Cinco alunos de ensino médio de diferentes cidades brasileiras foram para Suceava, na Romênia, e trouxeram para casa uma medalha de prata pela equipe, além de duas medalhas de bronze e três menções honrosas nas provas individuais da 8; Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA, na sigla em inglês). Allan dos Santos Costa, de Bauru (SP), Daniel Charles Heringer Gomes, de Mogi das Cruzes (SP), Daniel Mitsutani, de São Paulo, Pedro Guimarães Martins, de Belo Horizonte (MG), e Felipe Vieira Coimbra, de Teresina (PI), competiram com mais de 170 estudantes de 42 países.
Além de provas de altíssimo nível, a Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica tem uma grande programação que envolve lazer e cultura. Durante 10 dias de viagem, os jovens conhecem pontos turísticos, participam de competições esportivas, oficinas de artes e outras atividades, além de terem contatos com jovens de diversas partes do mundo. As passagens foram custeadas pela OBA, enquanto todos os outros custos da viagem foram bancados pela organização da IOAA.
Para Allan, 17 anos, aluno do 3; ano do ensino médio do Colégio Rembrant COC de Bauru, o resultado foi uma grande surpresa. "Sinceramente, ninguém do time esperava a medalha de prata. Foi um feito inédito. Costumamos ir bem, mas nesse ano fomos muito bem. Houve uma integração muito forte do grupo e um complementava os conhecimentos do outro", conta. Allan participou também da IOAA no ano passado, na Grécia, e da 25; Olimpíada Internacional de Biologia (IBO, na sigla em inglês), na Indonésia, este ano. "As minhas três viagens para o exterior foram por meio de olimpíadas do conhecimento. O mais interessante é a troca de culturas, em que você tem a chance de conversar e de aprender com pessoas de outros países e de explicar sobre o Brasil para elas. É incrível", descreve.
A integração com estrangeiros também foi um ponto alto da viagem para Felipe. ". A Romênia é um país muito diferente e me surpreendeu bastante. Para quem fala inglês, a integração com outros foi muito fácil. Na cerimônia de encerramento, o vice-reitor exaltou, em discurso, como havia russos e ucranianos cantando juntos no ônibus e jovens da Índia e do Paquistão caminhando juntos." Durante os 10 dias, os alunos ficaram completamente isolados. "Nós ficamos numa universidade, e os professores ficaram num hotel. Não podíamos usar celular, nem acessar a internet para garantir a segurança das provas. O bom é que a gente se desgarra dos aparelhos para aproveitar o momento", conta Felipe.
Aos 16 anos, ele é o único da equipe que ainda tem chance de participar da próxima IOAA no ano que vem, por estar ainda no 2; ano do ensino médio no Instituto Dom Barreto, em Teresina (PI) ; colégio particular que ocupa o 8; lugar no ranking nacional de escolas melhores colocadas no Enem de 2012 e o 1; lugar no estado, com uma média de 700,89. Felipe também está participando das seleções para integrar a equipe que representará o Brasil na Olimpíada Internacional de Física e participou de edições brasileiras de olimpíadas de química e matemática também. "Meus pais e a escola toda estão muito orgulhosos do resultado na Romênia. Estou animado para tentar ano que vem de novo", diz. Felipe sentiu que as provas foram diferentes das de anos anteriores. "As questões tinham um foco bem físico e todas as equipes estranharam, mas, para mim, foi uma surpresa até agradável porque eu gosto de física."
Daniel Charles Heringer Gomes, 16 anos, aluno do 3; ano do ensino médio do Colégio Brasilisis em Mogi das Cruzes (SP) sentiu que o nível de dificuldade das provas foi maior neste ano. "Normalmente, cobra-se mais cosmologia e astrofísica, mas nessa prova foram cobrados mais conceitos físicos do que nas outras". Apesar de tamanha concentração, foi possível aproveitar bastante. "Lá, não estávamos estudando porque nos preparamos muito antes, então podemos conhecer bastante da Romênia também", conta. O irmão gêmeo de Daniel, Rafael Charles Heringer Gomes, vai participar da Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA) em outubro, no Uruguai.
