Daniela Santos*, Jairo Macedo-Especial para o Correio
postado em 30/09/2019 07:00
Para conseguir uma vaga no ensino superior, via Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), medicina continua sendo a área mais concorrida. As engenharias vêm logo em seguida. Novidade? Nem tanto: o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), por meio do qual as instituições selecionam os estudantes, registra, há anos, o curso como o de maior nota de corte. Em 2019, o corte para medicina foi de 765 a 880 pontos, com notas variando de acordo com o curso. Engenharia civil, a segunda colocada, ficou entre 680 e 870.
Na Universidade de Brasília (UnB), medicina também encabeçou as notas de corte (819,54 pontos), seguida por cinco engenharias ; mecânica (770,28), mecatrônica (768,55), computação (765,98), civil (764,95) e elétrica (759,69). Professor de química do curso Ciência em ação, Paulo Valim lida diariamente com as exigências de quem sonha em seguir essas carreiras. Para chegar lá, ele afirma, é preciso ter um desempenho fora da curva.;Temos batido na tecla de que os cursos de medicina são muito concorridos. Neles, a sua margem para erro é muito baixa. Você não pode se equivocar em uma questão fácil, que está sendo acertada pela maioria dos concorrentes.;
[SAIBAMAIS]
Para se diferenciar dos demais e chegar à medicina, Mariana Sernégio, 17 anos, estabeleceu uma rotina para lá de puxada. ;Tem dias que, contando a escola e o cursinho, das dezessete horas que estou acordada, apenas em quatro não estou estudando;, diz a aluna do Sigma, moradora do Guará 1. ;Nos fins de semana, se não tem prova na escola ou no cursinho, eu refaço prova, porque é a melhor forma de se preparar.;
Colega de Mariana, Vítor Dias Corrêa, 17, optou por engenharia elétrica, cuja nota de corte girou em torno de 770 pontos nos últimos dois anos. O curso é outro, mas a correria, muito parecida. ;É bastante pesado. Tenho aulas todos os dias de manhã e, depois delas, fico na escola para estudar até as 19h. Às vezes, participo dos plantões que a escola oferece, mas, na maioria das vezes, estudo por conta própria.;
Conteúdo e estratégia
Criador do canal MetaMED, Thiago Carvalho, 22, tem um histórico de diversas aprovações em vestibulares e, hoje, leciona no Gran Cursos e Curso Albert Einstein, em sobradinho. Apaixonado por exatas e ciências da natureza, ele conta aos alunos que o sucesso em medicina está nessas disciplinas. Mais do que isso, está no modo como o candidato se organiza em direção a elas. ;Orientação e organização é a base de tudo. Mantenha sempre um estudo direcionado, resolvendo questões e revisando aquilo que pesa mais na concorrência;, diz. ;O Enem é metade estratégia, metade conteúdo;, sintetiza.
;Não dá tempo de estudar tudo. Portanto, ter autoconhecimento, definir cronogramas e encontrar um plano de estudos que se encaixe na sua realidade é fundamental;, afirma Julio Sousa, fundador do Projeto Medicina, site dedicado aos candidatos da área. Para ele, resolver questões de edições anteriores e fazer simulados é uma boa maneira de mapear as maiores dificuldades. ;É focar nas matérias que sabe menos e caem mais, o que otimiza os estudos;, recomenda.
;Não existe uma fórmula mágica, mas recomendamos sempre estudar pela manhã e ter acompanhamento à tarde, especialmente a partir de resolução de questões. Não é a quantidade de exercícios que é o fundamental, mas o modo como o aluno os faz, o que ele aproveita da resolução e os pontos que ele trabalha mais a partir dela;, acrescenta Wisner Freitas Araújo, professor de matemática do curso Exatas. ;Em medicina, o grande avanço é o aluno entender a faculdade que ele quer. Isso vai influenciar no peso que cada universidade dá a cada área.;
Ciências da natureza
Pedro Lucas Figueiredo, 18, acredita que as áreas de conhecimento do exame têm ;praticamente o mesmo peso;, na definição dele, exceto ciências da natureza, prova que engloba física, química e biologia. ;Só esta parte tem, sim, um peso maior. Mas, como a nota de corte é muito alta, todas as áreas acabam sendo importantes. O que vai trazer a vaga é acertar as questões que ninguém está acertando, que, no Enem, está nos temas de natureza;, concorda Paulo Valim.
Thiago Carvalho percebe que matemática tem mantido um padrão de dificuldade nos últimos anos, mas física, química e biologia assumiram novas abordagens. ;Houve redução de questões de cálculo na física de dois anos para cá, em função de naturezas ser cobrada no mesmo dia de matemática. A prova de ciências ficou mais teórica;, avalia. A área de ciências foi a única que apresentou queda da média geral, caindo de 510,6 pontos em 2017 para 493,8 no ano passado. ;Houve um aumento de dificuldade, de modo a diferenciar os candidatos nesses cursos mais concorridos;, avalia Thiago.
Letícia Ribeiro, 18, busca se aprimorar nessa área, que considera a mais relevante para alcançar vaga em engenharia de produção. ;Em biologia, estou tentando focar mais em hereditariedade. Em física, em ondas, principalmente;, enumera. ;Em relação à física, os alunos costumam ter muita dificuldade na parte de aplicação das leis de Newton, principalmente em problemas que envolvem atrito e sistema de forças. Além disso, é fundamental compreender que física não é matemática pura e simples, mas compreensão dos conceitos e aplicações;, diz Uesli Reis, professor de física do Ciência em Ação.
Entre os assuntos mais difíceis da disciplina dele, Uesli elenca a análise de circuitos elétricos e compreensão da diferença de grandezas físicas, como potência elétrica. Em química, Paulo Valim recomenda: ;É bom focar em assuntos que têm tradição de cair na prova do Enem, como forças intermoleculares e a sua relação com o ponto de ebulição e solubilidade dos compostos, concentração das soluções, densidade e isomeria espacial.;
Matemática
Julio Sousa classifica a prova de matemática e suas tecnologias como um ;divisor de águas; para quem quer vagas tão concorridas. ;Se todo mundo vai mal em matemática e você acerta muitas questões, sua nota vem muito mais alta. O desvio padrão de matemática é bem maior;, diz ele, lembrando da correção do Enem pela Teoria de Resposta ao Item (saiba mais na página 6).
;Em matemática, tenho treinado raciocínio lógico e tento acelerar meu tempo de prova;, conta Maria Clara Beltrão, 17. ;Acredito que as maiores dificuldades do Enem em matemática sejam nas matérias de ensino médio mesmo, como análise combinatória, probabilidade, geometria analítica, funções, geométrica plana e espacial. E a dificuldade se dá pela má formação na matemática básica;, diz o professor Rafael Procópio, do canal Matemática Rio.
;A matemática do Enem é bem básica e agregada ao cotidiano. Dessa forma, cai muita regra de três, porcentagem e áreas de geometria. Os temas de funções, em geral, têm muita abstração e números, o que os torna mais difíceis;, opina Thiago Carvalho. Para o professor, os assuntos mais aplicáveis ao dia a dia são os de melhor assimilação. ;Quando é cálculo de área ou envolve assuntos financeiros, fica menos algébrico e mais palpável para eles.;
* Estagiária sob supervisão de Jairo Macedo