postado em 18/03/2013 13:10
É uma escola singular, de uma singularidade bem brasiliense: o Centro de Ensino Fundamental Vendinha pertence à rede pública de ensino do Distrito Federal, porém a absoluta maioria de seus quase 600 alunos mora em Goiás. O muro lateral da escola fica exatamente na divisa do DF com o Estado vizinho. Como boa parte dos estudantes vive no povoado de Vendinha, município de Padre Bernardo (GO), eles não recebem a ajuda para o transporte escolar, o que resulta numa enorme quantidade de bicicletas estacionadas numa das fachadas laterais da escola. Diretor da unidade há 25 anos, o professor Manoel Antônio Rodrigues Barros diz que o número de alunos vindos de Goiás foi crescendo com o passar dos anos. ;No começo, a maioria era brasiliense, das proximidades, do Rodeador, de Almécegas, mas, com o surgimento de novas escolas e com o crescimento da Vendinha, essa clientela foi mudando;. Embora morem em Goiás, há, entre os alunos, muitos que vieram de Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, expulsos pelo preço dos imóveis da capital federal.
Colado na escola brasiliense, o distrito de Vendinha nasceu de uma fazenda que foi dividida em chácaras e mais recentemente em lotes. Ex-aluna e hoje servidora pública lotada na escola, Aparecida Fátima Alves de Souza é de uma família de pioneiros da Vendinha. Os pais chegaram à região no fim de 1978, um ano antes de a escola ter sido inaugurada. O pai e a mãe de Aparecida, já aposentados, trabalharam na limpeza e vigilância do colégio durante logo tempo. ;Meus dois filhos também estudaram aqui;, diz. ;No começo da escola, a gente lavava a louça e pegava água no córrego (a uns 100 metros de distância);, relembra, nostálgica, Aparecida.
Nos primeiros anos da escola, no lugar das bicicletas, havia cavalos e carroças, tão forte ainda era a identidade rural do lugar, lembra o professor Barros. A distância da periferia urbana, porém, ativa um efeito protetor no ambiente. ;Aqui é bem tranquilo. Não temos os episódios de drogas, gangues, violência que se veem nas escolas urbanas.;
De manhã, a CEF Vendinha é das crianças (do 1; ao 5; ano); e à tarde, dos adolescentes (do 6; ao 9; ano). É no intervalo do período matutino que se ouve o arrulhar dos meninos e das meninas brincando de corda, chupando dindim, correndo pelos corredores. O diretor, porém, reclama que faltam cobertura para a quadra de esportes e mais espaços para atividades de informática, por exemplo. Este é o último ano de Barros na Vendinha. Ano que vem, ele vai se aposentar. ;Acho que cumpri meu papel;, diz o ex-funcionário do Ministério do Exército que preferiu dar aula em escola pública.
EHHHHHHH!!
As crianças e os adolescentes do CEF Vendinha são quase todos moradores de Goiás e estudantes no DF
BRINDE AO DINDIM
Hora do recreiro, hora do geladinho. Os meninos da Vendinha são meio urbanos, meio rurais
UMA QUASE DESPEDIDA
Há 25 anos na escola, o diretor Manoel Barros está se despedindo da Vendinha: ;Fiz a minha parte;
A PIONEIRA
Aparecida Souza estudou na Vendinha, os filhos também estudaram e, agora, ela trabalha na escola
VOU DE BIKE
Antes, eram o cavalo e a carroça, agora o transporte é a bicicleta
NAS NUVENS
As meninas brincam no parque, pulam corda: infância prolongada
NA DIVISA
De um lado, a escola (no DF). Depois do muro (à direita), Goiás
VIZINHO GOIANO
A escola fica na divisa com Vendinha, distrito de Padre Bernardo (GO)
BATE O SINO
Quando falta luz, as crianças ouvem o badalar no metal. A reciclagem é um dos temasque estão sendo estudados