Feito histórico
A conquista da medalha de prata pela equipe se traduz no melhor desempenho do Brasil na competição desde que ela foi lançada, em 2007, como explica Eugênio Reis, 48 anos, da comissão organizadora da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). "Ano passado, conseguimos duas medalhas de prata e três de bronze. Agora, conseguimos, pela primeira vez, a prata para a equipe. Foi um bom resultado para o Brasil", comemora. Os planos de sucesso são ainda maiores. "Participamos desde a primeira edição e ainda não temos ouro na competição. Estamos nos preparando para melhorar em quantidade e em nível para conseguir no próximo ano", garante Reis, que é coordenador de educação em ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), unidade de pesquisa do Ministério da Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), localizado no Rio de Janeiro.
Segundo Eugênio, os estudantes que viajaram para a Romênia são um exemplo. "A astronomia perpassa o currículo escolar, mas não é uma cadeira do ensino médio. Esses alunos se destacam porque gostam de estudar, não só astronomia, mas também física, matemática... Esperamos que eles estimulem outros estudantes a tentarem competir. Qualquer um, seja de escola pública ou de escola particular, pode tentar, basta estudar", diz. Reis sabe, porém, que há fortes competidores lá fora. "Essa competição lembra uma maratona. Tem a elite, que faz o pelotão da frente e o pessoal do segundo pelotão. O Brasil está sempre bem posicionado no segundo pelotão. Não competimos ainda no nível de países como Polônia, Irã e Romênia, que estão muito à frente. Essa competição é para ensino médio, mas esse pessoal estuda em nível de pós-graduação", compara.
A seleção
A seleção para participar da Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica é rigorosa, composta por diversas fases. A princípio, os cerca de 800 mil participantes da Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) têm chances de entrar na disputa, mas o número diminui até chegar aos cinco escolhidos. "Os 200 mil que chegaram ao último nível da prova puderam concorrer, mas apenas os 1.265 primeiros foram convidados para se inscreverem numa seleção on-line. Dos convidados, 810 fizeram o cadastro no site. Desses, 643 completaram os testes virtuais. Os 102 melhores colocados na internet foram convidados para fazer uma prova presencial num hotel fazenda em Barra do Piraí (RJ), mas apenas 53 foram, de fato fazer a prova", esclarece Eugênio Reis.
Desse total, foram selecionados os quinze melhores estudantes. "Os cinco primeiros colocados foram convidados para participar da Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica. Os cinco seguintes vão para a Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA), em outubro, no Uruguai. Os últimos cinco ficam como suplentes", esclarece Reis. Depois da seleção, os alunos começam a ser treinados. "Nós indicamos livros, estimulamos que eles façam provas de edições anteriores. Antes da viagem, tivemos dois treinamentos presenciais em Passa Quatro (MG), onde eles fizeram simulados e tiveram aulas com astrônomos e professores."
As fases da IOAA
Prova teórica: teste extenso sobre astronomia e astrofísica
Prova de análise de dados: três questões, em que eram informados alguns dados, enquanto os estudantes tinham que calcular outros dados não fornecidos como distância
Prova de planetário: divididos em grupos, um avaliador apontava para algum objeto no céu e os estudantes deviam responder o nome e a localização do objeto
Prova de equipe: o grupo recebeu materiais como barbante e massa de modelar para responder a uma questõa hipotética sobre um asteróide que iria colidir com a terra
A Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica ao longo dos anos
Edição / Ano / Sede (cidade, país) / Vencedor geral
1; - 2007 - Chiang Mai, Tailândia - Suwun Suwunnarat, da Tailândia
2; - 2008 - Bandung, Indonésia - Nitin Jain, da Índia
3; - 2009 - Teerã, Irã - Nitin Jain, da Índia
4; - 2010 - Pequim, China - Przemys%u0142aw Mróz, da Polônia
5; - 2011 - Chorzów / Katowice / Cracóvia, Polônia - Stanislav Fort, da República Checa
6; - 2012 - Rio de Janeiro / Vassouras, Brasil - Motiejus Valiunas, da Lituânia
7; - 2013 - Vólos, Grécia - Denis Turcu, da Romênia
8; - 2014 - Suceava, Romênia - Denis Turcu, da Romênia
9; - 2015 - Semarang, Indonésia
10; - 2016 - Hungria
11; - 2017 - Mumbai / Pune, Índia
12; - 2018 - Sri Lanka
*As sedes das próximas edições ainda serão confirmadas