Enem

Confira dicas de candidatos nota mil em redação

Dos 4,1 milhões que fizeram as provas em 2018, apenas 53 candidatos, cuja maioria é de mulheres, alcançaram a nota máxima. Alunos contam que otimizar os exercícios de escrita e ter o que dizer sobre diversos temas é fundamental

Jairo Macedo-Especial para o Correio, Daniela Santos*
postado em 28/10/2019 07:00
Na reta final para a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, a ser aplicada em 3 de novembro, é fundamental ter em mente os formatos e temas que guiam a prova. Melhor ainda é pensá-los junto a quem alcançou a excelência na dissertação e pode contar a sua história. Em busca de inspiração e referência, o Correio buscou alguns representantes do seleto grupo de 53 candidatos ; de um total de 4,1 milhões! - que tiraram mil pontos em 2018, a nota máxima em redação. Em comum, eles trazem a importância do treino, do feedback dos professores e do acúmulo de bagagem cultural para gastar no grande dia.
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;Redação é prática e repertório sociocultural;, sintetiza Fernanda Santos, 19 anos, ex-aluna do Colégio Bernoulli e, hoje, aluna de medicina na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Desde que fez o Enem pela primeira vez, em 2016, ela empreendeu um crescente de qualidade que lhe trouxe a nota máxima. ;O que aprendi, de lá para cá, foi a estrutura. Só com a compreensão da montagem da dissertação, de ter o que dizer e de chegar a um texto conciso, consegui a nota;, afirma.

;Além de repertório, os corretores avaliam os conectivos que o estudante colocou na redação. A falta deles entre os períodos afeta a coesão e a coerência;, opina o paulistano Lucas Felpi, 18. Hoje, o aluno nota mil cursa Ciência da Computação e Ciências Políticas na Universidade de Michigan, Estados Unidos, vagas alcançadas via SAT (;O Enem americano;, na definição dele). De lá, Lucas produz conteúdo no YouTube e Instagram sobre o exame. ;Considero o Enem uma prova difícil. Exige dois dias de cinco horas de prova, com todas as disciplinas e redação, e apenas uma vez por ano.;

Em 2018, as mulheres foram ampla maioria na nota mil, com 76% do total, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Além disso, mais de 81 mil delas tiveram resultado entre 900 e mil. Minas Gerais e Rio de Janeiro foram os estados com mais notas máximas, com 14 candidatos cada um. No Centro-Oeste, apenas cinco pessoas alcançaram a marca ; todas mulheres, três delas no Distrito Federal.
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Natália Patrício, 20, foi uma delas. A moradora do Gama chegou a alcançar uma vaga em biologia na Universidade de Brasília (UnB). Matriculada, descobriu que não era bem o que queria. ;Daí tranquei a graduação, fiz dois anos de cursinho e passei pelo Enem;, conta ela, que se preparou no colégio Leonardo Da Vinci nesse período e hoje faz medicina na Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS). ;Sempre cai algo de importância na sociedade, como violência contra a mulher e pessoas com deficiência auditiva;, exemplifica. Paralelo à faculdade, ela dá plantão de redação em cursinho em Taguatinga.

;Fiz o Enem três vezes, e minha evolução foi grande. Antes, tinha facilidade nessa área, mas não conhecia a estrutura da prova;, conta Iohana Freitas, 19, ex-moradora do Riacho Fundo I, no DF. Atualmente, ela vive no Rio Grande do Sul, onde cursa a Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande (FAMED/FURG). ;A redação no Enem é como uma matéria em si. Tem estrutura e complexidade única.;

Leitura e escrita

Mais que escrever várias dissertações por semana, vale otimizar o ato da escrita, segundo os alunos nota mil. É o que pensa o paulista Fabrício Vitorino, 19, que se preparou pelo canal on-line ProEnem e hoje faz medicina na UFMG. ;Escrevia só uma ou duas por semana. Vejo que muita gente escreve demais, mas erra os mesmos erros. Eu via tudo que estava errado a partir da correção e sanava minhas dificuldades.;

Natália Patrício escrevia pelo menos um texto semanal. ;Você não vai corrigir os erros se não tiver retorno;, diz.

Intervenção

Sem bolas de cristal para adivinhar o tema, ter repertório para transitar entre assuntos é fundamental. Em 2018, a proposta foi ;Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados da internet;, algo tão atual quanto amplo. Muitos deduziram: a redação era sobre fake news. ;Não era esse o tema!”, discorda Natália. ;É um viés que até citei, mas foquei mais nos algoritmos e manipulação de dados. Pensei em como a gente dá like em algo nas redes e aquilo começa a aparecer mais para nós.;

Iohana também se assustou, a princípio. ;Respirei fundo e prestei atenção nos textos motivadores. Usei a minoridade intelectual, de Kant, e cegueira moral, de Saramago.; Fernanda Santos buscou o filósofo Zygmunt Bauman e o filme Matrix. ;Falei do controle do comportamento pelas máquinas e alienação. As pessoas perdem a capacidade de formular pensamento crítico em função de algoritmos;, diz.

Entre as competências, chama a atenção dos candidatos de sucesso a argumentação e a necessidade de intervenção. ;O que é fundamental é a argumentação. Nos parágrafos de desenvolvimento, ter o que falar. O projeto de texto precisa ter começo, meio e fim, sempre muito conectados entre eles, deixando claro o que e como eu queria dizer algo, e a forma com que concluiria;, opina Iohana. Sobre a intervenção, Lucas Felpi diz: ;A ideia é que você encontre uma forma de amenizar as consequências ou eliminar as causas do problema da proposta;.
Confira na íntegra as redações nota mil no site
* Estagiária sob supervisão de Jairo Macedo

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