Ex-professor de história e embaixador caboverdiano no Brasil há 6 anos, Daniel Pereira viu na participação no projeto a oportunidade de contribuir para que estudantes brasileiros obtenham informações ricas e detalhadas da vida de países africanos e conheçam parte da formação cultural brasileira. "Somos 54 países com idiossincrasias e culturas próprias. Se cada embaixador viesse contar a história de seus país, isso contribuiria para que o brasileiro se entendesse melhor na medida em que uma das correntes essenciais da formação do homem brasileiro é a África e a cultura africana", pondera o embaixador.
Legislação
O projeto é uma ação afirmativa da Sepir para fortalecer, dentro das escolas da rede pública de ensino do DF, a implementação da Lei n; 10.639 de 2003, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira em todas as escolas do país, públicas e particulares, do ensino fundamental ao ensino médio.
O projeto foi pensado por Antônio Mário Ferreira, subsecretário de ações afirmativas e comunidades tradicionais da Sepir. Para ele, Brasília é o local com maior vantagem na implementação de projetos desse tipo. "Por termos todas as embaixadas tão próximas, podemos aproveitar para trazer um pouco dessa cultura étnica para os colégios e implementar a Lei com qualidade. É um grande diferencial na educação dos estudantes", acredita Antônio.
Cláudia Vieira, vice-diretora do CEF 15, recebeu a visita da professora Marizeth Ribeiro, coordenadora intermediária de direitos humanos e diversidade da Regional do Gama, responsável por mediar os trabalhos entre a Sepir e os colégios. Assim como o CEM 03, a escola acolheu com interesse o projeto. "Nós já tínhamos iniciativas que tratavam de assuntos de africanidades e aproveitamos a oportunidade para enriquecer o projeto pedagógico da escola. Os alunos gostam quando o assunto é diferenciado e foge da sala de aula", afirma a vice-diretora.
Debate
Durante a manhã e a tarde de evento, os estudantes ouviram o embaixador caboverdiano, debateram a cultura e o modo de vida do país africano, participaram de oficinas de percussão e de produção de bonecas abayomi ; de origem iorubá, siginifica presente, algo precioso ;, feitas artesanalmente com tecido e sem costura, além de assistirem a apresentações de capoeira com alunos especiais e poderem ver exposição de quadros com imagens e informações de cidades de Cabo Verde.
"Foi muito mais divertido. Nós conseguimos tirar todas as nossas dúvidas e conhecemos um pouco da história do país, porque uma coisa é ler no livro e outra é ouvir pessoalmente. Foi mais real porque os professores ensinaram o que embaixador viveu", constata Monique Alvez Barbosa, 13 anos, estudante do 8; ano.
[SAIBAMAIS]Até o fim do ano, mais 14 escolas da Regional do Gama devem ser visitadas por diversos embaixadores africanos. Países como Egito, Sudão, Mauritânia, Gana, Angola, Camarões e Nigéria estão sendo cotados para contribuírem com os debates, que trazem para o ambiente prático escolar o que se estuda de forma teórica nos livros didáticos. O próximo encontro está marcado para ocorrer na tarde da próxima terça-feira (9/10), no Centro de Ensino Fundamental Casa Grande, escola da zona rural do Gama.
Recursos
Para 2013, a proposta é levar o projeto para todas as 14 regionais de ensino do DF. "A luta agora é para conseguir entrar no orçamento do governo e promover com qualidade esse projeto para muitas outras escolas", afirma Antônio Mário. A Lei Orçamentária Anual, que prevê os recursos e as despesas do Governo para o período de um ano, deve ser elaborada de acordo com os parâmetros definidos na Lei de Diretrizes Orçamentárias. No DF, o orçamento deve ser encaminhado pelo Executivo ao Poder Legislativo até 15 de setembro e a Câmara Legislativa tem até dezembro para votá-lo.