Aliar a cidadania ao ensino e ao aprendizado dos estudantes foi a razão que moveu um grupo de docentes do colégio Galois a levar, nesta quinta-feira (13/7), 180 estudantes do 6; ao 8; anos do ensino fundamental para conhecerem e debaterem a vida e a estrutura de um aterro de lixo. O local escolhido foi o conhecido lixão da Estrutural.
O projeto foi planejado pelo diretor pedagógico do ensino fundamental II, Nei Vieira, com a professora Renata Fontenele, coordenadora da disciplina de ciências humanas da instituição. A experiência possibilitou aos alunos conhecerem os aproximadamente 10 quilômetros quadrados do lixão, que recebe detritos de todo o Distrito Federal. Por dia, 2,3 mil toneladas de resíduos domésticos e 6,2 mil toneladas de resíduos da construção civil são lançados no terreno.
;Ver na TV é diferente de ver aqui. Aqui é muito mais chocante!”, analisa Daniel Segalovich, 12 anos, estudante do 8; ano, ao andar pelo terreno que tem 30 metros de profundidade de lixo. ;Isso contribuiu para que eu soubesse que a gente tem influência sobre a vida de outras pessoas. Faz com que a gente se conscientize. Sentimos que está em nossas mãos o futuro do nosso planeta;, reflete o estudante.
Durante a visita, o líder comunitário e membro do Movimento Nacional de Catadores, Ronei Alves da Silva, contou aos estudantes como funciona o lixão, qual o caminho que os detritos percorrem da casa de cada um até o terreno, o que pode ser reciclado e quais as condições de vida dos catadores de lixo. ;A intenção é sensibilizar. Fazer com que eles entendam que o lixo precisa de tratamento adequado para que volte à cadeia produtiva. Lixo não é lixo, ele é rico em possibilidades e todos podem ajudar;, enfatiza Ronei.
Cidadania
Há dois anos, o Lixão da Estrutural recebe escolas e estudantes de cursos de graduação e pós no projeto Território da cidadania e da reciclagem, que tem como objetivo melhorar a estrutura de trabalho dos catadores, aumentar a conscientização da população e apoiar o desenvolvimento de pesquisas ambientais.
[SAIBAMAIS]A iniciativa tem parceria com o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB), a Fundação Banco do Brasil, a Secretaria de C para Inclusão Social do Ministério da Ciência e Tecnologia (Secis/MCT), e a Central das Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis do Distrito Federal e Entorno (Centcoop-DF).
;Os meninos voltam completamente diferentes depois de experiências como essas. Eles estão preocupadíssimos com a questão da água, do lixo, da sustentabilidade;, assegura o diretor pedagógico Nei Vieira. ;A gente faz um projeto e eles não têm medo de participar, se envolvem e levam as mudanças para a vida deles;, afirma.
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A professora Renata Fontenele acredita que o grande diferencial de eventos como esse para os estudantes é a valorização da cidadania e a comparação do que cada um possui em relação àqueles que tem menos possibilidades. ;Eles podem ver a realidade de vida que nos cerca e que a gente não vê. Cada um dos projetos que fazemos no ano transforma um pouco a vida dos meninos. São pequenas experiências que a gente junta e eles se tornam crianças diferentes. Eles criam referências e até o domínio de turma pelo professor fica mais fácil depois disso. É um crescimento pessoal e pedagógico;, analisa.
Exemplo
A estudante do 8; ano, Isabela Scarpin Contatto, 13 anos, já faz a separação seletiva do lixo orgânico e não-orgânico com a família. Ela admite que é difícil cuidar do lixo, mas que é possível ajudar. ;Você pode tentar diminuir seu lixo e, se for muito difícil, você faz apenas o esforço de colocar em sacos diferentes os materiais, para os catadores não terem a dificuldade de ter que separar papel, vidro, plástico;, explica a aluna.
Depois de conhecerem o local onde o lixo é despejado, os alunos levaram caixas de doações de alimentos não-perecíveis, roupas, sapatos, agasalhos, cobertores, livros e brinquedos para a comunidade do local. Quando voltarem à sala de aula, o assunto da atividade será retomado nas disciplinas de português e literatura ; com poesias de catadores de lixo e trabalho infantil ;, história e geografia ; com temas sobre consumismo, revolução industrial, capitalismo e o meio ambiente ;, biologia ; chorume e seus efeitos ; e educação bíblica ; solidariedade.