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Escolaridade cresce em ritmo mais forte no DF

Unidade da Federação com maior nível de educação do país, o Distrito Federal também vê a quantidade de pessoas com pelo menos ensino superior completo aumentar mais rapidamente. Segundo dados do IBGE, 424 mil brasilienses já concluíram a faculdade

postado em 02/10/2012 08:00

Diego Nardi está concluindo o curso de direito e já vai para o Japão fazer um mestrado: sonho de ser pesquisadorA Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que o Distrito Federal é a unidade da Federação com maior escolaridade do país. Além disso, aqui, o ritmo de pessoas com muitos anos de estudo cresce de forma mais acelerada. Segundo o IBGE, 424 mil brasilienses têm
15 anos ou mais de educação formal, ou seja, concluíram o ensino superior ; se o curso for
tradicional ;, com duração de quatro anos.

O número representa 18,57% da população do DF, percentual muito acima da média brasileira e dos demais estados. No Brasil, 8,09% da população têm 15 anos ou mais de estudo e, depois do DF, o estado com maior escolaridade é São Paulo, onde 11,25% da população estudaram 15 anos ou mais, seguido do Rio de Janeiro, com 11,24% (veja quadro ao lado). O DF não só é a unidade da federação com maior escolaridade, como tem apresentado um crescimento mais rápido no número de pessoas que concluem, pelo menos, a faculdade. Em 2001, 4,74% dos brasileiros tinha 15 anos ou mais de estudos. Em uma década, o número cresceu menos de quatro pontos percentuais, enquanto, no DF, aumentou quase 9% e passou de 9,99% para 18,57%.

O crescimento na escolaridade de uma pesquisa para outra em Brasília também chama a atenção. A Pnad é feita a cada dois anos e, em São Paulo, por exemplo, a quantidade de pessoas com 15 anos ou mais de estudo aumentou 1,18 ponto percentual entre 2009 e 2011. No Rio de Janeiro, o incremento ficou em 0,58% e, em Santa Catarina, foi de 0,8%. No Brasil, o percentual subiu 0,69%, enquanto no DF chegou quase a dois pontos percentuais (1,64%).

Metodologia
O IBGE começa a contar os anos de estudo no ensino fundamental. Depois de nove anos dessa etapa, somam-se mais três de ensino médio e, assim, o estudante começa a cursar faculdade após 12 anos de estudo. Se o ensino superior dura quatro anos, como a maioria dos cursos tradicionais, ele termina a faculdade com 16 anos de estudo. O IBGE não conta mestrado nem doutorado. Quem estudou depois da universidade entra na estatística como ;mais de 15 anos de estudo;.

Brasília começa a se destacar nas estatísticas a partir dos 11 anos de estudo, correspondentes a quem terminou o segundo ano do ensino médio. Essa,
aliás, é a escolaridade de maior parte dos brasilienses: 24,04% da população do DF estudaram por 11 anos (no Brasil, o percentual é de 22,12%). O número cai entre os 12 e 14 anos de estudo, mas, ainda assim, é maior que a média brasileira.

Renda
O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, afirma que cada ano de estudo a mais aumenta, em média, 15% a renda de uma pessoa. As estatísticas também mostram que, se ela tem o ensino superior completo, um ano a mais de estudo impacta em 47%. ;Isso está mudando, mas os números ainda são esses. Brasília se destaca pelo setor público, que demanda mão de obra qualificada;, diz.

Para o professor Ricardo Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), uma escolaridade alta está diretamente ligada a uma renda mais elevada. Segundo ele, quanto mais estudo uma pessoa tiver, maior será o salário dela. ;O mercado de trabalho remunera melhor uma pessoa com escolaridade alta. Existe relação entre o desenvolvimento intelectual e a produtividade e as chances de uma pessoa estudada ganhar bem são maiores;, afirma. ;A prova de que quem estuda mais também ganha mais é que Brasília tem umas das maiores rendas per capita do Brasil.;

Diego Nardi, 23 anos, tem planos de cursar mestrado e doutorado. Ele está se formando em direito pela Universidade de Brasília (UnB), defendeu a monografia no fim da semana passada e pega o diploma em novembro. Mesmo antes de formado, ele foi aprovado para fazer um mestrado no Japão e deve embarcar para lá em abril ou outubro do ano que vem, onde deve ficar quatro anos estudando. ;Fico os primeiros seis meses me adaptando, estudando a língua e a cultura. Depois, passo um período como estudante pesquisador e começo a fazer o mestrado propriamente dito;, conta.

