postado em 30/06/2014 19:23
A Copa do Mundo levou setores como hotelaria, comércio e segurança a investir em aulas de inglês para os funcionários e trouxe a constatação de que a língua estrangeira é um problema para a maior parte da população brasileira. Na rede pública, o ensino do idioma enfrenta várias dificuldades. O verbo to be é repetido ano após ano durante a etapa fundamental. Na última série do ensino médio, escolas de algumas regiões preferem focar na leitura. Ainda assim, os estudantes que têm interesse em aprender efetivamente a língua precisam, em geral, procurar cursos especializados.Professores e alunos são categóricos em afirmar que não é possível aprender, no ensino regular, as quatro habilidades da língua ; ouvir, falar, ler e escrever. ;Se eu considerasse somente o que aprendi na escola pública, meu inglês seria muito básico. Hoje eu sei mais pelo meu interesse, por experiências de vida, lendo e vendo filmes em inglês. No ensino fundamental, era um revezamento entre presente simples e passado simples, sempre no to be;, conta Gabriela Oliveira, 16 anos, estudante do Centro de Ensino Médio Taguatinga Norte.
Gabriela pretende fazer ciências contábeis. ;Quero seguir a carreira de auditora. Sei que terei de lidar com documentos em outras línguas;, avalia. Mas não só por motivos profissionais a jovem considera importante ter conhecimentos em inglês. ;Mesmo que a pessoa não goste, se viajar e não souber a língua local, com o inglês pode se virar;, diz. Lucas Magno Viana, 17 anos, estudante do 3; ano do ensino médio no Centro Educacional 1, do Riacho Fundo 2, tem a mesma posição. ;Meu conhecimento em inglês é básico mesmo, porque as aulas são muito básicas. Não dá para aprender muita coisa;, diz. Para ele, seria necessário mais tempo para um aprendizado melhor.
;É muita repetição. E aí o professor cobra o que a gente não sabe, porque ele imagina que no ensino fundamental a gente teve acesso àquele conteúdo;, completa Lucas. Ele também cursa espanhol, mas no Centro Interescolar de Línguas de Brasília (CIL). A escola oferece cursos de línguas estrangeiras modernas no modelo dos cursos especializados e pertence à Secretaria de Educação do Distrito Federal. Lucas não tem o que reclamar do ensino no CIL. ;Lá o professor fala em espanhol comigo. Na escola, eles ensinam inglês falando em português;, compara. No DF, nem todas as regionais de ensino têm um centro desses. Portanto, os estudantes da rede pública da capital se dividem entre os modelos da escola regular e o curso especializado.
Núbia Batista de Souza é professora de inglês, mas desde janeiro assumiu um cargo de direção. Para ela, as dificuldades no exercício da docência da língua começam cedo. ;A relação de livros que a gente tem para escolher já complica porque são todos para quem já tem um conhecimento prévio, o que não acontece entre os alunos;, diz. O primeiro contato com a língua na rede pública é no 6; do ensino fundamental. ;O ideal seria depois da alfabetização em português;, aponta. Da forma como é feito, ela admite: ;As crianças não vão aprender a falar inglês. No máximo o instrumental.;
Programa nacional
O cenário descrito pela professora no DF se repete pelo país, como analisa o professor do Departamento de Letras e Línguas Estrangeiras da Universidade de Brasília (UnB) Gilberto Antunes Shavet. ;Praticamente não há mudanças em outras regiões. Considerando a carga horária disponível, o número de alunos em sala, o nível diferente entre eles, fica um ensino capenga;, avalia.
De acordo com ele, nessas circunstâncias, o mais comum é que os professores optem por focar na compreensão da leitura. ;Mudar é complicado. Uma das melhores experiências é mesmo a do CIL. Houve um tempo em que tínhamos um programa nacional, mas isso também não é bom nesse caso porque algumas regiões não conseguem se adequar;, recorda. Gilberto Shavet acaba por sugerir que os estudantes interessados busquem materiais didáticos por conta própria ou, para os que têm condições, cursos particulares para melhorarem a desenvoltura no inglês.