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Por um ano sem tropeços

Nada de esperar o fim do ano letivo para resolver possíveis problemas escolares. A Revista preparou um guia para ajudar os pais a monitorarem, desde já, os estudos dos filhos

Juliana Contaifer
postado em 21/01/2013 10:24


Mary e Eurípedes mantêm um diálogo com a escola para ajudar Júlia e Sarah na vida acadêmica (Janine Moraes/CB/D.A Press)
Mary e Eurípedes mantêm um diálogo com a escola para ajudar Júlia e Sarah na vida acadêmica

Para quem tem filhos, sempre consta na lista de resoluções de ano-novo uma atenção extra à vida escolar. Eles precisam da ajuda dos pais e, sem acompanhamento, passam o ano sofrendo com as provas, a falta de vontade de estudar e todas as distrações possíveis. Um período tranquilo só é conseguido com planejamento, não importa a idade do estudante. Se 2012 foi complicado, é possível dar a volta por cima e passar por 2013 sem dificuldades.

A escola não serve apenas como fonte de conteúdo para passar no vestibular. Além de aprender como funciona o mundo, os estudantes aprendem a ser responsáveis, independentes, a trabalhar em grupo, bem como sozinhos. As dificuldades fazem parte desse processo, e os pais têm que prestar atenção para ajudar os filhos a trilhar um caminho sem muitos percalços.

;Muitos pais pensam que, quando eram estudantes, não precisavam de ajuda ou cronograma para passar de ano. Estudavam em cima da hora e acham que seus filhos também vão se virar sozinhos. Mas a escola é muito mais difícil hoje do que era há alguns anos, os alunos precisam contextualizar conteúdos de várias matérias diferentes e lidar com um volume grande de exercícios;, explica a pedagoga e professora particular Fernanda Neder. Além do mais, não faltam atividades extracurriculares, que acabam interferindo no desenvolvimento dos estudantes. Os alunos hoje ficaram mais perceptivos e conectados, mas a escola continua pouco interativa, o que pode ser desestimulante. É importante também perceber se a escola não está cobrando demais do seu filho ; algumas crianças são mais artísticas e precisam de colégios mais tranquilos. Outras reagem bem à pressão das notas boas e do vestibular.

O acompanhamento dos filhos deve ser gradativo ; no começo, os pais precisam estar presentes e ajudar no que puderem, mas, assim que eles se tornam maiores, devem conseguir andar sozinhos. ;Os pais devem dar autonomia para os filhos a partir do segundo semestre do sexto ano, antiga quinta série. Os alunos dessa idade precisam saber lidar com a responsabilidade;, afirma Andréa Bichara, pedagoga e diretora do Colégio Seri;s. Antes disso, são os pais que têm que responder por atrasos, faltas e deveres não feitos. A partir do ensino fundamental II, a postura é outra.

Algumas crianças precisam de atenção dos pais, pois não têm responsabilidade suficiente para fazer tudo sozinhos. ;Eles não entendem que aquilo é importante para o futuro deles, que precisam da informação para conseguir um emprego e manter a qualidade de vida que já têm. Eles acham que a vida vai ser a mesma para sempre. Então fazem os deveres para agradar os pais, para competir com os amigos ou para não levar bronca. Escrevem qualquer coisa no caderno e dizem que já acabaram os exercícios;, explica Fernanda. Para esse perfil de estudante, é importante o responsável conferir os deveres sem avisar com antecedência, para garantir que estão sendo feitos. Mas, se seu filho não consegue lidar com a responsabilidade, não faça tudo por ele, pois fica mais difícil sair da inércia. Segundo a professora, a maioria das escolas conta com um site na internet de acompanhamento, no qual a escola publica a frequência dos deveres de casa e avalia o comportamento em sala ; ferramenta preciosa, embora pouco usada pelos pais.

[SAIBAMAIS]As filhas de Mary Vendramini, 41 anos, e Eurípedes Alves, 46, tiveram dificuldades ao mudar de escola. Júlia, 9, teve que refazer o primeiro ano, pois não conseguia acompanhar o ritmo novo. ;A escola nos chamou para traçar um plano de estudos e ajudá-la. Montamos uma rotina de estudos diária, em um local arejado e sem distrações, e nos comprometemos a acompanhar as tarefas e incentivá-la a ler um pouco a cada dia;, conta a mãe. Os pais foram à escola para entender como são dadas as aulas, receberam bastante orientação por parte da coordenação e aplicaram as dicas também com a filha mais nova, Sarah, 7 anos, que apresentava dificuldade para acompanhar o que aprendia em sala. ;Agora, as duas são ótimas alunas, motivadas e que adoram estudar. No ano passado, a menor nota de Júlia foi 9,75, e a professora de matemática é só elogios. Passamos por dificuldades, mas, com a ajuda da coordenação da escola, conseguimos reverter os danos;, explica Eurípedes.

