Enem

150 anos de história do sistema periódico

Formato proposto no século 19 organizou e sistematizou mundialmente o conhecimento dos elementos químicos, após diversas tentativas de outros cientistas

Jairo Macedo-Especial para o Correio
postado em 07/10/2019 07:00
Sempre presente nos estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a tabela periódica ganha relevância dobrada em 2019 pela comemoração dos 150 anos de sua criação. É o que acredita a professora Juliana Gaspar, do Sigma. ;Não é cobrar a data em si, pois não é o perfil do exame, mas perguntar algo que contextualize o desenvolvimento da tabela, como se chegou à montagem tal qual conhecemos hoje. O Enem já perguntou isso e pode perguntar novamente;, diz.

Laura Orlando: %u201CAs ciências da natureza são fundamentais para quem quer medicina como eu%u201D
Para Juliana, o ensino da tabela deve ser introduzido também com base nos parâmetros históricos da criação de Mendeleev. ;A tabela não foi obtida do nada, há todo um histórico. Na ciência, nada é feito de um dia para o outro;, aponta. ;Lembro que, quando vi pela primeira vez a tabela na escola, li nos livros toda a contextualização de como se chegou até lá ao longo da história;, recorda Laura Orlando, 17 anos. ;Para quem quer fazer medicina como eu, as ciências da natureza fazem toda a diferença;, acredita a aluna do Sigma.

;É importante que o aluno, neste ano, saiba da evolução da tabela periódica. Inicialmente, Mendeleev a organizou de acordo com as massas dos elementos químicos. Atualmente, esta divisão é feita considerando os números atômicos;, explica Igor Saburo. É fundamental, também, que o candidato lembre-se dos principais elementos de cada família: ;Aqueles representativos, que encontram-se nos blocos S e P da tabela. Reconhecer elementos metálicos e não-metálicos e as propriedades periódicas, principalmente a eletronegatividade;.
[SAIBAMAIS]
O formato proposto por Mendeleev veio depois de diversas elaborações de outros cientistas por critérios de periodicidade. Antes dele, ainda no início do século 19, os químicos já conheciam, de 30 elementos, características como densidade, massa atômica, reatividade, estado físico e ponto de fusão e ebulição. Houve tentativas de organizá-los de modo que aqueles com propriedades semelhantes ficassem agrupados de três em três e, depois, de sete em sete, em ordem crescente de massa atômica. Em outra tentativa, no chamado Parafuso Telúrico, eles eram agrupados em ordem crescente de massa atômica em formato de parafuso, em espiral de 45;, com 16 elementos em cada volta. Nela, os componentes parecidos se agrupavam um embaixo do outro.

;A grande ;sacada; de Mendeleev foi fazer algumas previsões de elementos que surgiriam no futuro, baseado na sequência de números atômicos. Como já existiam bastante elementos descobertos, ele foi caracterizando-os e notando os elementos faltantes, que ocupariam aquele espaço. Ele não sabia qual seria, mas já poderia deduzir que haveria um novo ali;, aponta o professor de química da UnB Eduardo Cavalcanti. Nos anos 1950, em homenagem ao cientista russo, o elemento atômico de número 101 recebeu o nome de Mendelévio (Md).

Classificação e novos componentes
Na tabela periódica, há alguns grandes grupos, cujos elementos são separados pelas suas características. Uma dessas separações é entre artificiais e naturais. Outra classificação envolve quatro grandes grupos: metais, ametais, semimetais e gases nobres, além de hidrogênio, que figura sozinho.

Juliana Gaspar resume cada um deles: ;Metais são bons condutores de calor e eletricidade. São sólidos na temperatura ambiente, exceto o mercúrio. Eles têm brilho metálico e alto ponto de fusão e ebulição. Os ametais são o contrário: são mau condutores, de baixos pontos de fusão e ebulição, podendo se apresentar nos três estados físicos, o líquido, sólido e gasoso;. Os semimetais têm características intermediárias entre os dois grupos. ;Já os gases nobres são todos gasosos e de baixa reatividade e o hidrogêneo, que não tem nenhum grupo, tem características muito próprias.;

A atual tabela conta com 118 componentes conhecidos. O frâncio (Fr), de número 87, foi o último elemento químico natural catalogado, ainda em 1939. ;As mudanças não ocorrem com constância. Passamos décadas sem novos registros;, observa Eduardo Cavalcanti. Ele lembra que quatro elementos sintéticos (não encontrados na natureza) foram nomeados em 2016 e ratificados no ano seguinte, durante o 46; Congresso Mundial de Química da União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), no Brasil. Nihonium (Nh), moscovium (Mc), tennessine (Ts) e oganesson (Og) passaram a ocupar a sétima linha da tabela.

Diálogos possíveis
No uso da tabela periódica, o professor de biologia Kennedy Ramos, do Bioexplica, enxerga correlações com a disciplina dele. ;Não é só importante para química, mas para biologia também. Em muitas questões do Enem, você deve saber o símbolo do elemento, especialmente quando falamos de sais minerais;, diz o professor.

Ele lembra de questão recente sobre o ciclo de nitrogênio. ;Nela, mostrava-se um contexto e pedia-se o elemento mais oxidado do ciclo de nitrogênio. Pela química, poderia pegar o que ele mostrou na tabela e ver qual era o elemento mais oxidado. Pela biologia, um bom aluno saberia que nitrato é o que a planta vai precisar no final do ciclo de nitrogênio, em processo que chamamos de nitrificação.;
Alice Diniz: %u201CProfessores sempre citam Brumadinho e Mariana%u201D
Da mesma forma, a contextualização típica do exame pode dialogar com o noticiário ou produções audiovisuais. Desastres ambientais na área de mineração, como em Mariana (MG), em 2015, e em Brumadinho (MG), em 2018, são constantemente lembrados em sala de aula, segundo Alice Diniz, 17. ;Os professores sempre citam os casos das barragens. É isso o que cai no Enem: o conteúdo aplicado;, sintetiza. ;Neste ano, pode haver questão de bioacumulação de metais pesados. Ter noção desse metais na tabela ajudam a entender como é essa família;, explica o professor Gabriel Cabral.
Otávio Blank: %u201CChernobyl tem tudo a ver com a prova%u201D
Otávio Blank, 17, lembra ainda da série Chernobyl, lançada neste ano, que retrata o maior acidente nuclear da história, ocorrido na cidade ucraniana em 1986. ;Ela trouxe de volta o tema. Toda a história envolvendo a usina nuclear é possível de ser contextualizada na prova. Tem tudo a ver;, garante o jovem.

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