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CEDF julga improcedente pedido sobre adoção de obras com conteúdo racista

Conselho ligado à Secretaria de Educação determina que não se deve proibir literaturas que possam ser percebidas como racistas hoje

As caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, está no centro do debate por conter passagens consideradas racistas por especialistas" />A Câmara de Planejamento e Legislação e Normas (CPLN) do Conselho de Educação de Distrito Federal julgou improcedente o recurso do mestre em educação Antonio Gomes da Costa Neto para que a Secretaria de Educação promovesse orientações às escolas públicas e particulares do DF quanto à observância das normas para a educação das relações étnico-raciais. O conselho considerou que não é necessário proibir a adoção de obras com teor considerado racista e destacou que os professores da rede pública têm acesso a formação para se prepararem para tratar do tema em sala de aula. O parecer n; 37 de 2013ainda aguarda Secretaria de Educação.

A discussão teve início por causa de uma obra de Monteiro Lobato, Caçadas de Pedrinho, adotada pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola. Para Neto, o livro contém passagens racistas. Ele chegou a solicitar à Editora Globo que a nova edição da obra trouxesse uma explicação sobre racismo, mas o pedido não foi atendido. No ano passado ele o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) entraram com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o livro e contra relatório do Conselho Nacional de Educação que manteve a adoção da obra, com a previsão de que o professor desse explicações sobre o preconceito durante as aulas.

Na decisão, o conselheiro-relator da CNPL, Luiz Otávio da Justa Neves destacou que ;o que se deve propor, portanto, não é proibição de literaturas que possam ser, na atualidade, percebidas como textos racistas ou promotores de preconceito, mas sim a garantia de uma atitude crítica sob uma perspectiva democrática e cidadã capaz de avaliar histórica e culturalmente a obra e sua época, para a construção do conhecimento pela pluralidade de textos e contextos, em que pese a construção de uma sociedade que respeite o seu perfil multicultural e pluriétnico que a constituiu.;

O documento atesta, ainda, que, a exemplo das secretarias estaduais de ensino, a do Distrito Federal cumpre a Lei n; 10.639, de 2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas nos currículos escolares de todo o Sistema de Ensino do Distrito Federal. Além disso, garante que a secretaria tem promovido a formação continuada de professores e criação de documento norteador com orientações pedagógicas sobre o tema.

[SAIBAMAIS]Antonio Costa Neto critica o parecer do conselho por ter liberado a aquisição dessas obras sem determinar regras objetivas nem garantir a formação dos professores para abordá-las em sala de aula. ;O grande problema é que se você recebe um livro ou um material para ser trabalhado você tem que ter a formação;, afirma. ;Só que, na estrutura da educação brasileira, não há essa atividade de avaliação e de acompanhamento das políticas públicas;, completa.

Adversidades
Para o presidente do CEDF, Nilton Alves Ferreira, aceitar o recurso seria o equivalente a censurar obras importantes da literatura brasileira, nesse caso, as de Monteiro Lobato. ;Isso contraria a ampla liberdade de circulação de ideias e do convívio com as adversidades, que deve prevalecer no ambiente escolar;, relata. Sobre a definição de normas para aquisição das obras, Ferreira afirma que não é competência do conselho e que há legislação nacional para coibir a publicação de obras com teor racista e punir seus respectivos autores.

O presidente diz ser importante trabalhar as obras dentro do contexto histórico em que foram escritas e defende que o trabalho da Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação (Eape) está cumprindo o papel de formar os educadores do DF e que as questões afro-brasileiras são discutidas com frequência. Ele lembra ainda que essa é a segunda vez que o conselho analisa o tema, a primeira foi em parecer emitido em 2011, e que não pretende voltar a tratar do assunto. ;Como presidente do conselho, eu não aceitarei mais recurso dessa matéria, pois não há mais o que se discutir. Entendo que o assunto está esgotado;, finaliza.

Memória

Em setembro do ano passado o ministro do STF Luiz Fux mediou uma audiência de conciliação entre as partes interessadas. No encontro não foi alcançado um consenso, mas a negociação evoluiu. O Iara desistiu de pedir a proibição da adoção dos livros de Monteiro Lobato. O MEC, por sua vez, informou ter solicitado à editora a inserção de texto que contextualize a obra nos novos exemplares e assegurou que mantém programas de qualificação dos docentes. A entidade, no entanto, considerou as medidas insuficientes, argumentando que o número de professores treinados nas universidades é baixo.