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Em busca da cantina saudável

Manual incentiva a boa alimentação nas escolas particulares. No Distrito Federal, 18,2% dos 200 mil alunos da creche ao ensino médio já se encontram acima do peso

postado em 07/09/2012 10:50

Paulo Heerdt e os filhos Gabriel, 4 anos, Betina e Cecília, de 7 anos, que carregam lancheiras com frutasA partir do momento em que as crianças começam a frequentar escolas, a responsabilidade sobre a alimentação delas passa a ser compartilhada com a instituição escolar escolhida pela família. As cantinas estão cheias de tentações para as crianças, como salgadinhos fritos, assados e industrializados, refrigerantes, balas e doces. Por mais que muitos pais se digam preocupados com a saúde alimentar de seus filhos, em 2011, uma em cada três crianças entre 5 e 10 anos estava acima do peso no Distrito Federal, segundo dados Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), coordenado na SES-DF pela Gerência de Nutrição (Genut).

A influência dos lanches tomados nas escolas pode ter sido determinante para isso. Para tentar reverter esse quadro, que se repete no resto do país, o Ministério da Saúde lançou na quarta-feira o Manual das cantinas escolares saudáveis: promovendo a alimentação saudável. O documento é resultado do acordo de cooperação técnica assinado entre o ministério e a Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), que tem perto de 18 mil associadas. O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Sinep-DF) é filiado à federação e responsável pelas 450 escolas da rede privada local.

Essas unidades atendem em torno de 200 mil alunos da creche ao ensino médio. Há cerca de dois meses, os filhos do advogado Paulo Heerdt, 71 anos, integraram esse número. Ele se mudou com a família de Porto Alegre para Brasília e matriculou Betina e Cecília, de 7 anos, e Gabriel, de 4 anos, em uma escola particular da Asa Norte. A ideia dos pais é que eles cresçam sabendo o que é bom para a saúde. ;Fritura, por exemplo, não é vedada, mas reduzida ao máximo. Em casa, eles bebem só suco e ,na escola, água. Todos levam lancheiras com frutas;, afirma. Ele teme a influência das outras crianças nos hábitos dos filhos, mas diz que faz o que pode para que eles saibam o que é melhor.

Por outro lado, a servidora pública Débora Martins, 42 anos, deixa que a filha Maria Eduarda, 7 anos, coma na cantina da escola. ;Ela come salgado, pizza, o que tiver. Ela é um tanto complicada para comer e eu acabo cedendo;, explica. Em casa, a menina ingere algumas frutas e o arroz e feijão de todo dia, mas tem resistência às carnes. ;Frango ela não gosta, só quando tem na empada;, lembra a mãe. Débora não acredita que a filha possa engordar a ponto de ter problemas. De acordo com ela, a dificuldade é justamente fazê-la comer.

Débora Martins e a filha Maria Eduarda, 7 anos: salgadinhos e pizzaCooperação
A coordenadora-geral de alimentação e nutrição do Ministério da Saúde, Patrícia Jaime, explica que a obra foi pensada para ajudar as escolas a transformarem suas lanchonetes, mas o documento está disponível no portal da pasta para todas as instituições interessadas. ;Esperamos um efeito rápido. O termo de cooperação tem duração de três anos, mas a expectativa é de que em seis meses as escolas consigam alcançar uma cantina perfeita porque a cartilha dá instrumentos para isso;, analisa. Na opinião dela, as crianças têm bom potencial para disseminar em casa o que for aprendido sobre alimentação saudável.

A maior parte dos alunos que não se alimenta adequadamente engrossa as estatísticas de sobrepeso. Em todas as capitais brasileiras, a rede privada tem percentual maior de crianças com esse problema que a rede pública de ensino. A maior discrepância é em Macapá, na qual 30,4% dos matriculados nas instituições privadas têm sobrepeso, enquanto nas públicas são 12,5%. Em Brasília, 18,2% estão acima do peso nas escolas particulares, e 13,1%, nas públicas.

Nutricionista e consultora técnica de uma escola particular da Asa Sul, Débora Barbosa Ronda observa que, não só quando comem na cantina da escola as crianças se alimentam mal. ;Muitos pais mandam lanches rápidos, mais fáceis do que preparar alguma coisa saudável;, comenta. Ela entende que os hábitos alimentares são formados na infância, e as crianças não tem discernimento formado para saber o que é saudável, então escolhem pelo gosto. Gordura e açúcar dão sabor ao alimento e acabam sendo os preferidos pelos menores.

Prejuízos

O consumo indiscriminado de salgados e refrigerantes pode ocasionar obesidade, hipertensão, hipercolesterolemia, diabetes e desnutrição. Algumas doenças eram associadas somente ao indivíduo adulto, porém, com a mudança do perfil alimentar, as crianças entraram no grupo de risco dessas patologias. Os prejuízos são enormes: além do impacto na autoestima, cresce a ocorrência de problemas ortopédicos, as infecções respiratórias e de pele, a cirrose hepática por excesso de gordura no fígado. Uma criança obesa em idade pré-escolar tem 30% de chance de virar um adulto obeso. O risco sobe para 50% caso ela entre na adolescência com sobrepeso.

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