Os xingamentos começaram cedo. Logo nos primeiros anos escolares de Nayara de Souza, ela começou a ouvir piadas dos colegas acerca de seu peso. ;Eu era bem gordinha e muitos chegavam a me humilhar;, conta a menina, hoje, com 14 anos. O bullying sofrido pela adolescente engrossa as estatísticas dos estudantes do 9; ano que ficaram aborrecidos ou magoados após as provocações dos colegas. Segundo a PesquisaNacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Distrito Federal ultrapassa amédia nacional das pessoas com idade entre 13 e 15 anos que se sentiram ofendidos. No Brasil, 20,8% declararam ter sofrido bullying. No DF, são 24,9%.
Hoje, Nayara não se preocupa mais com a brincadeira de maugosto dos colegas,mas lembra que as provocações a deixaram deprimida. ;Fiquei muito triste. Conversei com a minha mãe, e ela foi até a escola. Isso só piorou a situação, porque eles tinham mais um motivo para zombar de mim;, lamentou. Nayara está entre as 18,6% das meninas que passaram por essa situação. Entre os garotos brasilienses, a situação é ainda pior, chega a 32%. ;É comum na escola. Já voltei para casa chateado até com grandes amigos que fizeram brincadeiras de mau gosto;, relata Bruno*, 15 anos, estudante do Centro de Ensino Fundamental 2, no Guará.
Hoje, Nayara não se preocupa mais com a brincadeira de maugosto dos colegas,maslembra que as provocações a deixaram deprimida. ;Fiquei muito triste. Conversei com a minha mãe, e ela foi até a escola. Isso só piorou a situação, porque eles tinham mais um motivo para zombar de mim;, lamentou. Nayara está entre as 18,6% das meninas que passaram por essa situação. Entre os garotos brasilienses, a situação é ainda pior, chega a 32%. ;É comum na escola. Já voltei para casa chateado até com grandes amigos que fizeram brincadeiras de mau gosto;, relata Bruno*, 15 anos, estudante do Centro de Ensino Fundamental 2, no Guará.
A especialista lembra que essa prática, com números altos no DF pode causar os mais variados problemas, desde o desinteresse pela escola e pela continuidade dos estudos, até a depressão e o suicídio.;Tudoisso varia, depende se a pessoa tem algum apoio em casa, se o bullying é recorrente. Dependendo da forma como acontece, pode influenciar na autoestima do cidadão e na competência para ingressar no mercado de trabalho;, ressaltou Lívia.
Cautela
O professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Áderson Costa, no entanto, acredita que não é possível fazer uma análise sobre o fato de o Distrito Federal apresentar um número maior do que amédia nacional, pois cada escola revela um contexto diferente. ;Duas escolas na mesma Regional de Ensino podem ter dados completamente distintos;, ponderou. Para ele, a discussão deve ser sobre outro prisma.; Temos depensar, enquanto professores, pais e usuários do sistema de educação público e privado, que o nosso comportamento deve priorizar as relações interpessoais. Devemos evitar reações que causem danos físicos e psicológicos ao indivíduo;, analisou.
O especialista ressalta que as pessoas devem ser capazes de perceber as diferenças e respeitálas dentro das normas convencionais. ;Se as escolas, emvez de estarem discutindo bullying, se interessassem em fomentar discussões em torno da ética e das normas de boa convivência, certamente, essas estatísticas (do levantamento do IBGE) seriam menores;, complementou Áderson Costa.
Risco a caminho da escola
Nem só os xingamentos dos colegas preocupam os estudantes. Chegar até a escola também é motivo para os adolescentes se prepararem e pedirem o auxílio de pais e amigos para não percorrerem o caminho sozinhos. No DF, 6,9% dos alunos deixaram de ir à instituição de ensino na qual estudam por falta de segurança no trajeto entre o colégio e a casa. O percentual de insegurança quase dobra quando se trata do percurso até as instituições públicas, de 10,7% de faltas.
Embora a média seja maior no Brasil;de 13,2% para instituições do governo e 8,8% no trajeto-escola no geral ;, o crescimento do número de pessoas que deixaram de ir às aulas por se sentirem inseguras no caminho, de 5,3% para
6,9%, revela o crescimento no número de estudantes afetados. Para o coordenador executivo do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Distrito Federal (Cedeca-DF), Vítor Alencar, a sociedade tem a percepção do aumento da violência, e o colégio não está imune à criminalidade.
Sucateamento
O especialista se mostra mais preocupado com a incapacidade de as instituições de ensino lidarem com a insegurança na própria área interna. ;Percebemos que as escolas lidam com os conflitos como casos de polícia, quando, na verdade, os problemas não podem ser resolvidos apenas na delegacia;, afirmou. Para ele, isso acontece porque o sistema educacional não acompanhou as mudanças na sociedade, como o acesso mais fácil a drogas, a armas e a tecnologias. ;É um sintoma do sucateamento da educação pública. O processo de ensino desconsidera os fenômenos recentes, e os profissionais não estão preparados para lidar com isso;, disse.
Mylena dos Santos, 14 anos, mora na Estrutural e não segue sozinha para o local onde estuda. Ela tem medo de passar pelos becos nos quais vê pessoas fumando maconha ou utilizando outras drogas. ;Uma amiga minha já foi assaltada quando se dirigia à escola, por isso, tomo muito cuidado. Sempre caminho com uma amiga observando tudo que está ao meu redor;, detalhou.