Este ano, a rotina de Júlia e Sarah vai mudar um pouco. Na escola, as aulas passarão a ser integrais e só terão dever de casa nas sextas-feiras. Mas, mesmo assim, Mary acredita que será importante montar um cronograma de estudos para as noites. ;Acho bom para reforçar o que foi aprendido em sala. De qualquer forma, a escola aconselha que os alunos leiam jornais e revistas para se informarem do que acontece e faremos essa leitura juntos, à noite;, afirma. As meninas estão superanimadas com a perspectiva da nova fase. Para dar uma ajudinha aos alunos que estão passando pelo mesmo que Júlia e Sarah passaram, a Revista montou um plano de guerra contra as notas baixas, que você lê nas páginas 10 e 11.

"Os pais devem dar autonomia para os filhos a partir do segundo semestre do sexto ano, antiga quinta série. Os alunos dessa idade precisam saber lidar com a responsabilidade;
Andréa Bichara, pedagoga
Planejar é preciso
Envolva-se na vida dos filhos
A escola se torna muito mais interessante para as crianças quando os pais se envolvem. Trocar histórias sobre a época da escola e perguntar sobre o que foi aprendido no dia faz com que os alunos prestem mais atenção ao que acontece para contar em casa depois. ;Essa troca não só deixa a escola mais legal como estreita os laços entre pais e filhos. É preciso ter paciência e ajudá-los no que precisarem;, explica a pedagoga Fernanda Neder. Vivenciar a vida escolar também é importante. ;Os responsáveis precisam participar dos eventos ao longo do ano. Os alunos acabam ficando frustrados pelo pouco interesse dos pais. Crianças costumam ficar mais tranquilas se podem contar tudo em casa;, acrescenta a pedagoga Andréa Bichara.

Ensine a estudar
;Depois da alfabetização, as crianças sabem ler, mas é uma leitura sistematizada, elas não absorvem nada. Até o quinto ano, só há uma professora para todas as matérias, que cria um laço afetivo com os alunos e entrega o conteúdo digerido. A partir do sexto ano, são vários professores, que muitas vezes nem sabem os nomes dos alunos;, explica Fernanda. Para não se perderem nessa nova fase, os pais devem orientar os filhos sobre como estudar corretamente e de forma eficiente. Nas séries iniciais, vale ler os textos juntos e perguntar o que a criança entendeu da leitura. Para os mais velhos, resumos, questionários e pesquisas podem ajudar a fixar a matéria.

Nas disciplinas da área de exatas, os estudantes precisam entender que a resposta correta só é alcançada errando, e que encontrar o problema faz parte do aprendizado. ;Isso eles levam para a vida, depois, têm que aprender com os erros. São noções que formam um adulto saudável e responsável;, alerta a pedagoga Fernanda.

Escolha a escola certa
Matricular os filhos em um centro de ensino forte, com provas semanais e carga horária pesada pode não ser o ideal para todas as crianças. ;Alguns alunos têm um perfil diferente, mais ligados às artes, e pedem por escolas com conceitos mais humanistas. Só com o atendimento correto eles vão apresentar melhores rendimentos;, explica Fernanda.

Rotina é a palavra de ordem
Crianças menores precisam entender que é possível dar atenção aos estudos e encaixar momentos de diversão no mesmo dia. Um calendário benfeito, agradável e com tempo para tudo se torna rotina rapidamente, e fica mais fácil seguir no futuro. ;Eles têm que se envolver no processo e, por isso, escrever a rotina em um papel bem grande, que vá ficar em um lugar onde pode enxergar, é o ideal. Se estuda pela manhã, deve descansar um pouco depois do almoço e estudar em seguida. Deixar para fazer os deveres à noite é ruim, pois eles ficam cansados e sem vontade de estudar;, explica Fernanda. O estudo deve ser sempre no mesmo horário, mas vale um pouco de flexibilidade com compromissos ; se a criança não tiver tempo em um dia, é preciso compensar nos outros.

Para que o aprendizado seja otimizado, não dá para estudar todo o conteúdo do dia em uma tarde. A dica é escolher duas matérias por dia, uma de exatas e outra de leitura, e se dedicar a cada uma por cerca de 40 minutos. Comece mont0ando o horário pelas matérias que têm aulas menos vezes por semana ; se a frequência for de duas vezes, 40 minutos por semana é suficiente para revisar o conteúdo. Matemática e português devem ter prioridade e serem estudadas mais vezes por semana. ;Ler os capítulos e fazer um resumo, questionário ou pesquisa para aprofundar a matéria é suficiente. Depois do estudo é que devem vir as tarefas de casa;, ensina a pedagoga.

Os pais que acreditam que devem matricular os filhos em muitas atividades extracurriculares devem tomar cuidado para não pular etapas do desenvolvimento da criança. Guardar um tempo para descansar e brincar é fundamental. ;O que aconselhamos é, no máximo, duas atividades. Um esporte e uma língua são suficientes e não atrapalham o rendimento escolar;, conta Andréa.

