postado em 19/10/2012 18:29
Anna Cléa Maduro, 20 anos, teve uma ideia transformadora durante uma aula de jornalismo na faculdade. Para ser aprovada no semestre letivo da Universidade Católica de Brasília (UCB), ela precisaria criar como projeto da disciplina qualquer tipo de produto relacionado à comunicação: jornais, revistas, vídeos, campanhas. A escolha da estudante foi além do convencional, surpreendeu familiares, atingiu professores e estudantes fora da universidade, deu esperança aos envolvidos e modificou a rotina de uma escola.Para alimentar a vontade de ajudar outras pessoas, Anna e mais dois colegas de classe, Renata Cardoso e Felipe Carvalho, desenvolveram o Pró-futuro, projeto de voluntariado que proporciona a estudantes do 3; ano do ensino médio da rede pública a possibilidade de ter aulas preparatórias gratuitas com professores que lecionam em cursinhos. A escola escolhida para receber o projeto foi o Centro Educacional 3 do Guará, antiga Escola de Renata.
O único apoio financeiro foi o patrocínio de uma malharia, que confeccionou blusas para os alunos e professores. O Pró-futuro funciona desde a segunda semana de setembro. Ele conta com a presença de 25 alunos assíduos, um quarto dos estudantes do 3; ano do CED 3. As aulas são planejadas pelos professores e todo o resto dos materiais necessários é tirado do bolso de Ana, Renata e Felipe.
Apoio na escola
A diretora da instituição, Cláudia Rocha, e coordenadora pedagógica Marlúcia Feitosa Gomes abraçaram a ideia e incentivaram, sala após sala, que os estudantes aderissem às aulas extra-classe, que ocorrem aos sábados pela manhã. ;Como são alunos do 3; ano, a preparação e a orientação com as matérias é muito importante. É um momento decisivo e com o auxílio de fora os meninos se sentiram mais capazes e importantes;, avalia a diretora.
Além da oportunidade de se preparar melhor em disciplinas como redação, língua portuguesa e sociologia, e para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares, a avaliação dos estudantes que assistem às aulas é unânime: os exemplos da idealizadora e dos professores fizeram a diferença para que todos buscassem com mais determinação os objetivos pessoais.
;Participar do projeto ajudou não apenas a aumentar as notas dos meus exames: agora, vejo meu futuro melhorando;, afirma Diego Coutinho Pereira, 18 anos, participante do Pró-futuro. Sem projetos específicos de preparação para provas de seleção nas escolas públicas e sem a possibilidade de arcar com os custos de cursinhos pré-vestibulares, os alunos foram conquistados pelas aulas dinâmicas e diferenciadas. ;O Pró-futuro foi a mão estendida da cidadania das pessoas que têm mais ideologia e que querem ajudar;, analisa Diego.
Incentivo em casa
Foi a mãe de Anna Cléa, a professora de língua portuguesa Cléa Maduro, a responsável por entrar em contato com outros colegas professores e fazer o convite para que doassem algumas horas no sábado para ajudar alunos da escola pública. ;A recepção foi sensacional. Todos aceitaram de imediato e já buscaram saber se haverá outras edições, pois sentiram, como eu, que a responsabilidade nos chama a continuar;, afirma a professora.
Sete docentes foram convidados a participar do Pró-futuro, que tinha como objetivo auxiliar os alunos com aulas de redação e língua portuguesa, além de conteúdos de sociologia e filosofia voltados para a criação de pensamento crítico e estratégias de redação. O sucesso foi tão grande que 10 novos professores foram convidados para um segundo módulo, de matérias de exatas, que não estava previsto no projeto inicial.
;Estou muito feliz. Não esperava tanta adesão. As escolas não dão conta de fazer trabalhos diferenciados e sei como é ter que correr atrás. Sinto como se fosse minha obrigação fazer alguma coisa;, admite Ana Cléa. A responsável pelo projeto diz que a maior motivação era ajudar alunos a se prepararem melhor para a hora de fazer escolhas, tanto quanto o curso que prestarão no vestibular, quanto na vida. ;O principal diferencial foi me ver como voluntária e isso, com certeza, me fez aprender muito para minha futura profissão de jornalista;, conclui Anna.
Enem e vestibular
;O Enem está perto e a gente precisava estudar, por isso, aproveitei essa enorme oportunidade. Eles são professores excelentes, com aulas muito interativas. Na escola pública não tem muito isso;, destaca Mariana Isa Paschoal, 18 anos, ao relembrar a dificuldade inicial em escrever redações, antes de começar a frequentar as aulas.
Mariana quer ganhar uma bolsa de estudo do Programa Universidade para Todos (Prouni) para cursar arquitetura na UCB. Consciente do peso do texto nas provas do Enem ; em que as notas são utilizadas para classificação no Programa ;, a aluna se diz privilegiada. ;Agora, temos a oportunidade de concorrer com outros aluno, estamos em um bom nível e me sinto mais preparada.;
O professor de filosofia Gabriel Santana Lima foi um dos participantes do projeto. Ex-aluno de escola pública, Gabriel sentiu a boa receptividade dos estudantes e foi aplaudido ao final da aula que ministrou. Docente de uma disciplina nem sempre bem vista pelos alunos, o professor trabalhou filosofia e pensamento político com a turma. ;É algo muito positivo, porque se trabalha com quem está interessado. Foi só abrir a discussão para me surpreender. O nível foi muito bom;, afirma ele.
Durante as aulas, vídeos, fotos e depoimentos foram produzidos para serem apresentados como projeto final da disciplina, em 1; de novembro. Anna Cléa não pensa em parar. Ano que vem a ideia é continuar o curso com auxílio da UCB. ;Vou correr para que o Pró-futuro se torne, quem sabe, projeto apoiado ou de extensão. Dessa forma a gente vai mudando a realidade;, diz.