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Problema começa na falta de alfabetização

Segundo o Ministério da Educação, a cada 20 crianças de até 8 anos, três não sabem ler ou escrever. Situação é mais grave nas regiões Norte e Nordeste

postado em 05/09/2012 08:00
Crianças em Alagoinha (PE) precisam recorrer a condução irregular para ir à escola. Falta de infraestrutura contribui para o baixo índiceNinguém duvida do salto quantitativo do Brasil no ensino fundamental, com quase 98% das crianças de 7 a 14 anos matriculadas. A baixa qualidade da educação, porém, é verificada logo na aprendizagem de um conteúdo que pode definir a vida intelectual do aluno: a alfabetização. Dados do Ministério da Educação (MEC), com base no Censo 2010, mostram que a cada 20 crianças de até 8 anos no país, três não sabem ler ou escrever. O número fica pior nas regiões Norte e Nordeste. No Pará e Maranhão, por exemplo, beira os 40% a proporção de meninos e meninas nessa situação. Um grande plano para combater o problema já foi fechado pela pasta e aguarda espaço na agenda da presidente Dilma Rousseff para fazer o lançamento.

Intitulado de Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, o projeto prevê o treinamento de aproximadamente 300 mil professores alfabetizadores no Brasil. Cerca de 5 mil municípios, nas 27 unidades da Federação, já aderiram ao programa do governo federal, gerenciado pelo MEC. A ideia da pasta é implantar pólos de formação presencial, onde haverá um encontro por mês. O resto do curso, que terá duração de dois anos, será feito por meio de materiais específicos. Novos livros didáticos para o ciclo de alfabetização ; do 1; ao 3; ano ;, já foram comprados e chegarão às escolas em janeiro, segundo o secretário de Educação Básica do MEC, Cesar Calegari.

Calegari explica que o programa não lançará mão de métodos revolucionários de alfabetização. ;A metodologia será totalmente vinculada à prática dos professores alfabetizadores na sala de aula. É menos teoria e mais prática. Eles aprenderão como lidar com as dificuldades dos alunos, com a diversidade das turmas;, diz Calegari. Para ganhar o engajamento da categoria e evitar a evasão ao longo do curso oferecido pelo governo federal, o MEC dará uma bolsa de ajuda de custo para quem se interessar. ;Não estão definidos os valores ainda, mas é para cobrir gastos e incentivar mesmo, já que o professor terá que estudar aos sábados;, explica o secretário.

Para Anna Cristina de Araújo Rodrigues, pós-graduada em gramática da língua portuguesa pela Universidade de Brasília e com experiência de 20 anos em sala de aula, inclusive como alfabetizadora, investir no professor é fundamental para melhorar a etapa escolar. ;A falta de preparo do docente, que não recebe formação adequada no seu curso de pedagogia ou de magistério, está entre as muitas causas da alfabetização deficiente. O profissional sai um generalista, o que dificulta a vida em relação ao processo de alfabetização;, destaca a especialista. ;E, infelizmente, o professor de hoje, que será uma referência na vida do aluno durante muito tempo, tende a ser alguém que lê pouco.;

O próprio currículo, na avaliação dela, também é um empecilho para a plena alfabetização. ;Saber decodificar as letras é uma coisa. Mas a alfabetização se estende um pouco, até o momento em que a criança sabe não só ler, mas entender o que leu, e também escrever, o que é muito mais difícil. Acontece que a escola, os currículos, as gramáticas querem logo que o menino aprenda classes gramaticais, depois sintaxe. E quando o aluno se vê no ensino médio, precisando escrever um parágrafo para fazer o Programa de Avaliação Seriada (PAS), por exemplo, percebe que não sabe escrever;, diz a professora. Mas não é só a experiência dentro de classe que pesa para a qualidade do ensino, completa, a vivência fora dela também é importante. ;A criança que convive com pais instruídos, que leem jornal, terá desempenho melhor.;

Ambiente
As condições de vida e de acesso à escola são outro ponto fora do alcance dos professores que podem ajudar ou atrapalhar na alfabetização. ;O Norte e Nordeste são locais historicamente mais defasados em termos educacionais, onde há os mais altos índices de analfabetos, além de dificuldades de toda ordem;, ressalta Anna Cristina. Ela cita escolas distantes de casa e ambiente doméstico desestruturado, entre outros pontos, como fatores que podem levar a problemas na escola. ;É um conjunto de fatores que leva aos índices elevados de analfabetos funcionais no Brasil, ou seja, aqueles que reconhecem as letras e palavras, mas não conseguem compreender.;

Para Maria de Salete Silva, coordenadora do Programa de Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), chegar à metade da primeira etapa do ensino fundamental alfabetizado é o mínimo que se pode esperar de um sistema educacional. ;Essa questão da idade já foi muito discutida. Por que oito, se as crianças começam a serem alfabetizadas antes, com seis? Acredito que isso é o que menos importa. O que queremos é toda criança que termina o 3; ano, considerada a etapa final do ciclo de alfabetização, plenamente alfabetizadas. Não é saber desenhar o próprio nome, mas, sim, escrever, ler e interpretar;, destaca Salete.

O alerta faz sentido se considerados os últimos dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), criado em 2001 pelo Instituto Paulo Montenegro e mensurado pelo Ibope. Os números mais recentes, divulgados em julho, mostraram que somente 3% da população adulta brasileira (15 a 64 anos) que fez até a 4; série (atual 5; ano) é plenamente alfabetizada. A maior parte, 44%, tem alfabetização rudimentar, ou seja, localizam uma informação explícita em textos curtos e familiares, leem e escrevem números usuais e realizam operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias. Quando a análise envolve quem terminou o ensino fundamental, o Inaf revela que um em cada quatro brasileiros ainda estão classificados no nível rudimentar.

;Saber decodificar as letras é uma coisa. Mas a alfabetização se estende um pouco, até o momento em que a criança sabe não só ler, mas entender o que leu, e também escrever, o que é muito mais difícil;

Anna Cristina de Araújo Rodrigues, especialista


Categorias
O Inaf define quatro níveis de alfabetismo em duas categorias. Na de analfabetos funcionais, há os analfabetos ; que não conseguem ler palavras e frases, embora uma parcela saiba ler números familiares ; e os alfabetizados em nível rudimentar, com pouca desenvoltura. Nos funcionalmente alfabetizados, existem os de nível básico ; que leem e compreendem textos de média extensão, números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e têm noção de proporcionalidade ; e os de nível pleno. Esses últimos compreendem e interpretam e analisam textos mais longos

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