Respeito ao próximo e às diferenças. Com o objetivo de plantar essa sementinha, a equipe de professores do Centro de Ensino Fundamental (CEF) da 306 Norte mobilizou alunos, pais e comunidade para conhecerem a fundo a cultura negra do Brasil. Inspirados pelo Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro (leia Para saber mais), alunos e professores produziram a 1; Mostra de Cultura Afro-brasileira, com oficinas de arte, grupos de trabalho e uma exposição com informações sobre literatura, esporte, religião, música e estilo afrodescendente.
A ideia de realizar a mostra surgiu no ano passado, após uma das professoras da unidade de ensino ganhar o segundo lugar em um concurso de redação ; o tema era Conscientizar para emancipar. ;Ela me contou que o desejo dela era trazer esse debate para a escola e fazer um grande trabalho;, lembra a diretora do CEF da 306 Norte, Ana Paula Salim.
Cada turma recebeu um assunto, e os alunos se dedicaram ao projeto. Fizeram cartazes, pintaram quadros e bonecos e estudaram para explicar o significado de cada trabalho. ;Uma mãe me perguntou como eu, referindo-se à minha pele, que é branca, poderia estar envolvida com uma causa negra. Aqui, nós abraçamos a causa e queremos uma galera mais consciente com o corpo e com a mente. E não só quanto à cultura negra, porque exercícios como esse envolvem de tudo um pouco;, disse Ana Paula.
A cultura de grupos étnicos do oeste africano foi o tema trabalhado com os pequenos. As turmas do 1; ao 5; ano elaboraram trabalhos com base no livro Obax, de André Neves, premiado autor de livros infantojuvenis. O escritor conta, por meio de uma menina africana, as dificuldades de viver na savana, mas sem deixar a alegria de lado. ;Percebemos o preconceito pela fala das crianças, dos adolescentes e da família desses meninos. Tínhamos a necessidade de abrir o assunto e envolver todos eles;, afirmou a idealizadora da iniciativa, Marly Cortes. Professora de ética há dois anos no centro de ensino, a educadora quer recontar a história do negro de uma forma diferente. ;Mostrar o negro não como alguém inferior, mas como quem foi escravizado, deu a volta por cima e venceu.;
Diferenças
Na turma do 6; ano, os alunos mergulharam na arte africana. Victoria Santiago e Larissa Santarém, ambas de 11 anos, descobriram que as riquezas do continente vão muito além da fauna e da flora. ;Achamos umas esculturas muito legais e diferentes, e a gente aprende que ser diferente é bom. Além disso, é importante conviver com as outras pessoas;, disse Victoria. Larissa quer contar aos amigos que o português não é falado apenas no Brasil. ;Não só aqui falamos assim, lá, também. O diferente também é bonito.;
A professora delas, Ana Maria Balan Buess, ficou impressionada com o interesse em sala de aula. ;Eles trouxeram coisas de casa, acharam revistas que nem eu sabia, e a discussão que o Estatuto da Igualdade gerou foi muito legal;, avaliou. Curiosos em relação ao universo negro, os alunos do 7; ano descobriram as plantas, muitas medicinais, da África. ;Eu não sabia que boldo e arruda eram plantas de lá. Aprendi com o trabalho e achei bom porque posso precisar no futuro;, argumentou Elisa Moraes Gonçalves, 12 anos. ;A África não é só animal e pobreza. Tem muitas coisas boas, ricas e interessantes para descobrir;, afirmou Marcos Willian Pereira da Silva, também 12.
Para saber mais
Data de
reflexão
O Dia da Consciência Negra serve para refletir sobre a integração dos afrodescendentes na sociedade brasileira. A data coincide com a morte do último líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, em 1695. Os quilombos eram comunidades isoladas, na Serra da Barriga, para onde os negros fugiam do terror da escravidão. O local chegou a abrigar 20 mil habitantes. Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, dando aos negros o direito de ir embora das fazendas onde trabalhavam ou continuar vivendo com os patrões, como empregados. Porém, não como escravos.