postado em 29/11/2012 08:00
A educação básica na rede pública de ensino do Distrito Federal pode sofrer mudanças em 2013. Estão em discussão a adoção do aprendizado em ciclos até o 9; ano e a implementação de um modelo de blocos de disciplinas para o ensino médio. O Sindicato dos Professores (Sinpro) teve acesso ao novo formato estudado para as escolas e se preocupa com a possível aprovação de um projeto sem uma discussão com a sociedade. De acordo com o diretor do sindicato, Washington Dourado, o estudo em ciclos acabaria com a reprovação em diversas séries. Os alunos só seriam avaliados com a possibilidade de retenção entre o 5; e o 6; ano e no fim do 9;. Nas últimas séries antes do vestibular, a divisão seria diferente. ;O ensino médio seria dividido em blocos, segundo informado por integrantes do grupo de trabalho da Secretaria de Educação. Em um semestre, o aluno estudará um conjunto de disciplinas, no semestre seguinte, outro. Por exemplo, se aprender exatas no primeiro, terá humanas no segundo;, explicou.
Dourado ressalta que integrantes do grupo de trabalho preveem mudanças já para o ano que vem. ;Nossa maior reclamação é fazer isso a toque de caixa, sem preparar a rede pública, sem discutir com a sociedade;, disse. O modelo aplicado seria similar ao Bloco Inicial de Alfabetização (BIA) (veja Para saber mais) já implementado no DF para as três séries iniciais do ensino fundamental, quando não há retenção. ;A intenção da secretaria é reproduzir o BIA nos ciclos seguintes, mas para o professor é um desafio, principalmente porque estamos acostumados com a seriação. Precisamos de tempo para discutir essas possíveis alterações;, exemplificou.
O sindicalista afirma que não vai julgar o mérito da possível proposta, mas reivindica informações oficiais e participação da sociedade na formação da política. ;Queremos debater, conhecer, analisar o que será feito na rede pública do DF;.
Os temores, no entanto, não são confirmados pela Secretaria de Educação do DF. A pasta informou, por meio de nota, que mantém um grupo de trabalho para discussão e organização do sistema, que busca constantes melhorias para o ensino público do DF, mas negou ter um plano pronto para 2013. ;As discussões são necessárias para se alcançar propostas para uma mudança de qualidade no ensino-aprendizagem. Neste momento, não existe nenhuma proposta concreta de mudança no currículo pedagógico da rede pública de ensino;, diz o documento.
Prós e contras
Embora não haja confirmação das mudanças, especialistas ouvidos pelo Correio ressaltam pontos positivos e negativos do aprendizado em ciclos. Eles concordam que uma política tão diferente da atual precisa ser implementada com cuidado. A professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Benígna Villas Boas é a favor da forma diferente de organização, mas dentro de um sistema voltado para o aprendizado e com estrutura para o modelo.
Ela ressalta que as escolas precisam ter condições de trabalho melhores que as atuais para o início do sistema em ciclos. Além disso, analisa que é necessário ter professores, gestores e equipes pedagógicas muito bem preparados. ;A escola não foi feita para reprovar, mas para que os estudantes aprendam. Se o conteúdo é bem assimilado, eles estarão preparados para enfrentar qualquer seleção e para qualquer situação da vida.;
No entanto, a professora Lêda Gonçalves de Freitas, da Universidade Católica de Brasília (UCB), tem ressalvas quanto às possíveis mudanças. ;A proposta é bem democrática, mas a realidade dos ciclos não tem resolvido o problema da aprendizagem nas escolas. Tem, muitas vezes, adiado a reprovação e isso é sério;, afirma. Para ela, antes de fechar um novo programa, uma pergunta essencial deveria ser feita: ;O que precisamos fazer para que nossas crianças aprendam melhor?;.