Estudar sempre foi uma das atividades preferidas do rapaz, que ainda pretende fazer um doutorado antes de voltar para o Brasil. ;Eu gostaria de trabalhar em organismos internacionais, na área de desenvolvimento social e cultura, e voltar ao Brasil para seguir carreira acadêmica. Se eu pudesse ganhar uma bolsa para estudar e ser pesquisador o resto da vida, iria adorar. Estamos expostos a muito conhecimento, todo dia temos acesso a novas informações e é preciso se atualizar;, diz Diego, que ficou cinco anos e meio na faculdade e soma quase 18 anos de estudo.

Segundo o especialista em educação Célio da Cunha, professor da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Católica de Brasília (UCB), ;Brasília tem uma história educacional bonita; e, apesar de ainda enfrentar desafios e estar longe do ideal, o DF sempre esteve acima da média nacional. ;A concepção educacional de Brasília é diferente desde a construção da cidade, com os projetos de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. Brasília tem condições que permitem um desempenho ainda mais elevado;, afirma.

Mudança no ensino

Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro são personagens importantes na história da Universidade de Brasília, que completa 50 anos este ano. O antropólogo Darcy Ribeiro definiu as bases da instituição e o educador Anísio Teixeira planejou o modelo pedagógico. Teixeira defendeu o conceito de escola única, pública e gratuita como forma de garantir a democracia. Instituiu na Bahia, em 1950, a primeira escola parque, que procurava oferecer à criança um colégio integral, modelo também implementado em Brasília. Na década de 1960, Darcy Ribeiro lutou pela criação da UnB, sendo o primeiro reitor da instituição fundada com a promessa de reinventar a educação superior e formar profissionais engajados na transformação do país.

Elas estudam mais que eles

Os números do IBGE mostram que as mulheres têm escolaridade maior que os homens. Enquanto 10% das brasilienses têm 15 anos ou mais de estudo, 8,57% dos homens estudaram até a faculdade. A diferença se repete no restante do Brasil, quando 4,65% das mulheres e 3,44% dos homens estudaram por 15 anos ou mais. No DF, o maior percentual de homens está na faixa de 11 anos de estudo: 10,43%.

O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Ricardo Teixeira explica que os dados são resultado de uma diferença de personalidade entre homens e mulheres. Para ele, as mulheres são mais determinadas e organizadas e, por isso, costumam chegar até o fim dos estudos. ;O homem já é mais imediatista. Muitas vezes ele começa a trabalhar e para de estudar;, afirma.

A servidora pública Ana Cláudia Resende Jarnalo, 30 anos, nunca parou de estudar, mesmo depois de formada e concursada. Ela terminou o ensino médio e logo entrou na faculdade. Formou-se em publicidade e propaganda no primeiro semestre de 2004 e se matriculou em um cursinho preparatório para concurso público. Foi aprovada menos de um ano depois na Procuradoria do DF, mas continuou estudando até ser aprovada na Câmara Legislativa, em 2006.

A Câmara Legislativa, no entanto, demorou para chamá-la e Ana Cláudia não desistiu de trabalhar em um órgão que pagasse melhor. Em 2008, foi aprovada no concurso do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e ainda fez pós-graduação nesse intervalo. Em 2009, foi, enfim, convocada para a Câmara Legislativa, onde exerce o cargo de consultora técnica legislativa, em revisão de texto. Mesmo assim, não se deu por satisfeita: começou um novo curso superior e é estudante do 4; semestre de letras na Universidade de Brasília.

;Até passar em um concurso de nível superior, estudava por uma questão prática. Sabia que tinha capacidade e queria ganhar mais. Quando estudei para a Câmara Legislativa, passei a ter contato com revisão de textos e tive vontade de estudar letras. Agora, estudo por mim mesma, porque outra graduação não vai me dar adicional de qualificação aqui;, conta Ana Cláudia, que pretende ainda fazer um mestrado. ;Cursar letras me permite conhecer melhor a área para escolher meu tema de pesquisa.;

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