Enem

Em carta, aluna de Taguatinga pede ao ministro para adiar o Enem

Nas redes sociais, a aluna do 3º ano do ensino médio do CED 6 Luiza Vitória da Cruz publicou a mensagem pedindo o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio

Ana Lídia Araújo*
postado em 13/05/2020 16:33 / atualizado em 16/09/2020 12:56
Com o início das inscrições e manutenção das datas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a estudante do 3º ano Luiza Vitória da Cruz decidiu escrever uma carta ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, pedindo o adiamento da prova. 

A mensagem foi publicada nas redes sociais, após a jovem não conseguir enviar pelo portal do Ministério da Educação (MEC). Luiza Vitória estuda no Centro Educacional (CED) 6 de Taguatinga. E, como estudantes do resto do país, teve as aulas presenciais suspensas em razão da pandemia.

Neste momento, o que preocupa secundaristas é a ampliação das desigualdades no que se refere à preparação para o exame. Enquanto muitos alunos de escolas particulares continuam tendo aulas on-line, muitos da rede pública de ensino seguem sem nenhum acompanhamento.  

Em casa, Luiza estuda por meio de plataformas virtuaisMesmo em meio a polêmicas e protestos virtuais contra a manutenção do atual cronograma do Enem, além da pressão de parlamentares, o MEC segue irredutível quando o assunto é calendário do Enem. 

 
Após assistir à campanha publicitária do exame, que defende a validade das datas, a aluna do Centro Educacional 6 de Taguatinga resolveu escrever a carta. “Eu fiquei chocada, não só por mim, mas por todos os estudantes”, relata Luiza. “É um absurdo ele permanecer com as datas porque nós, alunos da rede pública, não temos como nos preparar”, desabafa.


O que mais incomodou a aluna no comercial foi a frase “estude de qualquer lugar, de diferentes formas, pelos livros, internet, com a ajuda a distância de professores”. Para ela, continuar estudando da forma como a propaganda prega não é possível sem nenhuma medida do governo para ajudar. “Precisava tomar alguma iniciativa”, conta. 


O comercial e as falas do ministro acerca do exame indignaram a jovem. Ela escreveu a carta e tentou enviar ao MEC pelo “Fale Conosco” do site. No entanto, a plataforma apresentou erros, e a mensagem não foi enviada. 


A estudante Luiza Vitória da Cruz com o rascunho da cartaEntão, ela colocou a publicação nas redes sociais Instagram e Twitter. A estudante relata que a postagem foi republicada por amigos e colegas que compartilham da mesma opinião. No dia a dia, Luiza se prepara para o Enem e vestibulares do jeito que pode. 

 
Depois do almoço, reserva cerca de quatro horas para estudar. “Eu procuro plataformas on-line, vejo vídeos no YouTube ou no Descomplica, que é um cursinho pago”, conta. Luiza lembra ainda que, para alunos da rede pública, a preparação é ainda mais difícil, uma vez que o ano letivo é baseado na semestralidade. O que quer dizer que os estudantes não têm aulas das mesmas disciplinas o ano inteiro: algumas são vistas só no primeiro ou só no segundo semestre.



Confira a carta de Luiza Vitória na íntegra:



“Distrito Federal, 5 de maio de 2020


 

Caro Ministro Weintraub,


Como estudante do Ensino Médio e jovem preocupada com a atual situação do nosso país, não pude me conter diante das declarações absurdas que Vossa Excelência tem dado sobre a permanência das datas do Enem. Por conta disso, resolvi escrever-lhe para mostrar o quão equivocada é a defesa dessa medida.


Por mais que o Enem seja realizado ao final do ano, “lá em novembro”, como o senhor declara em muitas de suas postagens, deve-se levar em conta que metade do ano letivo foi perdido por conta do novo Covid-19 e até então não sabemos quando acabará a pandemia ou quando haverá uma vacina para cura ou prevenção desse vírus e, por conseguinte, as escolas devem permanecer fechadas para a segurança de todos. No entanto, a paralisação do ano letivo tem acarretado grandes problemas no que se refere ao processo de aprendizagem dos alunos, principalmente àqueles que não têm acesso aos meios de estudo à distância como a internet ou livros didáticos.


O senhor já se pronunciou sobre isso, juntamente com o Senhor Alexandre Lopes, presidente do INEP, e declarou que está ciente dessa explicita desigualdade, tratando-a como justa: 


“Eu sei que o Coronavírus atrapalha um pouco, mas atrapalha todo mundo. E como é uma competição, tá justo. Continue estudando, continue se preparando.” 


Também há um discurso parecido na Propaganda do MEC sobre o Enem, onde quatro atores adolescentes dizem que "a vida não pode parar" e pedem para os estudantes estudarem de qualquer lugar e de diferentes formas.


Mas não está levando em consideração que uma significante parte dos jovens, sem a escola, estão impossibilitados de estudar por falta desses meios de ensino à distância anteriormente citados.


Assim, senhor Ministro, termino minha carta com a certeza de que, eu e outros milhões de jovens que defendem o mesmo posicionamento, não seremos vítimas de tamanho descaso vindo de alguém tão bem instruído. Afinal, sua posse do cargo de Ministro da Educação tem como objetivo visar o melhor para todos os estudantes, e não apenas uma pequena parcela já beneficiada naturalmente por sua condição financeira e posição social. O que pedimos são as mesmas condições de ensino até que tudo fique bem. Igualdade, senhor Weintraub. 

Seguiremos cobrando-a enquanto no poder estiverem pessoas incapazes de nos dá-la, como parece ser o caso agora.



Grata pela atenção.”


*Estagiária sob supervisão da subeditora Ana Paula Lisboa

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