postado em 07/04/2014 19:52
Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apontou que mais de 70% dos estudantes estão insatisfeitos com o nível de ruído em sala de aula. Os dados foram baseados em relatos de 670 estudantes entre 6 e 14 anos e 126 professores de escolas municipais, estaduais e particulares de Campinas. A investigação constatou ainda que, para 99,2% destas crianças e adolescentes, as maiores fontes de barulho na escola são os próprios colegas.
O diagnóstico foi desenvolvido pela fonoaudióloga Keila Alessandra Baraldi Knobel para pós-doutoramento junto ao Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação (Cepre) %u201CProf. Dr. Gabriel Porto%u201D da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp. O objetivo é desenvolver um programa para a diminuição do ruído e a prevenção da perda auditiva em crianças e adolescentes.
%u201CRealizei um levantamento, conversando individualmente com todos estes estudantes, para traçar um perfil sobre suas preferências e seus hábitos auditivos dentro e fora da escola. Concluímos que, embora a acústica da sala de aula agrave o ruído, o grande problema é o barulho produzido pelos próprios alunos. E o surpreendente foi que, quando questionados sobre os responsáveis pelos ruídos, a resposta era sempre %u2018os muleque%u2019, indicando que a maioria desses jovens não tem consciência sobre seu papel na produção da poluição sonora%u201D, aponta.
A fonoaudióloga explica que é preciso levar em conta a gravidade do problema para uma intervenção, e que a somatória de ruídos ao longo dos anos pode provocar a perda auditiva. %u201CEm curto prazo, o ruído na sala de aula afeta o aprendizado e a qualidade de vida destes estudantes, com relatos de cansaço, estresse, dor de cabeça e dor de ouvido. Já em longo prazo, o barulho intenso e constante pode causar a perda auditiva irreversível%u201D, alerta.
Quando questionados sobre suas participações na geração do ruído em sala de aula, apenas 22,1% dos alunos admitiram também fazer barulho. Outros 34,8% disseram fazer barulho às vezes, justificando suas razões, como %u201Cquando outras crianças conversam, eu fico com vontade de conversar%u201D, %u201Ceu converso, mas só depois que acabo minha lição%u201D, %u201Ceu converso, mas eu falo baixo, os outros falam alto%u201D, %u201Ceu converso, mas eu paro quando a professora pede.%u201D
Cerca de 60% dos participantes da pesquisa afirmaram que o ruído na escola %u201Catrapalha a fazer a lição%u201D, pois interfere na atenção e concentração. 10,3% relataram que o barulho %u201Catrapalha a entender a professora%u201D; 6,2% disseram ficar com dor de cabeça e 6,5%, com dor de ouvido.
Uma das propostas para a conscientização dos alunos, conforme a fonoaudióloga, é a montagem de aulas conceitos sobre os sons, vibrações, perda auditiva e o quê fazer para se protegerem. A intenção, de acordo com ela, é que alunos e professores discutam a questão do ruído na escola e que eles próprios elaborem um plano de ação a ser seguido por todos.
%u201CO diagnóstico da minha pesquisa não retrata apenas as escolas de Campinas. É um cenário que se repete, com diferenças para mais ou menos em todo país e no exterior. Nos EUA, por exemplo, as queixas são as mesmas. Se a questão da poluição sonora for encarada como ambiental - e é -, torna-se possível mudar%u201D, acredita.