Organize o espaço de estudo
Para que seu filho renda bem durante o tempo de estudo, é preciso que ele tenha um local específico e bem pensado. A mesa deve ser grande o suficiente, com todo o material escolar à mão e bem iluminada para evitar que o estudante tenha sono ou enxergue mal. O local deve ser calmo, silencioso e bem arejado. E é importante evitar distrações ; por isso, equipamentos eletrônicos devem ficar longe.

Do ano anterior, vale guardar materiais que podem ser reaproveitados, como lápis, canetas e borrachas. Antes de comprar tudo novo, é importante prestar atenção se os livros também servem para o próximo ano. As provas e os documentos antigos não precisam ser guardados, apenas se a criança tiver muita dificuldade na matéria e o pai sentir que o conteúdo não foi fixado.

Incentive
Os alunos precisam saber que estão no caminho certo, que estudar e conseguir boas notas é o comportamento esperado. Por isso, os pais não devem deixar de elogiá-los. A máxima ;não fez mais que a obrigação; não é saudável, só diminui a autoestima do filho. E se o estudante não está indo tão bem na escola, os pais devem acreditar que não é falta de capacidade, e apoiá-los no momento complicado.

Alguns alunos precisam de recompensas mais palpáveis. Vale uma tarde em um parque de diversões, uma sessão de cinema ou um jantar especial. ;Se o incentivo precisar ser mais forte, vale colocar dinheiro no páreo. Não acho que seja um problema ; se o estudante entende que seu trabalho é ir bem na escola, pode receber um pagamento por cada nota acima da média estipulada pelos pais;, acredita Fernanda. Se a estratégia for a contrária, negando privilégios a cada nota baixa, tenha certeza de que não é só falatório infundado. ;Por exemplo, muitos pais dizem que o filho não vai viajar no fim do ano, mas acabam comprando as passagens de todo jeito e perdem a razão;, explica a pedagoga.

Entenda a fase em que seu filho está
A adolescência é uma fase complicada. O corpo está mudando, eles têm mais sono do que o normal, se apaixonam e as meninas descobrem que são bonitas e só querem saber de se arrumar. Tudo isso interfere no rendimento escolar, uma vez que fica difícil prestar atenção às aulas com tanta coisa acontecendo. ;Além de tudo, é a época na qual eles começam a se definir e tentam se encaixar nos grupos. Eles quase não perguntam, quando têm dúvidas, para não se exporem para a turma;, explica Andréa.

Mas os pais têm que ficar atentos à falta de atenção e à dificuldade na escola ; pode ser uma fase da vida ou indícios de algum distúrbio, como dislexia, transtorno de deficit de atenção (TDH) ou problemas de visão. Se há suspeita, o ideal é procurar um médico para confirmá-la e definir um tratamento.

Estimule a independência
O aluno deve entender que sua profissão é ser estudante, e que seu trabalho é dar o melhor de si na escola. Para os pais mais corujas, é importante lembrar de se distanciar um pouco a cada ano do filho e evitar ao máximo substituí-lo em suas obrigações. Como em um emprego, cada um tem suas responsabilidades. Ou seja, nada de fazer os deveres e trabalhos escolares. ;Se os pais fazem tudo, essas crianças acabam crescendo sem noção de independência. É muito cômodo ter alguém para fazer seus deveres e, quando eles são obrigados a resolver sozinhos, não conseguem;, afirma Fernanda.

Com algum tempo de escola, os estudantes vão aprendendo a se organizar sozinhos, têm que assumir quando não fizeram dever e explicar seus atrasos. ;Os pais devem ter confiança em seus filhos e delegar responsabilidades. Mas, de vez em quando, é importante conferir se está tudo certo;, ensina Andréa. Uma boa dica para o começo das aulas é sentar com o filho e conversar sobre o ano anterior. Ao discutir qual foi o método de estudo para as matérias em que não apresentaram dificuldades e ao comparar com as mais difíceis, os alunos costumam identificar seus erros e se motivam para o próximo período letivo.

Converse com a escola
É de suma importância que os pais dialoguem com a escola ; afinal, é ali que seu filho passa a maior parte do tempo. A coordenação deve ser capaz de definir os pontos fracos do estudante e oferecer soluções e dicas para amenizar os problemas. ;Nós acompanhamos de perto, e temos que avisar à família sobre as dificuldades quando percebemos que o aluno não consegue resolver sozinho. Não para que a família resolva, mas para que possa dar apoio e procurar alternativas;, afirma Andréa. Ficar atento à agenda do estudante também é importante ; não só deixa os pais a par do cronograma escolar como pode servir de canal de comunicação entre a escola e os responsáveis.

Escutar os filhos e conhecer os professores preferidos também é interessante. ;Não precisa esperar a reunião de pais para procurar a escola. É bom entender o vínculo com os professores, a rotina e as expectativas para o ano;, conta Andréa. Se seus filhos não estiverem indo bem nos estudos, mesmo com o esforço dos pais e apoio da escola, pode ser a hora de contratar um professor particular.

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