Daniela Santos*, Jairo Macedo-Especial para o Correio
postado em 14/10/2019 07:00
Os temas caros ao debate público têm espaço certo no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019. Não poderia ser diferente. As áreas de conhecimentos cobradas, especialmente as de linguagens, redação e ciências humanas, têm no noticiário um importante auxílio para introduzir temas do ensino médio e medir a capacidade do candidato de estabelecer correlações. Portanto, um olho no livro e outro nos jornais: as atualidades sempre caem, ainda que indiretamente, no Enem.
;O que está no noticiário tem muita influência, sem dúvida;, assegura Paulo Macedo, professor e coordenador de geografia do Colégio Sigma. ;A gente costuma pedir aos alunos que leiam o que está em pauta, se possível diariamente, em mídias que tenham credibilidade dentro e fora do país. Nada de mensagens encaminhadas pelo Whatsapp: as fake news, cada vez mais intensas dentro do país, são perigosas. Vivemos e debatemos muito sobre elas no último ano.;
Mas calma lá. Ricardo Marcílio, professor de atualidades e geografia do Descomplica, explica que o método do exame não espera que o candidato ;aprenda; uma notícia, mas que ele entenda como ela se encaixa em conteúdos consagrados em sala de aula. ;O Enem faz uma contextualização para as questões com alguma notícia ou outro texto, fazendo relação com o tema;, explica.
[SAIBAMAIS]
;Digamos que a questão seja aberta por um texto sobre a reforma da previdência. Ele estaria ali para discutir a pirâmide etária brasileira, tema de geografia. As atualidades servem como pano de fundo para um conteúdo mais científico em seguida;, exemplifica o professor.
Além disso, Paulo Macedo observa que as atualidades cobradas não vêm tão em tempo real como acreditam alguns. O que ocorreu no mês passado não vai cair, é claro. ;Não cai o que aconteceu neste semestre, mas as atualidades dos últimos dois ou três anos que ainda hoje ressoem.;
A própria logística do exame, que exige seleção e pré-testes de questões coletadas de banco de questões, assim como intrincado processo de impressão e distribuição das provas pelo país, impede que isso ocorra. ;A prova está pronta há algum tempo. Pense que ela deve chegar, digamos, nos confins da Amazônia ou nas regiões mais remotas do país. O mais legal do Enem é justamente ser nacional, vai para todos os cantos do país.;
Geopolítica
André Machado, 17 anos, acredita que o exame tem predileção, de maneira geral, para os conteúdos contemporâneos. Fã das aulas de filosofia e geografia, o estudante, que está de olho em vaga em ciências econômicas, espera temas brasileiros em pauta. ;Eu diria que vai cair assuntos voltados para o Brasil, porque o Enem explora a realidade do nosso país. Talvez mobilidade urbana, situação ambiental, violência e exploração contra as crianças.;
O leque de assuntos é amplo e envolve economia, política e ambiente. Ricardo Marcílio enumera diversas possibilidades. ;O estado islâmico e os conflitos na Síria, por exemplo, retornam sempre ao debate. A Guerra Civil naquele país já foi assunto de questões anteriores, inclusive. Além disso, é importante que o aluno se informe sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e China, e os impasses atuais da União Europeia.;
As expectativas de Paulo Macedo rondam temas semelhantes. ;Me instiga muito a Primavera Árabe. É bom atentar também para o número grande de refugiados, o que gerou vários problemas dentro do cenário europeu, especialmente. Pode ser relevante inclusive com a possibilidade de ir para a redação.;
Brasil e ambiente
Em termos nacionais, a imigração também é relevante. ;É latente. O próprio Brasil recebeu uma grande quantidade de refugiados, como bolivianos, haitianos e, ultimamente, venezuelanos;, diz Macedo. Temas brasileiros que gerem polêmicas e debates que o governo federal considere ;ideológico; devem ficar de foram, segundo o próprio Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame. ;Não é segredo para ninguém que a seleção de questões deve vir mais branda. Espero pouca política brasileira, mas, de todo modo, as matrizes e o banco de questões já estão postos;, diz Ricardo Marcílio.
Sendo assim, Manuela Alves, 17, desvia olhar para outros temas de relevância. ;Assuntos menos polêmicos também são importantes. O ambiente, por exemplo, seria um bom assunto para cobrarem. Nada nem muito conservador ou liberal, vai ser bem meio termo, imagino.;
Este será, em humanas, um Enem mais ;raiz;, na definição bem-humorada de Paulo Macedo. ;Serão questões voltadas para o conteúdo que consideramos tradicional. Aposto em temas urbanos, econômicos e geografia física. Nesta, espero que usem atualidadea para falar de fuso horário, cartografia, relevo e clima.;
* Estagiário sob supervisão de Jairo Macedo