Correio Braziliense
postado em 12/05/2020 06:00
As inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) começaram ontem, em meio a críticas ao governo. Especialistas, ativistas, entidades da sociedade civil, parlamentares e até estudantes defendem que a prova seja adiada, por causa da pandemia da covid-19. Com o distanciamento social que levou à suspensão das atividades escolares, muitos adolescentes ficaram sem aula, principalmente, os de comunidades mais pobres, com dificuldade de acesso a livros, computadores e internet. Em conversa com o Correio, o principal responsável pelo processo, o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, defendeu a manutenção da data de realização da prova, mas admitiu que o adiamento não está descartado.
“Essa discussão é prematura. Não é o momento de se discutir isso, mas de garantir a execução do Enem. Vencemos a etapa do pedido de isenção. Falavam que as pessoas não conseguiriam fazer o pedido por falta de internet, mas 3,4 milhões pediram (isenção) e 70% usaram o celular. Para garantir a cobertura, também estamos garantindo a isenção administrativamente, para as pessoas que têm o direito”, argumentou Lopes. “Esta é uma das etapas mais importantes do Enem, o pedido de inscrição. Este é o momento. A procura tem sido boa. Só pode fazer o Enem quem fez a inscrição. Estamos garantindo isso e, a partir daí, as etapas necessárias.”
O presidente do Inep explicou que qualquer mudança de data ocorrerá com as demais etapas garantidas e que será uma decisão técnica. Afirmou, também, temer que a prova não ocorra em 2020 e que isso tiraria a oportunidade de muitos candidatos, não apenas quem está terminando o ensino médio, mas quem já terminou e tenta vaga em cursos mais concorridos ou quem decidiu se especializar mais tarde na vida. “Por isso, eu digo. As datas estão mantidas, mas poderão ser modificadas se houver motivos e decisão técnica. Estamos garantindo que tenhamos tudo pronto: local, segurança, provas impressas. Nosso foco é esse. Não estou discutindo datas de provas, mas as inscrições”, frisou. Lopes destacou que o Inep está atuando com o Conselho Nacional dos Secretários de Educação para garantir que todos os estudantes de escolas públicas se inscrevam.
Diferenças
O gerente de estratégia política da ONG Todos Pela Educação, Lucas Fernandes, ressaltou que já existe forte desigualdade no ensino entre estudantes de escolas particulares e públicas e que esse abismo se tornou maior com a paralisação das aulas em decorrência da pandemia. “Ainda que o Brasil seja um país desigual, o Enem não pode promover desigualdade. Todas as escolas do país estão com aulas suspensas, e a sustentação de aulas remotas é muito heterogênea”, destacou. “Estados diferentes recebem recursos diferentes, e escolas privadas fazem isso com uma facilidade maior do que públicas. Hoje, 60% dos inscritos no Enem são de escolas públicas.”
O presidente da Comissão de Educação da Câmara, Pedro Cunha Lima (PSDB-PB), vai pelo mesmo caminho. Para ele, adiar o Enem está “além de uma necessidade”. “É uma obviedade. Temos 6,6 milhões de estudantes sem acesso à internet, sem contar as internets precárias, que o banco de dados termina, isso quando se recebe a videoaula. São milhões de estudantes sem livro, sem ambiente de estudo, de famílias que perderam 100% da renda e vivem um drama diário”, argumentou. “A realidade do país grita por uma necessidade de adiamento da prova, por não haver chance real de disputa.”
Acesso desigual
Um balanço da ONG revela que 44% dos domicílios de zona rural têm acesso à internet. Isto é, menos da metade. Na zona urbana, são 70%. “Só que, quando a gente olha por classe, A e B concentram 96% do acesso, e D e E, 41%. A nossa avaliação é de que a prova precisa ser adiada e sua volta, pactuada com os estados”, disse Fernandes.
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