Valorizar as características físicas individuais e melhorar a autoestima dos estudantes a partir do conhecimento e reconhecimento das raízes culturais africanas é proposta contida em projeto da arte-educadora Márcia Maria da Cunha. O trabalho, desenvolvido com turmas de educação infantil da Escola Municipal Santa Maria, em Camaragibe, município da região metropolitana de Recife, foi inspirado na observação de que o cabelo de sua pequena sobrinha era visto e tratado como um cabelo ;rebelde;, que deveria permanecer preso. Isso acontecia também com outras crianças de cabelos crespos ou cacheados.
O projeto Construindo Caminhos: Identidade e Autoestima nos Fios do Cabelo foi um dos vencedores da sétima edição do Prêmio Professores do Brasil, na Categoria Temas Livres, subcategoria Educação Infantil. ;A premiação representa o reconhecimento e a valorização do trabalho como professora;, diz Márcia. ;Um dos benefícios é o de mostrar que o professor da escola pública é competente, que tem um olhar sensível e mais próximo das questões sociais do Brasil.;
De acordo com a professora, o educador pode e deve promover experiências e vivências significativas. ;É nas primeiras idades que a criança começa a formar as bases psicológicas, valores e relações morais e sociais entre outros pilares do ser;, afirma. Em sua visão, a influência do ;belo;, que chega às crianças de forma direta ou indireta pelos meios de comunicação de massa, as leva a buscar um padrão de beleza quase único, massificado no cabelo liso, o que muitas vezes ocasiona o descontentamento com as características físicas individuais e a baixa autoestima, dentre outros transtornos.
Desenvolvido no primeiro semestre deste ano, com aulas expositivas, apreciações visuais, audições, práticas artísticas e jogos, o projeto resultou em mudanças de comportamento e atitudes dos estudantes. Posto em prática durante as aulas semanais de arte-educação, teve início com aula sobre o elemento linha. Após sondagem inicial sobre o que os estudantes conheciam como linha, a professora mostrou retas e curvas e repassou noções de espessura, com representações gráficas.
Fios
O segundo passo foi a identificação da linha no corpo humano, a partir de uma relação com os fios de cabelo. Os alunos observaram o cabelo dos colegas de sala e desenharam os fios próprios e dos familiares. A partir de fotos visualizadas em computador, identificaram e desenharam os diversos tipos de fios. A professora fez os alunos ouvirem a música Fuá, de Jana Figarella, e lerem as histórias infantis O Cabelo de Lelê, de Valeria Belém, e As Tranças de Bintou, de Sylviane A. Diouf. Isso para desenvolver temas sobre respeito à diversidade, conceito de beleza e origens africanas. Além de desenhos sobre elementos das histórias, os alunos confeccionaram, com massa de modelar, miniaturas de cabeças e seus penteados.
Em uma das aulas, as crianças fizeram penteados diversos, com uso de cremes, fivelas e outros adereços. Em outra, modelaram fios, ao gosto de cada uma, com papel crepom de cores variadas. ;Esperamos que esse projeto deixe sementes e construa caminhos na vida das crianças;, salienta Márcia Maria, que pretende dar continuidade ao trabalho em 2014, pois entende que é um projeto não só para a escola, mas para a vida. Há 16 anos no magistério, ela tem licenciatura em educação artística e especialização em história das artes e das religiões.
Assessoria de Comunicação/ Ministério da Educação