ressaltou que é necessário um olhar otimista para o futuro e que a implementação será feita progressivamente. ;A gente está com um olhar no futuro dentro da realidade atual. A gente vai ter sucesso nisso;, destacou. Lopes, informou que o MEC não investirá na compra de novos computadores para a aplicação do exame e que ;foi levada em consideração a nossa capacidade de expandir o banco de itens;.

;Vamos utilizar a base já instalada não só nas unidades de ensino. No mundo digital, muda. Pode utilizar outras instituições que tenham disponibilizadas salas com infraestrutura de informática para aplicação de prova. É isso que vamos identificar ao longo do tempo;, disse.

Agendamento

Segundo a pasta, a aplicação do Enem neste ano será normal. No caso do Enem digital, será aplicado em 11 e 18 de outubro de 2020. O presidente do Inep afirmou que o objetivo é fazer várias aplicações do exame ao longo do ano, ;por agendamento, como se fosse para tirar o passaporte;. ;O aluno vai escolher a cidade, o dia e vai marcar a prova;, afirmou. ;Aquele aluno que optar pelo Enem digital não será prejudicado, porque se tiver algum problema de logística, de computador, por exemplo, ele será redirecionado para uma reaplicação;, explicou.

Em 2020, portanto, o Enem terá três aplicações: a digital, a regular e a reaplicação. Este último caso é voltado para candidatos prejudicados por algum problema logístico ou de infraestrutura durante a realização da prova digital. Eles terão direito a fazer a prova em papel. O MEC contratará um consórcio para organizar as novas edições do exame e descarta riscos de invasão de hackers ou fraudes.

As capitais que receberão a prova em formato digital em 2020 são: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Economia

O MEC aponta, ainda, a economia que será gerada sem a impressão de papel. ;Somente em 2019, mais de 10,2 milhões de provas serão impressas para o Enem. Os custos da aplicação superam R$ 500 milhões para os mais de 5 milhões de participantes confirmados na edição;, afirmou o órgão. Em 2026, a versão em papel para de ser distribuída e o exame só será em formato digital.

Para a diretora do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa, a tecnologia deve ser entendida como um avanço, mas quando se depara com a realidade do país, de congelamento de investimentos na educação, a meta de tornar 100% digitais as provas do Enem até 2026, parece estar longe de se tornar concreta. ;É uma contradição o ministro anunciar isso. Tem escolas que sequer têm laboratórios. O caminho é esse, mas é preciso que o governo decida se haverá investimento. Tecnologia impõe investimento. Também pode gerar discriminação, pois onde tem estrutura será contemplado. E no interior do país, os alunos ficarão à margem? Mesmo em Brasília, do ponto de recursos tecnológicos, estamos distantes de algo razoável. Não se pode falar de mudança com perspectiva de retrocesso;, apontou.

* Estagiária sob supervisão de Rozane Oliveira

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Ao contrário do que havia determinado o presidente Jair Bolsonaro sobre as provas do Enem, as questões não foram lidas antecipadamente. Segundo o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ;eu não li a prova, o presidente não leu, e o Camilo não leu;, disse. Em seguida, deixou claro que o objetivo é acabar com o viés ideológico das questões nas provas. ;Sobre os funcionários que trabalham conosco, quem não performar conforme o esperado, a gente vai desligar;, afirmou.

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