postado em 11/03/2013 11:07
Nas aulas de física e de química dos alunos de uma escola na região rural Incra 8, em Brazlândia, nada de livros, equações e calculadora. Em vez disso, uma lata de alumínio pintada de preto com um pequeno furo na lateral. No interior, um papel especial sensível à luz. Dentro do espaço de menos de 7m; de um trailer estacionado na frente da escola, os estudantes agrupam-se para receber as primeiras lições sobre fotografia por meio da técnica conhecida como pinhole (saiba mais no boxe abaixo). Ao mesmo tempo, eles aprendem sobre noções de ótica e experimentam revelar fotografias utilizando reagentes químicos.;Mais do que se apropriar de técnicas da fotografia, eu ensino os alunos a exercitarem o cérebro, a abstrair;, explica o fotógrafo José Rosa, idealizador do projeto Fotolata, que desembarcou no Centro de Ensino Fundamental Incra 8 desde a semana passada e deve ficar na escola até amanhã. O trailer, na entrada do colégio chama a atenção dos curiosos. Lá dentro, funciona uma câmara escura: um verdadeiro estúdio fotográfico onde pode-se tirar e revelar fotos. ;É uma máquina fotográfica gigante;, descreve José.
;Fiquei impressionada;, conta Sabrina Magalhães, de 16 anos, aluna do 3; ano. ;Eu me senti dentro de uma máquina. É incrível.; José, fotógrafo experiente, fica satisfeito com a reação. ;A magia de aprender pelo espanto é estimulante. A fotografia permite isso;, considera.
A atividade é itinerante e integra as aulas regulares de fotografia oferecidas aos estudantes do colégio desde o ano passado. O Incra 8 conta, atualmente, em dois turnos, com 1,3 mil jovens, do 6; ano do fundamental ao último ano da educação básica, e o curso de fotografia propõe aos alunos do ensino médio uma visão prática dos conteúdos vistos em sala de aula.
O curso de fotografia no Incra 8 é financiado com verba do Programa Ensino Médio Inovador, do Ministério da Educação, que atende prioritariamente as escolas com médias baixas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), permitindo aos professores implementarem projetos inovadores.
Evasão escolar
O Centro de Ensino conseguiu reduzir a quase zero o índice de evasão escolar. ;Quando cheguei aqui, nossos alunos não sabiam sequer o que era vestibular e não viam qualquer possibilidade de ingressarem numa universidade federal. Cerca de 20% não concluía o ano;, lembra a diretora Solange Pereira.
No ano passado, a escola aprovou pelo Programa Universidade para Todos (Prouni) dezenas de alunos, que, com bolsas de estudo, poderão cursar o ensino superior. Além deles, a diretora contabiliza pelo menos três ex-estudantes que conseguiram ingressar na Universidade de Brasília (UnB).
Para Solange, a principal conquista foi atrair toda a comunidade para o ambiente escolar. Ela considera que o envolvimento dos pais na educação e na realidade do colégio é fundamental para que todos consigam atingir bons resultados. ;Principalmente numa comunidade como a nossa, com um índice de analfabetismo entre a população adulta muito elevado;, completa. ;A escola fica cheia o tempo todo. Os pais comparecem às reuniões, envolvem-se nos nossos programas e educam-se lado a lado com os filhos.;
Os estudantes aprovam o estímulo e desenvolvem habilidades que nunca imaginavam ter. ;Acho que posso até vir a fazer isso no futuro, talvez como hobby, talvez como profissão mesmo;, aposta Larissa Cruz, 17 anos, que planeja prestar o vestibular da UnB para arquitetura no fim do ano. ;Fazer o curso de fotografia ajudou a despertar em mim o interesse pela formação como arquiteta. Acho que tem tudo a ver, e mesmo que eu não trabalhe no futuro tirando fotos, o olhar que eu desenvolvi aqui vai sempre me ajudar;, garante.
De acordo com Matheus Pereira, 18 anos, as aulas de fotografia o ajudaram a conhecer e entender melhor a região onde mora. ;Quando saímos a procura do quê fotografar, conseguimos olhar tudo com um senso crítico que não tínhamos antes. Vejo muitas coisas boas que ninguém sabe que existe e muitas coisas ruins que precisam ser reveladas. Estamos usando a fotografia para isso.;
Sem lentes
Do inglês pin, alfinete, e hole, buraco, a câmera pinhole é um equipamento fotográfico que dispensa o uso de lentes e utiliza apenas um pequeno furo para captar e registrar imagens. O método é prático e econômico: depende apenas de uma caixa qualquer em que a luz não penetre, como uma lata de alumínio, e de um papel especial sensível à luz.