postado em 04/12/2013 14:00
Mesmo com a maior evolução em matemática entre as 65 nações que participam do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), o Brasil segue na lanterna do ranking divulgado ontem. A nota na disciplina saiu de 356 para 391, entre 2003 e 2012, mas a classificação ainda é pífia: 58; posição. Essa posição coloca o país atrás de Cazaquistão, México e Costa Rica, por exemplo, na prova aplicada pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE). Até o Distrito Federal, melhor unidade da Federação em matemática no Brasil, se fosse um país não ficaria bem na lista. A capital estaria entre as 52; e 53; colocações. Em ciências e leitura, as outras duas áreas avaliadas no exame, o país também segue entre os 10 piores do grupo.O Pisa, aplicado a cada três anos a estudantes de escolas públicas e particulares escolhidas aleatoriamente, teve a maior concentração de perguntas em matemática (65% das questões) na edição de 2012, cujos resultados foram divulgados ontem. Entre as conclusões do Pisa, está a hipótese de que o desenvolvimento socioecônomico é um fator decisivo na qualidade da educação e que o país tem tido dificuldades em romper essa barreira. Enquanto o índice médio da OCDE para o número de jovens pobres que conseguiram um desempenho satisfatório na prova foi de 6,5%, no Brasil, essa proporção cai para 1,9%.
O coordenador da campanha nacional Educação para Todos, Daniel Cara, é enfático ao avaliar que os avanços nas médias não devem ser motivo de muita comemoração. Na opinião de Cara, a evolução acontece porque é mais fácil sair de uma situação ruim para uma menos pior. ;Isso significa que, como o Brasil está muito atrasado, a tendência é que ele melhore mais do que os outros. Essa consideração não pode levar a nenhum ufanismo, o Brasil não tem como hastear a bandeira e dizer que as coisas estão indo bem, porque não estão.;
Para a gerente de projetos da organização da sociedade civil Todos Pela Educação, Andreia Bergamaschi, a evolução mantida pelo Brasil ao longo dos anos deve ser considerada. ;Saímos de uma situação no sistema para poucas crianças na escola para praticamente universalização e não diminuímos a média;, destaca Andreia.
Ambos especialistas concordam que é necessário investir na didática e valorizar os professores, como oferecer melhores remunerações. Para eles, os docentes devem saber trabalhar com situações adversas e com o jovem de hoje, diferente do de décadas atrás. Para Cara, o Brasil tem se destacado nos anos iniciais do ensino fundamental, mas os anos finais dessa etapa e o ensino médio estão sendo deixados de lado, sem o investimento e a atenção necessárias. ;Temos problemas na qualidade da formação dos professores. E os melhores professores são atraídos por outras vagas no mercado. Isso quando não saem da rede pública para a particular;, avalia.
Entre os alunos brasileiros de 767 escolas avaliados em matemática, 67,1% têm conhecimentos baixos, o que significa que eles sabem somar, dividir, multiplicar e subtrair, mas não fazem as operações complexas. Somente 1% exibem conhecimentos avançados. O país (58; posição) está muito distante de nações desenvolvidas, como Estados Unidos (36;) e Reino Unido (26;).
Já em leitura, em que está a melhor média brasileira, 49,2% tiveram desempenho no nível 2, considerado básico. Em ciência, a grande parte, 61%, não consegue um nível considerado bom na disciplina. A avaliação também apontou que, a cada três alunos, cerca de um já repetiu um ano no ensino fundamental ou médio. Essa foi uma das maiores taxas de repetência do Pisa. Entre 2003 e 2012, esse índice diminuiu, mas ainda é considerado alto.
Na avaliação do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, embora o índice ainda mostre o Brasil mal posicionado internacionalmente, o avanço deve ser comemorado. ;A nossa fotografia ainda não é boa e não temos que nos acomodar com isso, mas o nosso filme é muito bom. Quando olhamos o filme, somos o primeiro da sala;, disse. Ele justifica a baixa colocação mencionando o baixo investimento que o Brasil faz por estudante ; um terço do aplicado pelos países da OCDE em média.
O ministro também ressaltou que o Brasil foi o segundo país que mais incluiu alunos na rede pública de ensino ; 420 mil estudantes a mais entre 2003 e 2012 ; e mesmo assim não diminuiu a pontuação no Pisa. Sobre o ranking, Mercadante ponderou que as amostras representadas de outros países são diferentes. No caso do Brasil, cerca de 18 mil alunos foram avaliados em 767 escolas. ;Na China, foram 50 escolas. Isso os coloca numa posição muito confortável;, completou.